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Cursinho aplicou 20 dias antes redação com o mesmo tema da prova do Enem
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
"O mesmo tema!", "A mesma
abordagem sobre o tema!, "O
mesmo fragmento na coletânea!" Assim o Curso Positivo de
Curitiba, comemorou, em um
panfleto distribuído ontem, as
coincidências entre o exercício
de redação que aplicou entre os
dias 11 e 14 de setembro a seus
5.000 alunos, e a prova do
Enem que deveria ter ocorrido
em 4 e 5 de outubro passados. A
prova foi cancelada depois que
ficou provado que seu conteúdo havia vazado antes.
O MEC recebeu por e-mail o
comparativo entre o "Exercício
de Redação 24", aplicado pelo
Positivo, e a "Proposta de Redação" do Enem. "Essas novas revelações precisam ser investigadas pela Polícia Federal", disse o ministério em nota. A PF,
anteontem, considerou que
após seis dias de investigação o
caso estava "concluído".
As coincidências começam
no tema: prova real (Enem) e
exercício (do Positivo) deveriam versar sobre direitos ou
valorização dos idosos.
A seguir, vêm os chamados
"inputs" da prova, citações ou
dados de apoio, que entram no
enunciado da proposta de redação, como forma de orientar o
desenvolvimento do tema.
No exercício do Positivo, citava-se o artigo 3º do "Estatuto
do Idoso". O mesmo artigo 3º
aparecia na prova do Enem.
Na prova do Enem, mencionava-se o "aumento da proporção de idosos na população (...)
mundial". No exercício aplicado no Positivo, dois gráficos
(pirâmides de idade) evidenciavam o aumento proporcional
na população de idosos.
Os alunos que fizeram o exercício do Positivo foram orientados a retirá-lo, corrigido, até o
dia 18 de setembro.
Eficiência da equipe
Renato Ribas Vaz, diretor geral do Curso Positivo de Curitiba, atribui as coincidências à
eficiência de sua equipe docente. Segundo ele, os professores
da área de redação ficam "permanentemente atentos ao que
sai nos grandes jornais e revistas de informação, para rastrear os assuntos que podem se
tornar tema de vestibular e do
Enem. A situação dos idosos é
um desses assuntos."
A Folha entrou em contato
com alguns cursinhos, perguntando-lhes quais os temas de
redação que tinham sido trabalhados nas aulas. É uma variedade enorme.
O Anglo realizou um simulado em 29 e 30 de agosto. Na redação, os vestibulandos tiveram de falar sobre o clima. Ambiente também foi o tema da
redação de um simulado feito
pelo Etapa, em agosto, que
mencionava o assunto reciclagem. Em outro, em setembro,
os alunos deviam falar sobre a
relação entre ciência e religião.
No CPV, a redação foi sobre os
objetivos de desenvolvimento
do milênio, da ONU.
No Objetivo, foram abordados temas como o consumo associado ao lixo, violência nas
escolas e toque de recolher para jovens, além da situação dos
idosos. No cursinho da Poli, o
trânsito foi o assunto escolhido. E, no pH (do Rio), os temas
foram "família e tecnologia",
"economia sustentável", "função atual dos jovens no país" e
"universidade e o profissional".
Nas investigações realizadas
até agora pela Polícia Federal,
as provas do Enem teriam sido
subtraídas entre os dias 21 e 22
de setembro, por funcionários
contratados pelo Connasel
(Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção, responsável pela
produção e aplicação da prova).
Depois, portanto, da aplicação
do Exercício 24 do Positivo.
Segundo Vaz, o cursinho que
dirige, com 37 anos de existência, jamais se tornaria "cúmplice em uma situação criminosa". "Ninguém aqui foi procurado por pessoas interessadas
em comercializar a prova do
Enem", afirma.
Colaboraram TALITA BEDINELLI, da Reportagem Local, e DIMITRI DO VALLE, da Agência Folha, em Curitiba
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