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Cortar enxofre faz diesel poluir 60% menos
Pesquisa revela impacto do enxofre na poluição provocada pelo combustível; redução, porém, deve demorar para ocorrer no país
Brasil tem meta de restringir uso da substância no diesel a partir de 2009, mas ambientalistas duvidam que o prazo seja cumprido
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A simples troca do diesel com
teor de 500 ppm (partes por
milhão) de enxofre por 50 ppm
diminui em 60% as emissões de
material particulado (poluentes) para a atmosfera. É o que
mostra pesquisa realizada em
ônibus de São Paulo num convênio entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT),
Fundação Hewlett e SPTrans.
Investir na qualidade do diesel, além de reduzir a poluição
atmosférica, leva à diminuição
dos casos de doença e morte relacionadas ao problema. A alta
concentração de material particulado no ar causa e agrava
doenças respiratórias e cardiovasculares. Quanto menor a
partícula, mais ela atinge as
partes profundas do aparelho
respiratório.
A mudança no diesel, entretanto, está longe da realidade
atual do país. Uma resolução do
Conselho Nacional de Meio
Ambiente prevê uma maior
restrição das emissões de poluentes por veículos em 2009
-para isso, é preciso seguir o
exemplo da Europa e diminuir
o teor de enxofre para 50 ppm.
Hoje, o teor de enxofre é de 500
ppm nas regiões metropolitanas do Brasil e 2.000 ppm no
interior e áreas rurais.
Segundo Ferreira, os Estados
Unidos já possuem diesel com
15 ppm e o Japão, com 10 ppm.
Ambientalistas e profissionais ouvidos pela Folha consideram que dificilmente a meta
será cumprida no prazo. O motivo, de acordo com eles, é a demora da ANP (Agência Nacional do Petróleo) em regulamentar o novo tipo de diesel
aliada à falta de investimentos
da Petrobras para adequar o
combustível.
O diretor de abastecimento
da Petrobras, Paulo Roberto
Costa, disse no mês passado
que o diesel produzido a partir
de 2012 terá 50 ppm de enxofre. A empresa afirmou ontem,
em nota, que o diesel com 500
ppm será distribuído a todo o
país (em substituição ao diesel
de 2.000 ppm do interior e
áreas rurais) apenas em 2013.
Crime
Para o ambientalista e ex-deputado federal Fabio Feldman,
é a primeira vez nos 20 anos de
Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) que um
prazo não será cumprido.
"É um crime. Estamos verificando a possibilidade de entrar
na Justiça para responsabilizar
a ANP e a Petrobras e cobrar indenização por eventuais danos
à saúde", disse.
O médico Marcos Abdo Arbex, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, diz
que o enxofre traz graves conseqüências à saúde.
"Uma pesquisa do laboratório mostra que o aumento de 10
microgramas por metro cúbico
de dióxido de enxofre no ar está
relacionado ao aumento de 13%
da mortalidade de crianças e de
4% a 6% da mortalidade em
adultos", diz.
Oded Grajew, do Movimento
Nossa São Paulo, considera que
se não houver redução de enxofre no diesel continuarão a
ocorrer mortes que seriam evitáveis. O movimento fará na
próxima quarta uma discussão
sobre a redução da toxicidade
do diesel fabricado e comercializado no Brasil. Para a entidade, a ANP tem protelado "irresponsavelmente e inexplicavelmente" os procedimentos necessários para a entrada em vigor desta resolução.
A reportagem tentou ouvir a
Anfavea (Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos
Automotores), mas não houve
resposta à solicitação.
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