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ABUSO POLICIAL
Governo do Rio já sabia desde abril sobre violação de direitos na penitenciária onde comerciante chinês foi agredido
Conselho alertou duas vezes sobre torturas
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O presidente do Conselho da
Comunidade (formado por entidades da sociedade civil para fiscalizar o sistema penitenciário),
Marcelo Freixo, reafirmou ontem
que o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira,
tinha conhecimento desde abril
de que havia "prática de tortura" e
"violação dos direitos humanos"
no presídio Ary Franco, onde o
comerciante chinês naturalizado
brasileiro Chan Kim Chang esteve
preso e teria sido espancado.
Em nota divulgada ontem, o
Conselho informou que entregou
relatórios ao secretário em duas
ocasiões neste ano. O primeiro relatório foi entregue em 1º de abril
e protocolado sob o número E-21/10141/03. Tratava das condições em três prisões do Rio, entre
elas o Ary Franco. No dia 22 de
agosto, três dias antes de Chan ser
detido, foram entregues "dois relatórios de inspeções prisionais
realizadas nos meses de junho e
julho". Segundo a nota, "um desses relatórios tratava da inspeção
no presídio Ary Franco".
A nota foi assinada por 11 conselheiros que afirmaram repudiar
"a alegação [do secretário] de não
recebimento do relatório". Anteontem, entrevistado pelo secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, no seu programa radiofônico semanal, Pereira
negou que tivesse conhecimento
do relatório e de suas denúncias.
O conselho divulgou ainda a ata
da reunião, na qual está registrada
a entrega dos relatórios.
Hoje, duas testemunhas devem
depor na Delegacia de Homicídios, que apura o caso. Eles seriam presos que foram transferidos do Ary Franco para outro
presídio na sexta-feira e estão sob
proteção policial. Garotinho disse
ontem estar "convicto que houve
tortura" no caso do comerciante.
"Tenho três convicções. A primeira é que o chinês foi agredido
também pela Polícia Federal, porque temos uma testemunha que
fala isso. A segunda é que não foram as agressões praticadas pela
Polícia Federal que levaram à sua
morte. E, terceiro, que houve,
dentro do presídio, uma situação
inadmissível de tortura, de violência", disse Garotinho.
A Superintendência da Polícia
Federal do Rio não quis comentar
as declarações de Garotinho.
Os seis agentes presos anteontem devem prestar novos esclarecimentos à polícia hoje. A versão
deles é que o chinês se machucou
depois de um surto, no qual teria
se debatido muito e batido a cabeça em um arquivo. "Isso é história
da carochinha. É uma história que
não tem nenhuma sustentação do
ponto de vista policial", disse.
Garotinho defendeu mais uma
vez Pereira. "O secretário não
compactuou em momento algum
com essa situação", disse.
Hoje à tarde, a família do chinês
irá à Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que também investiga a situação da morte de Chan.
Eles vão processar a União.
Chan, 46, foi preso em 25 de
agosto no aeroporto Internacional do Rio pela PF ao tentar deixar
o país com cerca de US$ 30 mil,
sem declará-los à Receita Federal.
No dia seguinte, foi levado para o
presídio Ary Franco. No dia 27,
ele foi encontrado caído no chão,
com várias escoriações pelo corpo. Depois de uma semana internado, morreu de traumatismo
craniano e pneumonia dupla.
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