São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Foram presos seis policiais, que, segundo testemunha, forjaram prova para encobrir erro; acusados dizem ter reagido a tiros

PMs matam dentista apontado como ladrão

DO "AGORA"

Seis policiais militares foram presos no final de semana pelo assassinato, na última terça, do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, de 28 anos, em Santana (zona norte de São Paulo). Segundo a polícia, a vítima foi confundida com um ladrão durante uma abordagem.
Tudo começou quando o comerciante Antônio Alves dos Anjos, 29, declarou ter sido vítima de um assalto e, acompanhado por policiais, apontou Sant'Ana como o bandido que havia levado seu dinheiro momentos antes.
Os seis PMs, então, abordaram o dentista, que, de acordo com os policiais, estava com uma pistola e reagiu a tiros. Dois deles atiraram sete vezes contra o dentista, que foi atingido por dois disparos e morreu.
Em seguida, ao ver o corpo caído no chão, o comerciante percebeu o engano. O grupo, então, teria decidido forjar uma prova, colocando a carteira da vítima do roubo no bolso do dentista. Logo depois, o corpo foi levado para o pronto-socorro de Santana.
"Meu filho foi morto por ser negro. Foi puro preconceito", disse, revoltado, o pai do dentista, o PM aposentado Jonas Sant'Ana, 50.

Ameaça
Ao registrar o crime na delegacia, o comerciante e os PMs omitiram o erro na identificação do suspeito. O boletim de ocorrência foi registrado como resistência seguida de morte. Somente anteontem, Anjos decidiu voltar à delegacia e contar a verdade. Ele afirmou que foi ameaçado pelos seis policiais militares.
A família do dentista conta que ele saiu de casa, em Aricanduva (zona leste), por volta das 23h30 de terça-feira para deixar sua namorada, que é suíça, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Ele dirigia o seu carro, um Gol verde.
Na volta para casa, porém, teria alterado o trajeto por causa da forte chuva e acabou na zona norte. Foi nesse momento, então, que foi abordado pela polícia.
No dia seguinte, a família percorreu hospitais e prédios do IML (Instituto Médico Legal), auxiliada por ex-colegas da faculdade onde Sant'Ana se formou recentemente. O corpo foi encontrado apenas na quinta-feira, no IML Central. O dentista seria enterrado como indigente.
"Ele era o único negro da sala de aula da universidade. Era alegre e tinha medo da violência. Se estivesse escrito "eu sou dentista" em sua testa, hoje ele estaria vivo", afirmou o pai da vítima.



Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Presos caíram em contradição, diz Corregedoria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.