São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cortar enxofre faz diesel poluir 60% menos

Pesquisa revela impacto do enxofre na poluição provocada pelo combustível; redução, porém, deve demorar para ocorrer no país

Brasil tem meta de restringir uso da substância no diesel a partir de 2009, mas ambientalistas duvidam que o prazo seja cumprido

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

A simples troca do diesel com teor de 500 ppm (partes por milhão) de enxofre por 50 ppm diminui em 60% as emissões de material particulado (poluentes) para a atmosfera. É o que mostra pesquisa realizada em ônibus de São Paulo num convênio entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Fundação Hewlett e SPTrans.
Investir na qualidade do diesel, além de reduzir a poluição atmosférica, leva à diminuição dos casos de doença e morte relacionadas ao problema. A alta concentração de material particulado no ar causa e agrava doenças respiratórias e cardiovasculares. Quanto menor a partícula, mais ela atinge as partes profundas do aparelho respiratório.
A mudança no diesel, entretanto, está longe da realidade atual do país. Uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente prevê uma maior restrição das emissões de poluentes por veículos em 2009 -para isso, é preciso seguir o exemplo da Europa e diminuir o teor de enxofre para 50 ppm. Hoje, o teor de enxofre é de 500 ppm nas regiões metropolitanas do Brasil e 2.000 ppm no interior e áreas rurais.
Segundo Ferreira, os Estados Unidos já possuem diesel com 15 ppm e o Japão, com 10 ppm.
Ambientalistas e profissionais ouvidos pela Folha consideram que dificilmente a meta será cumprida no prazo. O motivo, de acordo com eles, é a demora da ANP (Agência Nacional do Petróleo) em regulamentar o novo tipo de diesel aliada à falta de investimentos da Petrobras para adequar o combustível.
O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse no mês passado que o diesel produzido a partir de 2012 terá 50 ppm de enxofre. A empresa afirmou ontem, em nota, que o diesel com 500 ppm será distribuído a todo o país (em substituição ao diesel de 2.000 ppm do interior e áreas rurais) apenas em 2013.

Crime
Para o ambientalista e ex-deputado federal Fabio Feldman, é a primeira vez nos 20 anos de Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) que um prazo não será cumprido.
"É um crime. Estamos verificando a possibilidade de entrar na Justiça para responsabilizar a ANP e a Petrobras e cobrar indenização por eventuais danos à saúde", disse.
O médico Marcos Abdo Arbex, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, diz que o enxofre traz graves conseqüências à saúde.
"Uma pesquisa do laboratório mostra que o aumento de 10 microgramas por metro cúbico de dióxido de enxofre no ar está relacionado ao aumento de 13% da mortalidade de crianças e de 4% a 6% da mortalidade em adultos", diz.
Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo, considera que se não houver redução de enxofre no diesel continuarão a ocorrer mortes que seriam evitáveis. O movimento fará na próxima quarta uma discussão sobre a redução da toxicidade do diesel fabricado e comercializado no Brasil. Para a entidade, a ANP tem protelado "irresponsavelmente e inexplicavelmente" os procedimentos necessários para a entrada em vigor desta resolução.
A reportagem tentou ouvir a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), mas não houve resposta à solicitação.


Texto Anterior: Desastre da TAM: Vítima diz que não esperava sobreviver
Próximo Texto: Petrobras diz que investe em diesel menos poluente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.