São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO

Surfista de Florianópolis pode ser fuzilado no país da Ásia; ele foi preso sob acusação de transportar cocaína

Brasileiro é condenado à morte na Indonésia

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA

O surfista brasileiro Rodrigo Gularte, 32, foi condenado à morte por fuzilamento pela Justiça da Indonésia, acusado de tráfico internacional de drogas, em julgamento realizado anteontem pela Corte Provincial de Tangerang (a oeste da capital Jacarta).
Gularte foi preso no dia 31 de julho do ano passado, no aeroporto de Jacarta, acusado de transportar 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Na ocasião, o surfista, que morava em Florianópolis (SC), assumiu a responsabilidade pela droga e isentou dois amigos que viajavam com ele.
Maior país muçulmano do mundo, a Indonésia reprime com severidade o tráfico de drogas. A pena máxima é o fuzilamento. Se for condenado, o réu tem duas chances para tentar rever o julgamento, recorrendo em duas instâncias, processo que chega a durar dois anos.
Segundo a Embaixada do Brasil no país asiático, a defesa de Gularte recorrerá da decisão à própria Corte Provincial. Caso não obtenha sucesso, apelará à Corte Superior. Em último caso, ainda tentará formalizar um pedido de clemência ao governo indonésio.
A extradição do brasileiro não foi possível porque a Indonésia não figura na lista de países com os quais o Brasil mantém acordo de transferência de presos.
O Ministério das Relações Exteriores informou que o vice-cônsul brasileiro na Indonésia acompanhou o julgamento e mantém contato permanente com a família de Gularte desde a prisão.
A embaixada informou que "tem prestado todo o apoio possível, recomendou advogados e está atenta ao tratamento dado ao surfista". Afirmou, entretanto, que não pode interferir na jurisdição do país e que há, inclusive, um aviso no aeroporto, alertando estrangeiros sobre o rigor da Justiça local com o narcotráfico.
Na condição de não ser identificado pela reportagem, um funcionário da embaixada brasileira disse considerar irreversível a condenação de Gularte. "Há 20 anos estou aqui [na Indonésia] e jamais vi a Corte aceitar um pedido de clemência", disse, por telefone.
Em junho do ano passado, outro brasileiro, o instrutor de vôo livre carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 42, foi condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas. Ele foi flagrado com 13,4 kg de cocaína ao chegar ao aeroporto de Jacarta.
A mãe de Rodrigo, Clarisse Muxfeldt Gularte, 59, que vive em Curitiba, assistiu ao julgamento na Indonésia. Em 2004, ela havia passado 18 dias no país asiático, acompanhada da sobrinha Angelita Muxfeldt e trouxe uma carta do filho, na qual pedia perdão à família pelo episódio.
À época, Clarisse Gularte visitou diariamente o filho na prisão e, ao desembarcar no Brasil, disse à Folha estar "mais tranqüila e confiante" de que, "mesmo demorando", seu filho iria "voltar a viver junto da família".
Ontem, os familiares de Gularte, que vivem em Curitiba, não quiseram comentar o assunto. "Não posso falar. Tudo está sendo acompanhado pelo advogado da família. Ele é quem tem autorização para falar sobre o caso", afirmou o irmão do surfista, Cássio.
A Folha tentou localizar durante toda a tarde de ontem, em Porto Alegre (RS), o advogado César Augusto Gularte de Carvalho, mas ele não foi encontrado no escritório nem no telefone celular.


Colaborou DIMITRI DO VALLE, da Agência Folha, em Curitiba


Texto Anterior: Rio: Chacina deixa quatro mortos na zona norte
Próximo Texto: Desde 2000, 31 pessoas tiveram pena máxima
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.