|
Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
TRT diz que município é responsável por pendência trabalhista de motoristas; Lula pede que Marta não ceda a empresários
Greve acaba, e Prefeitura de SP herda dívida
Caio Guatelli/Folha Imagem
|
Ônibus incendiado na avenida Carlos Lacerda (zona sul) durante o segundo dia de greve em SP |
ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os motoristas e cobradores de
ônibus de São Paulo decidiram,
ontem à noite, suspender a greve
da categoria que parou a capital
paulista e deixou 3,5 milhões de
passageiros sem transporte pelo
segundo dia consecutivo.
A suspensão foi motivada por
uma decisão do TRT-SP (Tribunal Regional do Trabalho), que
considerou a paralisação abusiva,
mas determinou que a prefeitura
deverá pagar os salários dos próximos 15 dias de 10.800 condutores que poderão ser demitidos
-valor estimado em R$ 4,2 milhões- e que ela é responsável
pela dívida trabalhista desses funcionários -avaliada em R$ 70
milhões, perto de 10% das despesas anuais da Secretaria dos
Transportes.
Esses 10.800 motoristas e cobradores (20% de toda a categoria)
pertenciam às nove empresas de
ônibus que foram descredenciadas pela gestão Marta Suplicy
(PT) no sábado passado. Cinco
das nove viações estavam sob intervenção do poder público.
A juíza Vania Paranhos, presidente da sessão especializada em
dissídios coletivos do TRT, disse
que a SPTrans (empresa municipal que cuida do transporte coletivo) poderá, nos próximos 15 dias,
negociar a transferência da dívida
com os empresários do setor.
Mas, se não houver acordo, ela terá que arcar com essa despesa.
"A sessão responsabilizou a
SPTrans, mas ela pode, com consentimento, negociando com os
representantes do Transurb [sindicato patronal], ver se parte do
pagamento [da dívida trabalhista] pode ser efetuado pelo próprio
Transurb", afirmou Paranhos.
O presidente do Transurb, Sergio Pavani, descartou essa possibilidade. "Não se discute mais a
questão da dívida", afirmou.
O juiz João Carlos de Araújo, vice-presidente judicial do TRT,
destacou que a SPTrans "é a responsável direta" pela dívida e explicou que, se ela e as viações não
se dispuserem a pagá-la, os 10.800
funcionários devem obter precatórios e entrarão na lista dos credores municipais.
A Prefeitura de São Paulo pode
recorrer da decisão do TRT. "É
evidente que a prefeitura não vai
assumir essa dívida. Estamos falando de dinheiro público", afirmou Jilmar Tatto, secretário dos
Transportes, que admitiu, porém,
que pagará os próximos 15 dias de
salários dos 10.800 condutores.
Segundo Tatto, as noves descredenciadas não voltarão ao sistema. Suas linhas foram distribuídas a perueiros, motoristas do sistema bairro-a-bairro e às demais
viações. "Esses condutores vão ficar em casa recebendo", disse
Tatto, que deverá, nas próximas
duas semanas, negociar com as
demais viações a transferência de
ao menos parte da mão-de-obra.
Seleção
A SPTrans vai se responsabilizar
pela dívida dessas viações com os
trabalhadores porque é a encarregada de selecionar e controlar a
operação do serviço de transporte
público na cidade.
O juiz José Carlos Arouca chegou a citar reportagem da Folha
publicada ontem, que revelou a
transferência da sociedade de três
empresas de ônibus ao Uruguai,
conhecido paraíso fiscal -operação que protege os donos de um
eventual arresto de bens. "Se
eram maus empresários, se a
SPTrans não soube selecionar, ela
deve responder", disse Arouca.
Os donos das nove viações que
acumulam essa dívida trabalhista
de R$ 70 milhões, entretanto, podem ser responsabilizados pela
prefeitura na Justiça.
Eles não são mais representados
pelo Transurb e não compareceram ontem ao julgamento do
TRT. Um deles, proprietário da
viação Cidade Tiradentes, está
preso.
O TRT também decidiu aplicar
multa de R$ 400 mil ao sindicato
dos motoristas e ao sindicato das
viações pelo descumprimento da
determinação do tribunal de
manter 80% da frota de cada linha
nas ruas nos horários de pico e
70% dela no restante do dia.
Apoio político
Apesar do desgaste por conta de
uma nova greve nos transportes, a
prefeita Marta Suplicy recebeu o
apoio do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Ao discursar para
empresários do setor de construção civil, em São Paulo, Lula fez
um apelo à prefeita para que não
cedesse aos maus empresários
que operam na cidade.
"Peço a você, Marta, que não ceda. Determinados empresários
precisam aprender a tratar o poder público e os usuários com
mais respeito", afirmou.
Próximo Texto: Greve deixa 165 ônibus destruídos Índice
|