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No Rio, 45% das pessoas ouvem tiros sempre
Segundo pesquisa da Uerj, apenas 18% dos habitantes da cidade dizem nunca ter ouvido os sons de disparo de armas
A Barra da Tijuca é o único lugar da capital fluminense em que a maioria dos moradores afirma nunca ter escutado o barulho de balas
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Ouvir o barulho de pistolas e
metralhadoras já se tornou freqüente para 45% dos cariocas,
afirma pesquisa do Nupevi
(Núcleo de Pesquisa das Violências) da Uerj (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro).
Segundo a pesquisa, apenas
18% dos moradores da cidade
afirmam nunca terem ouvido
tiros. Estes estão concentrados
na Barra da Tijuca, única área
pesquisada em que a maioria
(90,2%) dos entrevistados disse nunca ter sido afetado pela
"trilha sonora".
"O principal efeito disso é a
sensação de insegurança.
Quanto mais se ouve tiro, mais
se quer mudar. Mas, aos poucos, as opções dentro da cidade
vão acabando", disse Alba Zaluar, coordenadora da pesquisa. Os pesquisadores entrevistaram cerca de 3.600 pessoas no ano passado.
Os moradores de favelas do
Rio de Janeiro, habituais palcos de operações policiais, são
evidentemente os que mais ouvem os sons dos confrontos:
45,4% dizem sempre ser incomodados pelos disparos e 8,8%
afirmam ouvir os barulhos com
freqüência.
Na área do Complexo do Alemão, onde a Polícia Militar faz
operações sistemáticas desde
1º de maio, 50,4% dos moradores afirmam que sempre ouvem os ruídos. Outros 13,9% dizem escutar freqüentemente e
20,2%, às vezes. Apenas 6,3%
disseram nunca ter escutado
um disparo. Nas regiões faveladas desta área, 57,5% dos entrevistados sempre notam tiros.
Na área da Tijuca, 68% escutam rajadas de fuzis e pistolas
ao menos freqüentemente.
"Considerando que cada caso
é singular, (...) podemos hipotetizar que quem está sob essa
guerra constante -tiros, assaltos-, seja na zona sul carioca
ou nas favelas, tende a desenvolver comportamentos graves
como paranóia, fobia, comportamento dito anti-social, entre
outros", afirma o professor do
Instituto de Psicologia da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) Rogério Lustosa.
"Em geral, os efeitos da violência precisam ser analisados
através dos lados individual e
familiar da pessoa e da rede de
relações em que ela vive, do lado das instituições dela", diz.
Zaluar afirma que a pesquisa
será complementada com outros dados. Será estudado, por
exemplo, se nas áreas em que se
ouve muito tiro há mais casos
de doenças cardiovasculares.
O convívio com os sons de tiros é diverso. "Para o carioca, já
é meio que divertido, para
quem não está na linha de tiro.
É uma coisa corriqueira", afirmou o estudante de turismo
Thiago de Albuquerque Bierrenbach. Ele morava em São
Conrado, próximo à favela da
Rocinha, e ouvia "freqüentemente" tiros do local.
Atualmente, mora em Copacabana, próximo à favela Pavão-Pavãozinho, onde "ainda"
não ouviu confrontos.
Para o DJ Marlboro, o som de
tiros que aparece em algumas
de suas mixagens "é a realidade
sonora do Rio". "Não quer dizer
que quem faz isso [as músicas]
está apoiando [os tiros], mas só
relatando o que acontece."
Ele deixou o bairro do Engenho de Dentro -onde 50,7%
dizem sempre ouvir tiros-
após três tentativas de assaltos
a mão armada para morar na
Barra, bairro mais "silencioso"
do Rio de Janeiro.
Seqüestro
Um adolescente de 15 anos
foi seqüestrado, torturado e, segundo a polícia, escapou por
pouco de ser morto ao sair de
um baile funk ontem em uma
favela da zona norte do Rio.
O seqüestro aconteceu por
volta das 6h, na Baixa do Sapateiro, uma das 28 favelas que
formam o complexo da Maré e
que é dominada pela facção criminosa TCP (Terceiro Comando Puro). O adolescente contou
à polícia que foi apanhado porque errou o caminho ao voltar
de um baile na vizinha Nova
Holanda, dominada pela facção
rival CV (Comando Vermelho).
Ele foi libertado pela polícia.
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