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EDUCAÇÃO
Em ranking de 38 países, docentes brasileiros têm o terceiro pior salário; falta de valorização gera desinteresse pela profissão
Para Unesco, Brasil paga pouco a professor
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O salário médio do professor
brasileiro em início de carreira é o
terceiro mais baixo em um total
de 38 países desenvolvidos e em
desenvolvimento comparados
em um estudo da Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura)
divulgado no sábado em Paris.
Segundo o estudo, apenas Peru
e Indonésia pagam salários menores a seus professores no ensino primário -que equivale a 1ª à
6ª série do ensino fundamental-
do que o Brasil. O salário anual
médio de um professor na Indonésia é US$ 1.624. No Peru, esse
valor chega a US$ 4.752. No Brasil
é de US$ 4.818. O valor no Brasil é
metade do encontrado nos vizinhos Uruguai (US$ 9.842) e Argentina (US$ 9.857) e muito abaixo da média dos países desenvolvidos, onde o maior salário nesse
nível de ensino foi encontrado na
Suíça (US$ 33.209).
O resultado do Brasil melhora
um pouco quando se compara os
salários no topo da escala de professores do ensino médio. Nesse
nível de ensino, há sete países que
pagam salários mais baixos do
que o Brasil, em um total de 38.
Para chegar a esses valores, a
Unesco usou 99 como ano para
comparação. Os valores em dólares foram calculados considerando o PPP (sigla em inglês para poder de paridade de compra). Esse
indicador leva em conta o custo
de vida em cada país. Por isso, o
salário em dólar de um professor,
segundo o estudo, não pode simplesmente ser convertido para
real com base na cotação oficial.
"A formação dos educadores é
praticamente feita por eles mesmos. Quem ganha tem de assumir
até três empregos e não pode se
dedicar. Há relação direta entre
salário do professor e desempenho dos alunos", diz Juçara Dutra
Vieira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação. Em São Paulo, o
acúmulo de aulas em escolas públicas chega a 64 aulas semanais.
Os autores do estudo citam como um problema comum em
quase todos os países o aumento
da relação de alunos/professor
em sala de aula. Esse e outros fatores, segundo a Unesco, contribuem para a decadência das condições de trabalho e desencorajam novos professores.
Segundo a Unesco, o estudo
deixa claro que em países em que
as condições de trabalho dos professores são boas, a qualidade da
educação tende a ser melhor.
No caso da relação de alunos/
professor, o estudo citou também
dados de países muito pobres. Em
alguns deles, como Congo, Moçambique e Senegal, a relação
chega a 70 alunos/professor.
Na comparação entre nações
desenvolvidas e em desenvolvimento - o que deixa de fora a
maioria dos países da África e os
mais pobres da Ásia -o Brasil
também tem um resultado muito
inferior à média das demais.
De um total de 43 países onde
foi possível comparar o indicador, o Brasil apresentou a sexta
maior média de alunos/professor
no ensino primário: 28,9.
No ensino médio, o Brasil tem a
maior relação (38,6) na comparação com 33 nações desenvolvidas
e em desenvolvimento.
O número total de países comparados varia conforme o indicador porque alguns deles não têm
estatísticas para comparação.
Segundo o diretor do Fundef
(Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), Ulysses Cidade Semeghini, o MEC tem tentado fazer
com que seja adotado um aumento efetivo nos salários.
O fundo redistribui recursos a
Estados e municípios de acordo
com o número matrículas. Por lei,
60% da verba deve ser gasta com
remuneração de professores.
De acordo com o Fundef, de 98
a 2000, o salário médio nacional
aumentou 30% (no Nordeste,
60%). "Os salários sem dúvida são
baixos. É uma lástima. Mas houve
uma melhora significativa", disse
o diretor do fundo.
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