São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

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MASSACRE

População dá apoio a ação policial ilegal, diz pesquisa

DA SUCURSAL DO RIO

O PM Carlos Jorge Carvalho, um dos principais acusados da matança na Baixada, é elogiado pelos vizinhos do bairro Parque das Palmeiras, em Belford Roxo, como uma pessoa de bom comportamento. Em Queimados, parentes de duas das vítimas dizem que os mortos conheciam os supostos assassinos e defendiam a ação deles contra os "vagabundos", para "botar lei" no lugar.
Para o cientista político Alberto Almeida, esses sinais de aprovação ao modo de operação dos policiais militares acusados pela chacina (parte dos quais já investigada por outros crimes) comprovam que uma parcela da população apóia punições extrajudiciais para criminosos e incentiva, assim, ações ilegais da polícia.
"Existe uma moralidade nisso: se não há a ordem típica do Estado, aceita-se que policiais a imponham a sua maneira, desde que isso gere um mínimo de convivência pacífica previsível, mesmo fora do padrão constitucional", diz Almeida, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Segundo ele, tanto a defesa da ação dos policiais contra "vagabundos" quanto a indignação quando eles matam inocentes "fazem parte do mesmo fenômeno": "A única diferença é que antes faziam contra pessoas de quem eu não gosto, agora fazem contra pessoas de quem eu gosto".
O cientista político coordenou uma pesquisa realizada pelo DataUFF e financiada pela Fundação Ford que mostrou que uma parcela na faixa de 30% dos brasileiros apóia sempre ou na maioria das vezes diferentes formas de punição ilegal, como a polícia matar assaltantes rendidos ou bater nos presos para que eles confessem crimes. Os percentuais dos que consideram essas duas práticas "sempre erradas" são de 48% e 46%, respectivamente.
O levantamento, publicado na edição de março da revista "Inteligência", de circulação dirigida, foi realizado em 2002, com uma amostra de 2.364 pessoas. Na avaliação do cientista político, episódios conjunturais -como o crime da Baixada- alterariam pouco o resultado obtido porque o fator determinante para a aceitação ou não das punições ilegais é a escolaridade, que leva a mudanças de mentalidade a longo prazo.
Para defender essa tese, Almeida recorre a dados da pesquisa. Eles mostram, por exemplo, que o fato de uma pessoa ter sido vítima de assalto a mão armada não altera a proporção de apoio à morte de assaltantes rendidos pela polícia: 29% dos que nunca foram assaltados consideram essa prática certa, contra 30% dos que sofreram roubo. Em compensação, esse mesmo tipo de ação é considerado certo por 17% dos que têm o curso superior completo e por 23% dos que completaram o segundo grau, contra 40% entre os analfabetos. (CLAUDIA ANTUNES)

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