São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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Cursinho achou que proposta era brincadeira

Oferta foi feita sete dias depois de uma das provas ter sido furtada da gráfica; CPV diz que negociante parecia ter pressa

Segundo diretor do CPV, contato foi feito por meio da editora do grupo, através de telefonema na segunda-feira da semana passada

PATRÍCIA GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

O curso pré-vestibular CPV, da cidade de São Paulo, foi procurado no último dia 28 por um homem que afirmava ter as duas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A oferta, por R$ 200 mil, foi feita cinco dias antes da data prevista para a realização do exame.
De acordo com Alexandre Chumer, diretor de comunicação do cursinho (que tem cerca de 600 alunos), o contato do suposto vendedor foi feito através da editora do grupo.
O representante de vendas da editora recebeu um telefonema na segunda-feira da semana passada. Primeiro, diz Chumer, o homem ofereceu as duas provas por R$ 200 mil. Diante da recusa em comprar o exame, o homem baixou o preço para R$ 50 mil. A oferta foi novamente recusada.
"Fora toda a questão ética, temos poucos alunos fazendo o Enem. Nem seria interessante para a gente", disse Chumer.
A Polícia Federal já indiciou cinco pessoas sob suspeita de envolvimento no furto e na tentativa de venda das provas, por R$ 500 mil, para jornalistas. Esse grupo, segundo a PF, furtou o exame nos dias 21 e 22, durante a fase de manuseio do material -que se segue à impressão. Três dos acusados trabalhavam para o consórcio Connasel, que era responsável pela impressão, distribuição e aplicação das provas.
O contato desse grupo com os jornalistas foi feito no dia 29. No dia 1º, quando "O Estado de S.Paulo" divulgou que a prova havia vazado, o MEC cancelou o exame e agora o remarcou para os dias 5 e 6 de dezembro.
O grupo ficou com as provas por uma semana. A Polícia Federal, porém, investigou o furto por seis dias e concluiu que o caso está "esclarecido".
A PF, no entanto, não informa se investigou a hipótese de a prova ter sido oferecida a outras pessoas ou a outros cursinhos pré-vestibulares, teoricamente os maiores interessados em obter uma cópia do exame para assegurar um bom desempenho de seus alunos.

Pressa na venda
Chumer, do CPV, afirma não ter a menor ideia de quem ofereceu a prova ao cursinho. Ele também não soube informar ontem se o funcionário que recebeu a ligação do suposto vendedor viu as provas.
"Pelo que o Fernando [representante de vendas da gráfica CPV] diz, a impressão que dava é que eles estavam apressados para vender e tentando jogar essa prova no mercado", diz o diretor do cursinho.
Chumer afirmou que, entre os coordenadores de cursinhos pré-vestibulares que conhece, ninguém disse ter recebido oferta parecida.
Segundo o diretor do CPV, primeiro o cursinho achou que a oferta fosse uma "piada". "No início a gente achou que era brincadeira, mas, quando viu o que aconteceu [a confirmação de que um grupo havia furtado a prova], a gente pensou que efetivamente poderia ser verdade", afirmou.


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