São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Quatro obras de hospitais estão paradas no Estado

Até agora, esqueletos já consumiram R$ 33,6 milhões de verbas públicas

Em Araçatuba, prefeito quer entregar prédio para iniciativa privada; USP promete concluir obra do Centrinho de Bauru

DA FOLHA RIBEIRÃO

No interior paulista, há pelo menos quatro hospitais que não cumprem a função para a qual foram projetados. Eles não passam de prédios fantasmas, cujas obras foram paralisadas depois de consumir cerca de R$ 33,6 milhões de verbas públicas. Se fossem terminados, poderiam elevar a capacidade de atendimento à população -segundo a Secretaria Estadual da Saúde, não há déficit de leitos em São Paulo.
O novo prédio do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP -conhecido como Centrinho de Bauru-, por exemplo, foi idealizado para ampliar o atendimento do velho hospital que é referência na América Latina em malformações craniofaciais complexas e síndromes raras.
O governo federal investiu cerca de R$ 18 milhões na obra, paralisada duas vezes, a última vez em 2000. Para a conclusão, seriam necessários mais R$ 20 milhões.
A USP disse que deve abrir licitação neste mês. O Estado promete liberar a verba.
"Se a obra não tivesse parado, o custo seria bem menor, pela própria deterioração que ocorreu durante os anos", disse o diretor administrativo-financeiro do Centrinho, João Henrique Nogueira Pinto.

Ourinhos
Em Ourinhos, o Hospital Regional deveria desafogar a Santa Casa local, que tem uma taxa média de ocupação de 95% dos 138 leitos SUS, além de realizar aproximadamente 10 mil atendimentos de urgência e emergência por mês.
Mas a obra do prédio que consumiu R$ 5 milhões da União foi interrompida em 1992, após os escândalos envolvendo o então presidente da República Fernando Collor. No lugar da obra que deveria ter oito andares, só há um esqueleto de dois andares.
A Prefeitura de Ourinhos, dona do terreno, disse que o projeto do hospital foi abandonado pela União e que o município não tem recursos para terminar a obra, que ainda consumiria R$ 20 milhões.
O plano do prefeito Toshio Misato (PSDB) é investir R$ 800 mil para concluir os dois andares e instalar no prédio uma unidade do Senai.

Modelo
Em Araçatuba, o esqueleto de quase 40 anos leva o irônico nome de Hospital Modelo. Segundo a prefeitura, o hospital foi construído pela iniciativa privada e até chegou a funcionar precariamente na década de 70, antes de ser desapropriado pelo governador Orestes Quércia em 1990.
O investimento estadual na época corresponde hoje a R$ 10 milhões, segundo o prefeito Jorge Maluly Neto (DEM). Ele disse que pensou em retomar a obra, mas um laudo "apontou inviabilidade técnica e inadequação para a instalação de hospital".
Em maio do ano passado, a Assembléia aprovou a cessão da área para a prefeitura com uma exigência: a implantação de uma repartição de ensino. Maluly Neto não aceitou, já que pretende repassar o prédio para a iniciativa privada, provavelmente para a implantação de uma universidade.
"O prédio precisa de um investimento de R$ 10 milhões. A prefeitura não tem recursos. A idéia é ceder a área por 30, 40 anos para a iniciativa privada dar uma ocupação ao prédio. Ou faz isso ou tem que demolir o prédio, que deixa a cidade feia", disse Maluly Neto.

Lixo acumulado
Rio Claro também tem um hospital inacabado. O prédio que deveria desafogar a Santa Casa consumiu R$ 649 mil (corrigidos) da União, mas só serve para acumular lixo.
Os buracos das portas e janelas foram vedados com concreto para evitar invasões. A obra para a construção do mini-hospital do bairro Cervezão está parada desde 2002.
"Foi uma obra que começou errada, porque o próprio valor inicial já era insuficiente para a construção", disse o secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura, José Piovezan.
Segundo ele, a prefeitura prevê gastar mais R$ 800 mil para concluir o hospital.
(JSJ e FFG)


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