São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

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Vizinhas de bares com caça-níquel, 16 delegacias de SP ignoram a lei

No 66º DP, jogo ilegal pode ser visto da cadeira do delegado plantonista

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao menos 16 das 93 delegacias de polícia da cidade de São Paulo têm na sua porta ou a menos de 200 metros estabelecimentos comerciais que exploram caça-níqueis, o que é uma atividade ilegal, segundo a própria polícia.
Em alguns casos, como no 66º DP (Aricanduva), na zona leste, da cadeira do delegado plantonista é possível ver o funcionamento de uma máquina, sem nenhuma ação da polícia.
Nos dias 19 e 20 de dezembro e no dia 4 deste mês, a Folha esteve em 21 (11 na zona norte e 10 na zona leste) distritos. Apenas cinco deles não tinham máquinas no seu entorno.
Localizado na zona norte, o 40º DP (Vila Santa Maria), por exemplo, pode ser considerado uma "ilha" cercada por bares e restaurantes que, além de bebida alcoólica e comida, também oferecem as máquinas aos seus freqüentadores.
O 40º DP é cercado por duas grandes avenidas. A Gaspar Vaz da Cunha tem quatro bares com as máquinas, todos eles localizados no mesmo quarteirão da delegacia.
O bar instalado na porta da delegacia, no nº 70 dessa avenida e bastante freqüentado por policiais civis e militares, nos dias 19 e 20 do mês passado tinha um caça-níquel em atividade. Após a Secretaria da Segurança Pública ter sido procurada pela Folha, a máquina foi retirada do local.
Outra delegacia que está "ilhada" por caça-níqueis é o 21º DP (Vila Matilde), na região leste da capital. Na mesma calçada do distrito policial está a doceria Lua de Cristal e, dentro dela, várias máquinas.
Na avenida Nagib Farah Maluf, onde estão a sede da 7ª Seccional e o 103º DP (Cohab 2), existem alguns locais que se mantém somente com a exploração das máquinas ilegais.

Atividade ilegal
O caça-níquel é considerado uma atividade ilegal pela polícia, que o qualifica como jogo de azar. O Código Penal define o que se enquadra nesse termo, mas não cita nominalmente o termo "caça-níquel".
Nos últimos anos, por causa da brecha, exploradores da atividade conseguiram liminares para manter a atividade.
No último dia 2, entrou em vigor no Estado de São Paulo uma lei que proíbe a exploração e o depósito dos caça-níqueis. Essa lei cita especificamente a atividade. Nesse mesmo dia, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou liminares obtidas por comerciantes.

Denúncia
Sob a condição de anonimato, dois comerciantes disseram que as máquinas mantidas por eles são exploradas por pessoas ligadas às forças de segurança.
Segundo eles, cada máquina tem um selo de identificação. Nessa marca, em alguns casos, está um código que identifica o agente das forças de segurança que é responsável por fazer o "recolhe", ou seja, passar de tempos em tempos no comércio para abri-la e retirar o lucro.
Em casos mais extremos, existe até um número de celular nessa marca. "Para casos de emergência em que apareça alguém querendo abrir a máquina e que não conhecemos", disse um comerciante.
"Você acha que iríamos colocar essas coisas [as máquinas] sem que alguém dos homens estivesse nos dando garantia?"


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