São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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COMBUSTÍVEL
Mais da metade da frota de 19 municípios, na Bahia, desrespeita novo Código
25 mil carros a gás rodam fora da lei

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Irecê (BA)

Com menos de dois meses de vigência, o Código Nacional de Trânsito é desrespeitado por cerca de 25 mil dos 45 mil proprietários de carros dos 19 municípios que compõem a região de Irecê (BA).
Ao contrário do que determina a legislação, os proprietários dos veículos utilizam o GLT (Gás Liquefeito de Petróleo, o gás de cozinha) como combustível. Pela nova lei, os carros podem ser movidos somente a gasolina, álcool e diesel.
Segundo o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) da Bahia, a legislação também permite o uso do biogás como combustível em casos específicos (ônibus e projetos experimentais).
A resolução 677/86 do Conatran (Conselho Nacional de Trânsito) estabelece que os veículos movidos a gás de cozinha devem ser apreendidos e multados.
O Detran da Bahia diz que a adulteração no sistema de combustível constitui falta gravíssima e os infratores estão sujeitos a multa de R$ 864,99. No entanto, as "transformações" são feitas em oficinas mecânicas, sem nenhuma fiscalização dos policiais.
Em Irecê (476 km de Salvador), cerca de 50% dos 4.000 carros são movidos a gás de cozinha, segundo informações do secretário municipal dos Transportes, Gilmar Rosa de Almeida, 40. "Os policiais militares fazem vistas grossas e sempre liberam a vistoria e o emplacamento desses veículos."
Os proprietários dos veículos argumentam que o gás de cozinha é mais econômico. Com um botijão de gás (13 kg), o proprietário de um veículo pode rodar até 170 km.
O botijão de gás custa R$ 9 nos postos de Irecê. Com esse valor, o proprietário colocaria menos de dez litros de gasolina ou álcool em seu veículo. "Com dez litros de combustível nós rodamos menos de 70 km", disse o comerciante Edney Pereira de Matos, 31.
Há dois anos, ele resolveu adaptar sua camionete ano 73. "Gastei menos de R$ 200 e estou satisfeito com os resultados."
O secretário municipal de Transportes disse que 80% dos 396 táxis cadastrados em Irecê usam o gás de cozinha como combustível. "Mas não estamos liberando mais alvarás para os táxis movidos a gás."
Para o secretário, a adoção rigorosa do Código Nacional de Trânsito na região de Irecê pode trazer graves problemas sociais. "As pessoas não têm dinheiro para comprar combustível e muitos municípios vão parar se a legislação for cumprida."



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