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Uniban expulsa aluna que foi à aula com vestido curto
Para a universidade, houve "desrespeito à dignidade acadêmica e à moralidade"
Geisy Arruda, hostilizada por cerca de 700 alunos e que deixou o campus sob escolta da PM, afirma que vai processar a instituição
Leticia Moreira/Folha Imagem
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Geisy ao lado de sua mãe, em Diadema, na Grande São Paulo, onde moram; a estudante disse que pretende processar a Uniban
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante Geisy Villa Nova
Arruda, 20, hostilizada por cerca de 700 colegas ao usar um
vestido curto no campus da
Uniban em São Bernardo do
Campo, onde cursa turismo, foi
expulsa ontem pela universidade por "desrespeito à dignidade
acadêmica e à moralidade".
Um grupo de seis a oito estudantes (a Uniban não soube dizer ontem o número exato) que
participou da manifestação
contra ela, no dia 22 de outubro, foi punido com suspensão,
por tempo a ser definido.
A Uniban tomou as decisões
após uma sindicância concluir
que a estudante "provocou" os
colegas, "o que resultou numa
reação coletiva de defesa do
ambiente escolar". Segundo
Décio Lencioni Machado, assistente jurídico da instituição,
Geisy "tem uma postura incompatível com o ambiente da
universidade", pois sempre utiliza roupas curtas e decotes e tinha atitudes "insinuantes".
A estudante afirmou que pretende processar a Uniban. "Como me expulsaram? Que absurdo. Eu fui a vítima, quase fui
estuprada, como puderam fazer isso?", disse. A mensalidade
do curso, de R$ 310, é paga pelo
pai dela, que é supervisor de
serviços -Geisy não trabalha.
Segundo Machado, o que levou à decisão não foi o vestido,
mas a "postura" dela. "O problema não era a roupa, mas a
forma de se portar, de falar, de
rebolar." Por isso, diz, ela já havia sido advertida verbalmente
por fiscais de disciplina da universidade e pelo coordenador
do curso de turismo -ela nega.
No dia do tumulto, de acordo
com ele, quando a aluna saiu
escoltada pela Polícia Militar
do campus, a universitária "subiu com as mãos o vestido que
usava, deixando-o mais curto".
Além disso, diz, ela entrou na
sala de outro curso, quando o
professor já dava aulas, porque
um estudante queria conhecê-la. "Segurava uma bolsa enorme em uma mão e um fichário
na outra, como levantaria o
vestido?", questiona Geisy.
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A Uniban publica comunicado hoje na Folha sobre a expulsão. A universidade diz que decidiu tornar público o fato porque Geisy também utilizou veículos de comunicação para
contar sua versão dos fatos.
A defesa da estudante não
quis comentar por não ter sido
notificada. Segundo a universidade, após a decisão, ainda de
madrugada, um motoboy tentou entregar uma carta a Geisy
informando a expulsão, mas
ninguém atendeu na casa dela.
Geisy afirma que só às 16h
um motoboy foi a sua casa, mas
ela se recusou a receber o documento e pediu que ele fosse entregue a seus advogados. Ela
afirmou que, caso eles não recebam a notificação, voltará às
aulas na segunda-feira.
Especialistas ouvidos pela
Folha criticaram a medida. A
mãe da estudante, que pediu
para ser identificada apenas
por Maria, considerou a decisão absurda. "É o jeito dela de
se vestir, desde pequena foi assim. Ela não é a única", disse.
(TALITA BEDINELLI, ALENCAR IZIDORO,
LUISA ALCANTARA E SILVA, ESTÊVÃO
BERTONI E CATHARINA NAKASHIMA)
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