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ONDA ERRADA
Mãe de surfista, detido sob a acusação de tráfico de drogas, diz acreditar que o filho não será condenado à morte
Preso na Indonésia pede perdão à família
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Uma carta com um pedido de
perdão à família e aos amigos foi o
que o surfista Rodrigo Gularte, 32,
entregou à mãe, Clarisse Muxfeldt
Gularte, 59, ao se despedir dela
em uma prisão de Jacarta, capital
da Indonésia, onde espera julgamento pela acusação de tráfico internacional de drogas.
A carta, porém, não é uma despedida. O surfista diz querer
"compensar o sofrimento de todos", "voltando pra casa" depois
de cumprir a sua pena.
Gularte foi preso em 31 de julho
no aeroporto de Jacarta, acusado
de transportar 6 kg de cocaína em
pranchas, e pode ser condenado à
morte. A lei indonésia prevê morte por fuzilamento como pena
máxima a condenados por tráfico
de drogas.
Foi um neto de 16 anos de Clarisse Gularte que, navegando na
internet, descobriu ter sido o filho
dela o surfista brasileiro que havia
sido preso na Indonésia dias antes, sob acusação de tráfico internacional de drogas.
Até então, relata ela, tinha lido
notas em jornais sobre um "paulista" detido em Jacarta, mas jamais relacionara o caso ao filho.
O último brasileiro a ser condenado à morte por tráfico na Indonésia, em junho, foi o instrutor de
vôo livre Marco Archer Cardoso
Moreira, 42. Ele recorreu à Corte
Superior e o julgamento dos recursos pode durar até dois anos.
De volta a Curitiba -onde mora- após 18 dias visitando diariamente o filho na prisão, Clarisse
Gularte se disse "mais tranqüila e
confiante" de que, "mesmo demorando", ele vai "voltar a viver
junto da família". Ela chegou ao
Brasil no dia 2. Ontem, na entrevista, só chorou quando leu a carta que trouxe do filho. Ela não autorizou a publicação na íntegra.
A seguir, trechos da entrevista,
que teve participação de sua sobrinha, Angelita Muxfeldt, 39, que
a acompanhou na viagem.
Folha - Como foi o primeiro encontro na prisão?
Clarisse Muxfeldt Gularte - De
muita emoção. Ele estava na expectativa de que alguém da família fosse vê-lo, mas, quando a gente chegou, foi muita emoção. Ao
mesmo tempo, a gente se tranqüilizou ao ver que ele está bem, forte, se apegando muito a Deus. Ele
é católico, está freqüentando missa aos domingos na prisão.
Folha - Ele já era religioso?
Gularte - Já. E agora muito mais,
pois está muito só...
Angelita Muxfeldt - Ele está
aprendendo a língua local também. São poucos os que falam inglês na prisão e, como ele sabe que
pode demorar para sair, está disposto a aprender.
Folha - O que ele disse à sra.
quando a viu?
Gularte - Que estava feliz em ver
a mim e a Angelita e que ama demais a mim e a todos.
Folha - Como foi reencontrar seu
filho tão longe, em uma prisão?
Gularte - Muito triste pelos motivos, mas, ao mesmo tempo, encontrá-lo me deixou mais tranqüila. Antes de ir, eu me preocupava principalmente com o emocional dele. Mas, dentro do possível, ele está bem. Muito envergonhado, está triste, mas ficou muito contente porque a gente foi
confortá-lo e repetia sempre que
trouxéssemos essa imagem, de
que está fortificado e com Deus.
Folha - Ele assumiu para a sra. a
culpa pela droga?
Gularte - Assumiu. Tanto que livrou os outros dois de culpa...
Muxfeldt - A gente não sabe como estava a cabeça dele nessa hora. Parece que ele não estava muito consciente do problema.
Folha - Mas sabia que a Indonésia
tem lei que reprime o tráfico com a
pena de morte?
Gularte - Não sei, porque parece
que ele foi envolvido por um
turbilhão.
Muxfeldt - Acreditamos que ele
se envolveu em amizades duvidosas, se embolou numa onda e foi.
Pareceu-nos que ia caindo a ficha
para ele a cada dia que o visitávamos. Ele não sabia que a notícia
nos chegou pela imprensa, pediu
para ver os recortes dos jornais.
(...) Quando leu, pediu perdão,
muito perdão, e chorou muito.
Folha - A sra. pensa na hipótese
de ele ser condenado à morte?
Gularte - Em momento nenhum
deixei de ter fé que ele não será
condenado à morte. Isso para
mim não existe. Tenho a esperança de recuperá-lo algum dia. Mesmo passando muito tempo, depois desse turbilhão e dessa tragédia que aconteceu em nossas vidas, acredito que ele possa voltar
para junto de nós.
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