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Kassab vai manter "turno da fome" em 66 escolas
Secretário da Educação diz que dificuldade para construir escolas atrasou cronograma
Período de aulas que vai das 11h às 15h deverá terminar só no início de 2010; fim do terceiro turno é uma das bandeiras da gestão atual
MÁRCIO PINHO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A gestão Gilberto Kassab
(DEM) admitiu ontem que o
"turno da fome", como ficou
conhecido o turno das 11h às
15h das escolas municipais de
ensino fundamental de São
Paulo, vai acabar só no início de
2010. Pelo menos 66 escolas
vão manter o terceiro turno no
início de 2009.
A informação constará de
portaria que deve ser publicada
hoje, no "Diário Oficial" da Cidade, com um cronograma de
extinção do turno.
A nova previsão contraria o
prazo que havia sido estabelecido pelo próprio prefeito e candidato à reeleição. Em entrevista à Folha em 2007, Kassab
disse que o "turno da fome" seria extinto até o final da atual
gestão, a não ser que houvesse
"impedimentos financeiros".
Contudo, segundo o secretário da Educação, Alexandre
Schneider, o motivo do atraso
não foi financeiro, mas por dificuldades enfrentadas nas áreas
para a construção de escolas.
"Nos locais onde a gente precisa construir, é difícil achar
terreno. Ou, quando você acha,
há dificuldades de construção.
São áreas de proteção ambiental, onde a legislação é um pouco mais rígida, ou áreas onde a
própria legislação do uso do solo também é rígida", diz.
O "turno da fome" é adotado
onde há grande demanda e só
os períodos da manhã e da tarde não são suficientes. Para
contornar o problema, reduziu-se a carga nessas unidades
de cinco horas para três horas e
40 minutos, abrindo espaço
para um turno no almoço.
Das 147 escolas que funcionam hoje com o "turno da fome", 66 permanecerão com esse horário no início de 2009.
Segundo Schneider, a redução
é possível porque 44 unidades
ficarão prontas até fevereiro,
totalizando 476 escolas com
apenas dois turnos, das 7h às
12h e das 13h às 18h.
O cronograma prevê ainda
que o número de escolas com
"turno da fome" passe para 47
no início do segundo semestre
de 2009 e para zero no início
do ano letivo de 2010.
O fim do terceiro turno é
uma das bandeiras de Kassab,
que incluiu a promessa em seu
novo plano de governo.
Schneider diz, porém, que
houve avanços. Desde 2005,
segundo ele, apenas 137 escolas
municipais trabalhavam com
dois turnos. "Tínhamos 29% da
rede em dois turnos e 71% em
três turnos. No ano que vem,
teremos 88% em dois e 12% em
três."
Para ele, o terceiro turno não
só prejudica os alunos mas
também a organização das escolas, funcionários e professores, pois não há intervalos.
A visão é semelhante à de
Maria Letícia Nascimento, pesquisadora da USP. Para ela, o
turno ajudou a atender a uma
demanda existente por causa
de um número insuficiente de
escolas, mas, com isso, "perdeu-se muito do pedagógico".
"Não sei se há causa e efeito
entre o fato de a aula ser no que
seria o horário do almoço e o
que o aluno consegue aprender, mas é certo que alguns estudantes ficam preocupados
mais em comer", diz.
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