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DANUZA LEÃO
As dificuldades
Nunca há um equilíbrio;
ou acontecem muitas
coisas ao mesmo tempo
ou não acontece nada
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A VIDA é engraçada. Às vezes está parada, sem acontecer nada em nenhum setor, seja no
pessoal, seja no afetivo, seja no profissional. Mas de repente começam
a surgir coisas (sempre ao mesmo
tempo), e quem estava vivendo um
período de quase felicidade -uma
felicidade morna, é verdade-, começa a se angustiar sem saber o que
deve fazer. Continua tranqüila, calma, numa vida de deliciosa rotina,
ou entra na roda viva? Bem que às
vezes sentia falta de uma coisa mais
trepidante, e sabe que, se topar, o coração vai começar a bater mais forte,
a cabeça a estalar, dormir nem pensar e ficar sem tempo pra nada, mas
nessa hora acha que isso é viver intensamente, e no começo vai até
gostar. Mas às vezes vai lembrar
com saudades dos tempos mais calmos e voltar a ter suas dúvidas,
igualzinho a antes, e vai se perguntar: será que fiz bem?
Nunca há um equilíbrio; ou acontecem muitas coisas ao mesmo tempo ou não acontece rigorosamente
nada, e é você quem tem que escolher se aceita o que a vida oferece (às
vezes) ou diz não; mas pode ser que a
ocasião passe e você volte a viver naquela bendita -bendita?- calmaria, com tempo para pensar na vida,
ficar angustiada, neurótica, deprimida e tomando remédio para dormir. O que fazer, então? Se aconselhar com os amigos, é claro.
O pior é que conselho não adianta.
Dependendo de como é aquele com
quem você se aconselhar, ele vai dizer para ir em uma direção ou na
oposta, e, no final das contas, quem
vai ter que decidir é você mesma. Está aí o exemplo de Lula, que não me
deixa mentir. Quantos terão dito a
ele para ir ao debate? Quantos terão
dito para não ir? Cada um tem que
tomar suas próprias decisões, usando bom senso e equilíbrio; muito fácil de falar, mas seja qual for o assunto, seja qual for sua experiência de
vida, ter bom senso e equilíbrio é
muito difícil. Tudo é difícil, mas difícil mesmo é dispensar a empregada.
Um belo dia você acorda querendo mudar tudo. Pensa que se é complicado morar com um marido, absurdo maior é coabitar com uma
pessoa estranha que só faz uma coisa na vida: cuidar de você. Afinal, não
precisa de mais do que uma faxineira duas vezes por semana. Ela cozinha do jeito que você gosta (mas 27
dias por mês você faz dieta), fala
pouco e não incomoda, os amigos
adoram seu tempero e vivem pedindo para jantar na sua casa. Então pra
quê mudar? E se não se der bem com
uma diarista? E se ficar gripada com
febre, quem vai levar um chazinho
na cama? E se levar um tombo no
banheiro e quebrar a perna? E a culpa só de pensar que ela talvez tenha
dificuldade em encontrar outro emprego? Muito mais fácil escolher em
quem vai votar no segundo turno.
Tenho um amigo inteligente,
bem-sucedido, cheio de personalidade, que um dia resolveu mudar tudo, mas quando viu que não ia conseguir combinou com uma amiga:
saiu de casa às oito da manhã, ela
chegou às nove, disse à empregada
mais ou menos tudo que ele não tinha coragem de dizer, acertou regiamente as contas, ela saiu levando as
suas coisas (muito importante), devolveu as chaves e ele só voltou com
o assunto totalmente resolvido.
Covardia? Não. Apenas uma das
dificuldades do ser humano - e essa, por incrível que pareça, é das
maiores.
PS - Lula elogiando Collor e Garotinho apoiando Alckmin. Que situação.
danuza.leao@uol.com.br
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