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Adolescentes expõem corpos em fotologs na busca da fama virtual
Garotas de 14 a 17 anos fazem poses sensuais para atrair visitantes para suas
páginas
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas querem chamar a atenção. Para isso, vale mostrar os
seios, beijar a amiga na boca, fazer poses sensuais. Adolescentes, na maioria entre 14 e 17
anos, cada vez mais garotas se
autofotografam e expõem seus
corpos nos próprios fotologs
(espécie de álbum virtual).
Sem nenhuma vergonha, tiram fotos com decotes e olhares provocantes, de lingerie entre lençóis ou se agarrando com
amigas, que podem ser vistas
por quem quiser em qualquer
parte do mundo. Bastam alguns
cliques na internet.
O vício, como elas mesmas
definem, faz parte da vida de
boa parte de jovens de classe
média. Com uma câmera digital, chegam a postar até 15 fotos
por dia em suas páginas virtuais e ficam torcendo para que
admiradores vejam as imagens.
Quanto mais gente acessar o fotolog, mais famosas se tornam.
A fama no mundo da net é tão
sedutora quanto a da vida real.
Donos de fotologs famosos chegam a ter fã-clubes e tudo o que
fazem, ou dizem, vira moda.
"Em uma época na qual as celebridades são valorizadas pelo
seus corpos, é difícil convencer
uma menina a não se expor",
diz o psiquiatra da Unifesp Geraldo Possendoro, professor de
terapia cognitivo-comportamental. "A vaidade natural dessa faixa etária é potencializada
pelo contexto atual, pelo que é
veiculado na TV. A internet facilita a exposição."
Não existem números oficiais de fotologs no Brasil, mas
um dos endereços que hospedam as páginas pessoais tinha
ontem 2.967.147 álbuns (sendo
que 4.117 foram criados ontem
mesmo), com 64.684.793 fotos.
Geralmente, as páginas exibem
uma foto grande e três ou quatro menores nas laterais, além
de um link que dá acesso às
imagens antigas. O dono do fotolog pode fazer comentários
sobre as fotografias e tem um
espaço reservado para falar
mais sobre sua vida.
Em uma das páginas, onde
aparece de lingerie com closes
dos seios e na barriga, a garota
de 15 anos se descreve como
"sexy e única" no seu perfil. Em
outra, uma de 16 anos aparece
de biquíni com as pernas abertas e fazendo beicinho. Diz que
gosta de "tirar uma onda dos
homens". Uma terceira página
mostra os seios de uma menina
de 14 anos. A jovem pede aos internautas que adicionem seu
fotolog ajudando-a, assim, a se
tornar mais popular.
As fotografias mais picantes
nessas páginas não são maioria.
Estão lá para atrair visitantes,
são as chamadas "fotos de visita". As outras imagens mostram a vida normal das meninas: retratos com a turma, na
escola, em shoppings, na praia e
até na aula de balé. Não são garotas de programa, são meninas que querem "aparecer".
"A mulher, por natureza, gosta de chamar a atenção. É vaidosa e tem orgulho de exibir o
corpo", diz Maria Helena Vilela, presidente do Instituto Kaplan - Centro de Estudos da Sexualidade Humana. "Na adolescência, essa necessidade de
se mostrar aumenta, pois a garota quer se sentir popular e
aceita pelo grupo. Muitas vezes,
só põe esse tipo de foto porque
as amigas colocaram. Os pais
precisam conversar, e não proibir, para saber o que a filha quer
com esse comportamento."
Filósofo formado pela PUC-RS e praticante da filosofia clínica, Lúcio Packter diz que, ao
atender jovens, percebe que
muitos se exibem sem ter dimensão da exposição. "Hoje
não há mais separação nítida
entre o privado e o público, e
eles ainda não têm ciência de
como usar o computador."
Para Suely Gevertz, psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae, apesar de parecer, os jovens hoje não amadurecem
mais cedo. "Continuam imaturos emocionalmente e sexualmente. Fazem a exposição pela
exposição." Criticado há 15
anos por clicar ninfetas em poses ousadas para o livro "Anjos
Proibidos", o fotógrafo Fabio
Cabral diz que as meninas querem se mostrar por saber que
essa é uma forma garantida de
sucesso. "A mídia incentiva o
culto à autoprojeção e a garota
acha que mostrar o corpo é sua
salvação para ficar famosa", diz.
"Na época do livro, a sociedade
hipócrita fez um escândalo.
Hoje, não olha para o que ocorre dentro de casa."
Na Delegacia de Crimes Eletrônicos da polícia paulista, dos
1.300 inquéritos, cerca de 60%
se referem a crimes contra a
honra, praticados em sua grande maioria por pessoas que manipularam fotos de mulheres,
veiculadas na internet. Segundo o delegado Plínio Sales, é comum haver denúncias de difamação ou injúria por parte de
usuários de fotologs. "Eles se
esquecem que as fotos ficam à
disposição de qualquer um."
Nenhum fotolog concedeu entrevista à Folha.
Na Delegacia de Crimes Eletrônicos do Departamento de
Investigação sobre o Crime Organizado da polícia paulista,
dos 1.300 inquéritos, cerca de
60% se referem a crimes contra
a honra, praticados em sua
grande maioria por pessoas que
manipularam fotos de mulheres, veiculadas na internet.
Segundo o delegado Plínio
Sales, é comum haver denúncias de difamação ou injúria
por parte de usuários de fotologs. "Eles se esquecem que as
fotos ficam à disposição de
qualquer." Promotor da infância e juventude, Motauri Ciochetti de Souza diz que é difícil
punir alguém que coloca as
próprias fotos na internet.
"Mesmo sendo menor e estando em poses sensuais, a punição só irá ocorrer se a foto for
muito agressiva." Nesse caso,
os pais podem até perder o pátrio poder e, os provedores, serem penalizados por veicular
fotos de menores em situações
pornográficas. "Mas a linha entre o que é erótico e o que é apenas sensual é muito sutil e depende da interpretação de cada
juiz", afirma. "O melhor é os
pais ficarem atentos para evitar
problemas maiores." Nenhum
fotolog respondeu aos pedidos
de entrevista feito pela Folha.
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