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RIO DE JANEIRO
Apenas dois fugitivos foram recapturados; em 2001, criminosos usaram uma carreta para invadir a Polinter
49 fogem de delegacia pela porta da frente
MARCELLO GAZZANEO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quarenta e nove presos fugiram
pela porta da frente da Polinter,
na zona portuária do Rio, na madrugada de ontem. Após abrirem
um buraco na parede de uma das
celas da unidade e arrombarem
uma porta de ferro, os detentos
chegaram à entrada principal, onde não havia nenhum policial.
Apesar de, segundo a direção da
Polinter, o sistema de monitoramento com câmeras de vídeo estar funcionando, a fuga só foi notada quando os 49 presos já haviam alcançado a rua. Além disso,
a porta de frente não fica trancada
durante a noite e madrugada.
Apenas dois fugitivos haviam
sido recapturados até a conclusão
desta edição.
A fuga aconteceu dois dias após
o governo do Rio ter publicado
anúncio em jornais do Estado em
que se exibiam fotos de oito criminosos -sete presos e um morto- com o título "Fora do jogo".
O subsecretário de Segurança
Pública, Marcelo Itagiba, determinou a abertura de sindicância
para apurar as circunstâncias da
fuga e o possível envolvimento
dos seis policiais de plantão.
Uma equipe da Corregedoria de
Polícia Civil esteve na Polinter e
ouviu depoimentos dos policiais
de plantão e de presos. Na noite
de ontem, foi anunciado que dois
policiais foram autuados por facilitação de fuga. Eles vão permanecer em liberdade porque não teriam agido dolosamente.
O delegado titular da Polinter,
Rodolfo Waldeck, afirmou achar
estranho que a ação dos presos só
tenha sido notada depois de 49
deles terem conseguido fugir.
"Vamos apurar o que aconteceu
porque temos uma sala de monitoramento com imagens de toda a
unidade", afirmou o delegado.
Sobre o fato de ninguém ter escutado a escavação na parede, ele
disse que o som pode ter sido abafado pelo barulho feito pelos 1.400
presos da carceragem.
A fuga só foi notada às 3h30. Segundo o Waldeck, os presos, com
uma barra de ferro, cavaram o buraco na parede da cela 21 acima do
boi (vaso sanitário das celas).
Dali, os presos acessaram a sala
de depósito de material de obras,
onde arrombaram uma porta de
ferro. Pela porta, eles chegaram ao
hall de entrada. Os presos que fugiram, segundo Waldeck, não
pertencem a facções criminosas.
Waldeck explicou que não fica
nenhum policial na porta da frente porque no prédio funcionam
outras seis delegacias.
Há dois meses no comando da
Polinter, o delegado também reclamou do déficit de policiais na
unidade. "Quando assumi, detectei o problema e pedi mais policiais", lembrou Waldeck.
Ele disse que o sistema de monitoramente por vídeo está em fase
de experiência. Waldeck declarou
que a carceragem da Polinter sofre com a superlotação. Até a fuga,
eram 1.400 presos -a capacidade
total é de 700 vagas.
Segundo o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Paulo Souto, a principal
preocupação é saber se houve facilitação na fuga e como os presos
conseguiram uma barra da ferro
para quebrar a parede.
Antecedentes
A Polinter tem em sua história
uma série de fugas. A mais espetacular delas aconteceu na madrugada de 29 de outubro de 2001,
quando cerca de 20 criminosos
lançaram duas carretas contra
uma parede da unidade.
A colisão abriu um buraco de
aproximadamente oito metros
quadrados, por onde 14 presos fugiram. Na ação, o grupo chegou a
fechar a av. Rodrigues Alves para
possibilitar o resgate.
O objetivo, segundo investigações da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) na época, era libertar o traficante Aldair
Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, um dos líderes da facção
criminosa Comando Vermelho.
No último dia 8 de janeiro, o traficante Leandro Aparecido de Jesus Sabino, o DJ, saiu pela porta
da frente da Polinter e ainda não
foi recapturado. Um suposto erro
de digitação no nome do preso no
computador da polícia teria sido
o motivo para sua liberação. Dois
policiais civis e um agente penitenciário foram presos sob acusação de terem facilitado sua fuga.
Em 5 de abril do ano passado,
houve outra fuga grande na Polinter. Cerca de 30 presos fugiram da
carceragem por um buraco aberto em uma das celas.
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