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MASSACRE
População dá apoio a ação policial ilegal, diz pesquisa
DA SUCURSAL DO RIO
O PM Carlos Jorge Carvalho,
um dos principais acusados da
matança na Baixada, é elogiado
pelos vizinhos do bairro Parque
das Palmeiras, em Belford Roxo,
como uma pessoa de bom comportamento. Em Queimados, parentes de duas das vítimas dizem
que os mortos conheciam os supostos assassinos e defendiam a
ação deles contra os "vagabundos", para "botar lei" no lugar.
Para o cientista político Alberto
Almeida, esses sinais de aprovação ao modo de operação dos policiais militares acusados pela
chacina (parte dos quais já investigada por outros crimes) comprovam que uma parcela da população apóia punições extrajudiciais para criminosos e incentiva,
assim, ações ilegais da polícia.
"Existe uma moralidade nisso:
se não há a ordem típica do Estado, aceita-se que policiais a imponham a sua maneira, desde que isso gere um mínimo de convivência pacífica previsível, mesmo fora do padrão constitucional", diz
Almeida, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Segundo ele, tanto a defesa da
ação dos policiais contra "vagabundos" quanto a indignação
quando eles matam inocentes "fazem parte do mesmo fenômeno":
"A única diferença é que antes faziam contra pessoas de quem eu
não gosto, agora fazem contra
pessoas de quem eu gosto".
O cientista político coordenou
uma pesquisa realizada pelo DataUFF e financiada pela Fundação
Ford que mostrou que uma parcela na faixa de 30% dos brasileiros apóia sempre ou na maioria
das vezes diferentes formas de punição ilegal, como a polícia matar
assaltantes rendidos ou bater nos
presos para que eles confessem
crimes. Os percentuais dos que
consideram essas duas práticas
"sempre erradas" são de 48% e
46%, respectivamente.
O levantamento, publicado na
edição de março da revista "Inteligência", de circulação dirigida,
foi realizado em 2002, com uma
amostra de 2.364 pessoas. Na avaliação do cientista político, episódios conjunturais -como o crime da Baixada- alterariam pouco o resultado obtido porque o fator determinante para a aceitação
ou não das punições ilegais é a escolaridade, que leva a mudanças
de mentalidade a longo prazo.
Para defender essa tese, Almeida recorre a dados da pesquisa.
Eles mostram, por exemplo, que o
fato de uma pessoa ter sido vítima
de assalto a mão armada não altera a proporção de apoio à morte
de assaltantes rendidos pela polícia: 29% dos que nunca foram assaltados consideram essa prática
certa, contra 30% dos que sofreram roubo. Em compensação, esse mesmo tipo de ação é considerado certo por 17% dos que têm o
curso superior completo e por
23% dos que completaram o segundo grau, contra 40% entre os
analfabetos.
(CLAUDIA ANTUNES)
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