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VÔO 1907 / INVESTIGAÇÃO
FAB apura se Legacy precisava de recall
Investigação apontará se equipamento apresentou a mesma falha apontada pelas autoridades norte-americanas
Para o brigadeiro José Carlos Pereira, da Infraero, "isso pode explicar o acidente, e acrescenta mais fatores de responsabilidade"
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A FAB (Força Aérea Brasileira) vai apurar se o transponder
do jato Embraer Legacy que colidiu com o Boeing da Gol há
dez dias matando 154 pessoas
apresentou a falha apontada
pelas autoridades americanas
-que determinou um recall do
equipamento marcado para começar no dia 17 de outubro.
A Folha revelou ontem que a
FAA (Administração Federal
de Aviação) indicou, em 12 de
setembro, que o transponder
podia ficar inoperante inadvertidamente se a tripulação manuseasse um botão no painel
de comunicação do avião por
mais de cinco segundos.
Sem o transponder, equipamento que transmite dados como altitude e velocidade do
avião para o controle em solo e
outros aviões, o sistema anticolisão do avião não consegue
"avisar" o mesmo aparelho em
outra aeronave.
Embora isso seja apenas
mais um fator contribuinte para o acidente -já que o Legacy
estava em altitude incorreta e
houve aparente falha de comunicação entre pilotos e o controle de Brasília-, se o sistema
anticolisão estivesse operante
é possível supor que o choque
não teria ocorrido. Isso se não
houve falha no Boeing, o que
apenas a caixa-preta dirá.
"É um fator importante a
apurar", disse o brigadeiro Teles Ribeiro, chefe da comunicação da FAB. Para o brigadeiro
José Carlos Pereira, da Infraero (estatal que gerencia os aeroportos), "isso pode explicar o
acidente, e acrescenta mais fatores de responsabilidade".
Segundo a assessoria de imprensa da Embraer, a política
da empresa é esperar o final
das investigações para se pronunciar sobre o incidente.
A diretriz da FAA é de 12 de
setembro e atinge 1.365 aviões,
de vários fabricantes, como
Cessna e Bombardier. No caso
da Embraer, os modelos afetados são os da linha EMB-135
(da qual o Legacy faz parte) e o
da EMB-145. A Diretriz de Aeronavegabilidade 2006-19-04
diz: "Essa diretriz resulta do fato de o transponder incorretamente entrar no modo stand-by se a tripulação levar mais de
cinco segundos usando o botão
giratório da unidade de rádio
para mudar seu código de controle aéreo. Estamos emitindo
essa diretriz para evitar que o
transporte dessa unidade de
comunicação entre em modo
stand-by, o que pode aumentar
o trabalho da tripulação e resultar no funcionamento impróprio do Sistema de Alerta
de Tráfego Anticolisão".
Ou seja: se o piloto mexeu no
botão em que ele determina o
código de 4 números que identifica a aeronave nos radares,
um defeito pode ter colocado o
transponder num modo inativo (o stand-by, ou espera) -e,
logo, desabilitando seu sistema
anticolisão. Isso explicaria por
que os pilotos dizem que não
desligaram nada intencionalmente e por que o avião sumiu
do radar secundário, que detecta detalhes via transponder,
das telas de Brasília -permanecendo como um ponto impreciso no console.
Não há alerta sobre essa mudança, embora em tese ela deveria ter ficado registrada no
indicador do painel. A análise
da caixa-preta do Legacy não
deverá ajudar nesse ponto: o
transponder não estava conectado a ela, e não há nenhum regulamento que preveja isso.
"O que é estranho é que o piloto só deveria mexer nesse seletor com orientação do controle de vôo", diz o brigadeiro
Pereira. "Pode ter ocorrido algo, ele inadvertidamente tocou
no botão por mais de cinco segundos, mas isso é hipótese."
De fato, esse código de controle só é alterado se houver
orientação do controle em solo,
e tanto os pilotos quanto o Comando da Aeronáutica dizem
que não conseguiram comunicar-se um com o outro.
A diretiva norte-americana
vale para todos os países em
que os aviões voam porque o
transponder é de fabricante
dos EUA, a Honeywell.
Ela determinava que em 14
dias a partir do dia 17 fosse alterado o manual de vôo para que
o piloto testasse rotineiramente o transponder durante o vôo.
Além disso, dava prazo de até
18 meses para a troca, dependendo do modelo, de partes ou
da totalidade do transponder.
Apesar de a hipótese de o
transponder ter apresentado
defeito responder a um dos
mistérios do acidente, ele não
explica tudo. Há dúvidas importantes. Por exemplo:
1 - por que o Legacy estava a
37 mil pés, na "contramão" da
aerovia pela qual vinha o
Boeing, em desacordo com o
seu plano de vôo?;
2 - FAB e pilotos argumentam que tentaram falar, por
quase uma hora, um com os outros. De quem foi a falha? Isso
só a investigação responderá.
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