|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
Prefeito diz que atrasar salário é provocação; retenção judicial de verba das viações motivou crise, diz secretário
Greve dos ônibus foi criminosa, diz Serra
CONRADO CORSALETTE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito de São Paulo, José
Serra (PSDB), afirmou ontem que
a paralisação dos ônibus da capital paulista, ocorrida terça-feira,
foi "criminosa". "Essa coisa de
atrasar salários de motorista para
provocar greve é provocação, é
chantagem. Isso nós não aceitamos", disse ele, que não descartou
a existência de um acerto entre
empresas e trabalhadores para
pressionar a administração.
A ameaça das viações de abandonar os contratos de concessão
ocorreu num momento de definição sobre a candidatura de Serra à
Presidência. Ele disputa a vaga do
PSDB com Geraldo Alckmin.
O prefeito disse também que
são falsos os prejuízos que os empresários dizem ter -mais de R$
40 milhões mensais-, apesar de
admitir que "pode" haver necessidade de aumento às empresas.
A gestão tucana afirma que as
viações têm direito a 9,45% de
reajuste, mas elas querem mais.
O sindicato patronal não quis
comentar as declarações de Serra.
O sindicato dos funcionários nega
acerto com as empresas para
pressionar a administração.
Retenção judicial
O secretário dos Transportes,
Frederico Bussinger, revelou ontem algo que ele considera um
dos principais motivos da crise.
Segundo ele, a prefeitura teve
que reter nos últimos meses parte
da remuneração das empresas de
ônibus, por ordem da Justiça, devido às dívidas que elas acumularam desde a década de 90, principalmente com a Previdência.
O secretário disse que decisões
judiciais no final de 2005 determinaram a retenção de até 30% dos
repasses, percentual reduzido depois para 10%. "É inegável que isso cria uma pressão financeira
enorme para as empresas. Mas foram elas que fizeram as dívidas."
Os principais empresários, José
Ruas Vaz e Belarmino Marta,
atuam em São Paulo há décadas,
mas suas viações tinham outros
nomes. Eles passaram a ser acusados pelo INSS de criar empresas
novas, deixando os débitos com
as antigas. A Justiça mandou reter
parte da remuneração delas por
entender que se trata do mesmo
grupo econômico das antigas viações endividadas.
Um levantamento do INSS de
2003 chegou a apontar dívidas
que superavam R$ 2,3 bilhões das
empresas de ônibus paulistas. Só
do grupo Ruas havia mais de R$
500 milhões. Em 2005, a receita
das viações foi de R$ 1,83 bilhão.
A retenção judicial da remuneração levou empresários a pedir
uma atitude da prefeitura para
evitar essa perda de receita. A rescisão dos contratos de concessão
era vista por eles como opção,
ainda que, em seguida, firmassem
acertos emergenciais -sem licitação- para manter a operação.
A pressão para a prefeitura rescindir os contratos já se estende a
vários setores. Negando defender
os interesses das empresas, diversos vereadores afirmam que a
"implosão" do sistema de concessão ajudaria a equilibrar os déficits financeiros. Até dirigentes do
sindicato dos motoristas de ônibus já defendem essa tese.
Bussinger nega cogitar qualquer
medida para minimizar os impactos das dívidas antigas do setor. "Não é um problema da prefeitura", afirmou à Folha.
O SP Urbanuss (sindicato patronal) informou que os eventuais
processos do INSS são "um problema individual de cada empresa" e que a solicitação de reequilíbrio econômico e financeiro dos
contratos "é um direito de todo
particular" quando "vê a situação
econômica desestabilizada".
Texto Anterior: Violência: Agressão a estudante não ocorreu por rixa Próximo Texto: Prefeitura e empresas não cumprem regra Índice
|