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Segurança e trabalho são os principais fatores de atração
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Quando ouviu da manicure
Eliane sua teoria a respeito das
vantagens de não morrer num
corredor de hospital, Malu
Ayala entendeu no ato.
Ela também foi levada a Madri por motivos de saúde, não
dela, mas da mãe. Mas teve um
segundo e poderoso motivo para fazer o percurso inverso ao
dos pais, espanhóis que se instalaram no Brasil em 1956.
"Fernando Collor me pôs para fora", diz Malu, 51. É uma
alusão ao Plano Collor, que arruinou muita gente, inclusive
Malu, que, dos 37 empregados
que chegou a ter em sua firma
de decoração, acabou ficando
com apenas três.
Em 1991, consumou a volta.
Estava gastando o equivalente
a US$ 1.000 com o tratamento
da mãe, que sofria de esclerodermia, uma enfermidade pouco comum dos tecidos. "Na Espanha, o custo é zero", conta.
E ser pequena empresária,
pelo menos no caso dela, não é
tão difícil quanto no Brasil. Claro que facilita muito o fato de
Malu ter a dupla nacionalidade.
Malu já está no quarto restaurante de sua história madrilenha, o "Santa Gula", a passos
da espetacular Plaza Mayor,
cartão postal de Madri.
Ao contrário da maioria dos
brasileiros que a Folha ouviu,
bem mais simpáticos ao socialista Zapatero, nas eleições de
hoje, Malu ainda não havia decidido o voto. "Zapatero é o lindo da história, mas não tem
conteúdo nem história no
PSOE. Mariano Rajoy [candidato da oposição] não tem carisma nenhum e é muito conservador para o meu gosto."
Houve uma formidável explosão na chegada de estrangeiros a partir do também formidável crescimento da economia espanhola (são 14 anos
consecutivos de crescimento).
Atualmente, há mais de 3 milhões de estrangeiros vivendo
legalmente na Espanha, praticamente 9% da população. Ilegalmente, pelas contas do presidente Zapatero, são 250 mil.
Desses 3 milhões, 32,25%
são latino-americanos, a maior
fatia relativa. Quanto aos brasileiros, os cálculos variam de no
mínimo 100 mil ao dobro.
O jornalista Carlos Iavelberg,
de classe média alta, morador
de Higienópolis em São Paulo,
tinha "casa, comida, roupa lavada e carro", além de um emprego (na Folha), com o salário
básico para principiante, suficiente para quem morava com
os pais. "Aqui em Madri, só tenho uma coisa que não tinha
em São Paulo, a segurança."
Não é, entretanto, uma visão
consensual. O pesquisador Duval Fernandes relata que, em
suas entrevistas, uma frase o
marcou, dita por uma senhora:
"Aqui não se vive, só se trabalha. Viver é no Brasil".
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