São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

Próximo Texto | Índice

Inquérito aponta esquadrão da morte em SP

Polícia Civil afirma que 15 PMs integram grupo de extermínio chamado "Os Highlanders", que seria responsável por 12 mortes

Relatório final segue hoje para a Promotoria do Júri de Itapecerica da Serra (Grande SP); cinco das vítimas foram encontradas decapitadas


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final da Polícia Civil sobre a decapitação de um deficiente mental conclui que existe um grupo de extermínio na Polícia Militar de São Paulo integrado por ao menos 15 policiais e um comerciante, acusados de participação nas mortes de 12 pessoas só em 2008.
Dos PMs investigados, 14 são do 37º Batalhão, na zona sul de São Paulo, e um é integrante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Os PMs e o comerciante estão presos. Uma das 12 vítimas do suposto grupo criminoso é o deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, 31, o Carlinhos.
O documento obtido pela Folha tem 63 páginas e compara a atuação desse suposto grupo com a do "Esquadrão da Morte" -associação de policiais criada nos anos 60 que eliminava supostos bandidos e que se disseminou pelo país. O relatório será entregue hoje à Promotoria do Júri de Itapecerica da Serra (Grande SP).

"Highlanders"
Entre abril e outubro de 2008, cinco pessoas foram encontradas decapitadas, o que levou o grupo a ser chamado de "Os Highlanders". As outras sete vítimas foram baleadas. Dos 12 mortos, 11 viviam nas áreas de Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Jardim Herculano. Um dos decapitados, cujo corpo foi achado no dia 23 de outubro -quando a Folha revelou com exclusividade a investigação dos PMs-, não foi identificado até agora.
Nesta década, quatro grupos de extermínio supostamente criados por policiais foram investigados em São Paulo -Ribeirão Preto (313 km de SP), Guarulhos e Osasco (Grande SP) e, no ano passado, PMs do 18º Batalhão, na zona norte da capital. Em todos os casos, a conclusão foi de que as mortes foram casos isolados, e não ação de um grupo organizado.

Investigação
Foram os depoimentos de testemunhas de 11 dessas 12 mortes que levaram a Polícia Civil a apontar os PMs como suspeitos pelos crimes. Seis dos mortos foram vistos em carros da PM -do 37º Batalhão e da Rota- antes da descoberta de seus corpos. No caso da chacina, testemunhas declararam ter visto 3 dos 15 policiais acusados no local.
"Estamos diante de uma organização criminosa formada por células, sendo certo que alguns achacam, alguns arrebatam, alguns executam, outros acobertam", diz o relatório, assinado por Ivan Jerônimo da Silva, chefe da equipe de investigadores que atuou no caso.
A Promotoria de Itapecerica encaminhará o relatório para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), também do Ministério Público.
O próximo passo será investigar se os PMs suspeitos eram ligados a oficiais da corporação. Um deles, o coronel Eduardo Félix, atual comandante da Tropa de Choque e terceiro na hierarquia da PM, é citado no relatório -testemunhas e PMs acusados declararam, em depoimento, que um dos soldados presos tem ligação com o coronel, de quem seria protegido.


Leia a íntegra do relatório final da Polícia Civil
www.folha.com.br/090672



Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.