São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Kassab vai manter "turno da fome" em 66 escolas

Secretário da Educação diz que dificuldade para construir escolas atrasou cronograma

Período de aulas que vai das 11h às 15h deverá terminar só no início de 2010; fim do terceiro turno é uma das bandeiras da gestão atual

MÁRCIO PINHO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A gestão Gilberto Kassab (DEM) admitiu ontem que o "turno da fome", como ficou conhecido o turno das 11h às 15h das escolas municipais de ensino fundamental de São Paulo, vai acabar só no início de 2010. Pelo menos 66 escolas vão manter o terceiro turno no início de 2009.
A informação constará de portaria que deve ser publicada hoje, no "Diário Oficial" da Cidade, com um cronograma de extinção do turno.
A nova previsão contraria o prazo que havia sido estabelecido pelo próprio prefeito e candidato à reeleição. Em entrevista à Folha em 2007, Kassab disse que o "turno da fome" seria extinto até o final da atual gestão, a não ser que houvesse "impedimentos financeiros".
Contudo, segundo o secretário da Educação, Alexandre Schneider, o motivo do atraso não foi financeiro, mas por dificuldades enfrentadas nas áreas para a construção de escolas.
"Nos locais onde a gente precisa construir, é difícil achar terreno. Ou, quando você acha, há dificuldades de construção. São áreas de proteção ambiental, onde a legislação é um pouco mais rígida, ou áreas onde a própria legislação do uso do solo também é rígida", diz.
O "turno da fome" é adotado onde há grande demanda e só os períodos da manhã e da tarde não são suficientes. Para contornar o problema, reduziu-se a carga nessas unidades de cinco horas para três horas e 40 minutos, abrindo espaço para um turno no almoço.
Das 147 escolas que funcionam hoje com o "turno da fome", 66 permanecerão com esse horário no início de 2009. Segundo Schneider, a redução é possível porque 44 unidades ficarão prontas até fevereiro, totalizando 476 escolas com apenas dois turnos, das 7h às 12h e das 13h às 18h.
O cronograma prevê ainda que o número de escolas com "turno da fome" passe para 47 no início do segundo semestre de 2009 e para zero no início do ano letivo de 2010.
O fim do terceiro turno é uma das bandeiras de Kassab, que incluiu a promessa em seu novo plano de governo.
Schneider diz, porém, que houve avanços. Desde 2005, segundo ele, apenas 137 escolas municipais trabalhavam com dois turnos. "Tínhamos 29% da rede em dois turnos e 71% em três turnos. No ano que vem, teremos 88% em dois e 12% em três."
Para ele, o terceiro turno não só prejudica os alunos mas também a organização das escolas, funcionários e professores, pois não há intervalos.
A visão é semelhante à de Maria Letícia Nascimento, pesquisadora da USP. Para ela, o turno ajudou a atender a uma demanda existente por causa de um número insuficiente de escolas, mas, com isso, "perdeu-se muito do pedagógico".
"Não sei se há causa e efeito entre o fato de a aula ser no que seria o horário do almoço e o que o aluno consegue aprender, mas é certo que alguns estudantes ficam preocupados mais em comer", diz.


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