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"Há estudos a respeito de tudo", diz prefeito
Para Jorge Roberto da Silveira (PDT), não havia qualquer evidência de que o terreno no morro do Bumba poderia deslizar
Pesquisador da UFF que atuou no estudo, entregue em 2004, diz que a área era uma "montanha de lixo" e que a prefeitura foi alertada
DA SUCURSAL DO RIO
O prefeito Jorge Roberto da
Silveira (PDT), que administra
Niterói pela quarta vez, minimizou o trabalho dos pesquisadores da Universidade Federal
Fluminense que apontou, há
seis anos, riscos de desmoronamentos no morro do Bumba,
onde um deslizamento provocou o desaparecimento de dezenas de pessoas anteontem.
""Há estudos a respeito de tudo na cidade", disse ontem. Em
2004, quando o trabalho foi entregue ao governo municipal, o
prefeito era o atual vice, Godofredo Pinto (PT), que não foi localizado ontem pela Folha.
Nenhum trabalho foi feito
pela administração de Niterói
com base no estudo, mas Silveira insistiu que a prefeitura
nunca teve nenhum sinal de
risco de desmoronamento na
área. Disse que uma prova de
que a administração estava
atenta é que tinha enviado um
maquinário para a região três
dias antes, em razão de ""um pequeno deslizamento de terra" .
A máquina, de acordo com
ele, acabou engolida com os escombros anteontem. ""Se houvesse evidência de problema, é
evidente que teríamos agido de
imediato"", afirmou.
"Montanha de lixo"
"O estudo já alertava sobre o
risco de acidentes, que a área
era de alta suscetibilidade [de
ocorrer deslizamentos]. Porque era uma montanha de lixo,
que é muito menos firme do
que a terra, principalmente
quando está molhado", afirmou ontem o geólogo Adalberto da Silva, professor da UFF.
De acordo com ele, a administração municipal foi alertada sobre os riscos da ocupação
da área. "O relatório foi encaminhado para a prefeitura e
ressaltava a necessidade de haver um monitoramento constante do terreno", declarou.
A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, destacou que a responsabilidade de
impedir a ocupação do solo é
dos municípios. Portanto, a desocupação daquela área caberia
à Prefeitura de Niterói.
O governador Sérgio Cabral
(PMDB), porém, afirmou que
não é hora de apontar culpados
pelo soterramento. Ao visitar
ontem o morro do Bumba, Cabral cochichou ao prefeito:
""Não aceite nenhuma provocação", sussurrou ao pé do ouvido
de Silveira -sua recomendação
foi captada, porém, pelo gravador do repórter da Folha.
O presidente do Crea-RJ
(Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio),
Agostinho Guerreiro, afirmou
que áreas que acumulam lixo
têm pouca sustentação e são
mais vulneráveis a deslizamentos. "Antes de ocupar, seria
preciso um laudo geotécnico
que comprovasse a ausência de
risco. O poder público deveria
fazer esse estudo, mas o prejuízo sempre sobra para a população mais pobre", disse.
Silveira afirmou "que não havia qualquer sinalização de que
isso ocorreria". "O lixão estava
desativado. Ninguém poderia
imaginar. Lamentavelmente,
isto ocorreu e estamos estudando as causas e as consequências no entorno", disse.
(FÁBIO GRELLET E ELVIRA LOBATO)
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