São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2007

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Salário baixo já preocupa futuro controlador de vôo

Começa hoje, no Decea em São José dos Campos (interior de São Paulo), curso preparatório com 8 meses de duração

Alguns dos 64 selecionados entre 16 mil concorrentes reclamam da indefinição sobre as condições de trabalho que enfrentarão

Danilo Verpa/Folha Imagem
Saguão de Congonhas (zona sul de SP), que ficou fechado ontem por 22 minutos por causa da chuva; segundo a Infraero, até as 19h, 66 vôos em todo o país apresentavam atraso superior a uma hora

VINICIUS ABBATE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Antes mesmo do início do curso do qual sairão os próximos 64 controladores de vôo brasileiros, os civis que conseguiram as vagas já demonstram insatisfação com problemas relativos à profissão.
Ouvidos pela Folha, eles reclamam do salário que vão receber e da indefinição sobre as condições de trabalho.
Essas reivindicações são apontadas como as principais causas que motivaram a insurgência dos controladores de vôo há dez dias.
O salário inicial dessa equipe será de R$ 3.158, e o curso preparatório começa hoje, na sede do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), órgão submetido à Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).
O técnico em comunicação Danilo Leal Raul, 23, conseguiu uma das vagas, mas já pensa em desistir de seguir a carreira.
"Não acho que o salário condiz com os riscos que envolvem a profissão. Não ter um plano de carreira é um desincentivo para quem está começando." Ele disse que conseguiu um emprego de analista de rede, mas preferiu não comentar quanto vai ganhar.
"Está longe de ser um bom salário, principalmente se comparado ao dos controladores dos outros países e se pensarmos que vamos lidar com centenas de vidas", afirma Angelo Pelli Junior, 25, engenheiro mecatrônico.
Controlar vôos será a primeira profissão de Sidney de Araújo Filho, 22. Ele acredita que a questão salarial estará resolvida entre as autoridades nos próximos nove meses. "É pouco em comparação aos controladores dos EUA", disse.
Os futuros controladores afirmam desconhecer a quem estarão subordinados. "Estou me preparando para a profissão imaginando as melhores condições possíveis, materiais e de descanso. Mas pode ser que, com o passar do tempo, o salário seja baixo", afirma Rodrigo Augusto Cunha, 32, engenheiro civil.
Arthur Tarao, 34, estava desempregado na época em que o governo decidiu realizar o concurso. Disse que a maioria das pessoas que prestou o concurso nunca tinha pensado na possibilidade de trabalhar como controlador.
"Ninguém ali [no concurso] pensava em ser controlador de vôo. No meu caso, estava fora do mercado de trabalho e o salário me atraiu", disse. No entanto, ele disse que o salário "talvez seja baixo" para a responsabilidade do cargo.
Ex-atendente de telemarketing, Felipe Noll, 20, diz que a "maior motivação é o salário", mas rejeita o comando militar. "Teria que ser civil, para evitar conflito de interesses".
O curso de formação dos controladores se estenderá pelos próximos oito meses.
Depois de formados, os controladores serão encaminhados aos quatro Cindactas (Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), que funcionam em Brasília (Cindacta-1), Curitiba (2), Recife (3) e Manaus (4).
Mais de 16 mil pessoas de todo o país prestaram o concurso no ano passado, média de 264 concorrentes por vaga.


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