São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Segurança e trabalho são os principais fatores de atração

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Quando ouviu da manicure Eliane sua teoria a respeito das vantagens de não morrer num corredor de hospital, Malu Ayala entendeu no ato.
Ela também foi levada a Madri por motivos de saúde, não dela, mas da mãe. Mas teve um segundo e poderoso motivo para fazer o percurso inverso ao dos pais, espanhóis que se instalaram no Brasil em 1956.
"Fernando Collor me pôs para fora", diz Malu, 51. É uma alusão ao Plano Collor, que arruinou muita gente, inclusive Malu, que, dos 37 empregados que chegou a ter em sua firma de decoração, acabou ficando com apenas três.
Em 1991, consumou a volta. Estava gastando o equivalente a US$ 1.000 com o tratamento da mãe, que sofria de esclerodermia, uma enfermidade pouco comum dos tecidos. "Na Espanha, o custo é zero", conta.
E ser pequena empresária, pelo menos no caso dela, não é tão difícil quanto no Brasil. Claro que facilita muito o fato de Malu ter a dupla nacionalidade.
Malu já está no quarto restaurante de sua história madrilenha, o "Santa Gula", a passos da espetacular Plaza Mayor, cartão postal de Madri.
Ao contrário da maioria dos brasileiros que a Folha ouviu, bem mais simpáticos ao socialista Zapatero, nas eleições de hoje, Malu ainda não havia decidido o voto. "Zapatero é o lindo da história, mas não tem conteúdo nem história no PSOE. Mariano Rajoy [candidato da oposição] não tem carisma nenhum e é muito conservador para o meu gosto."
Houve uma formidável explosão na chegada de estrangeiros a partir do também formidável crescimento da economia espanhola (são 14 anos consecutivos de crescimento). Atualmente, há mais de 3 milhões de estrangeiros vivendo legalmente na Espanha, praticamente 9% da população. Ilegalmente, pelas contas do presidente Zapatero, são 250 mil.
Desses 3 milhões, 32,25% são latino-americanos, a maior fatia relativa. Quanto aos brasileiros, os cálculos variam de no mínimo 100 mil ao dobro.
O jornalista Carlos Iavelberg, de classe média alta, morador de Higienópolis em São Paulo, tinha "casa, comida, roupa lavada e carro", além de um emprego (na Folha), com o salário básico para principiante, suficiente para quem morava com os pais. "Aqui em Madri, só tenho uma coisa que não tinha em São Paulo, a segurança."
Não é, entretanto, uma visão consensual. O pesquisador Duval Fernandes relata que, em suas entrevistas, uma frase o marcou, dita por uma senhora: "Aqui não se vive, só se trabalha. Viver é no Brasil".


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