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Há 2 dias, ambulante faz romaria à procura de 15 parentes e vizinhos
BRUNA FANTTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Sentado em uma cadeira de
plástico na porta do Instituto
Médico Legal no Rio, o ambulante Luiz Carlos de Souza Ribeiro, 63, escrevia em um papel
os nomes das 15 pessoas que
procurava havia dois dias.
Eram vizinhos e sete parentes que foram soterrados em
um deslizamento que arrastou
um conjunto de casas centenárias no morro dos Prazeres.
"Sei que minha filha, meu
genro e os filhos ainda estão no
morro porque os bombeiros
não conseguiram cavar até a casa onde moravam", disse, passando o dedo com carinho nos
nomes de Lucas e Cristiane, de
oito e nove anos respectivamente. Eram seus netos.
"Como o prefeito disse para
ninguém sair de casa, eles ficaram dormindo. No meio do caminho, desisti de ir trabalhar e
voltei. No local da casa em que
morei desde meus cinco anos
só tinha lama."
Ribeiro ainda conseguiu tirar
dos escombros, antes da chegada dos bombeiros, um enteado
de 47 anos, um sobrinho de 12 e
um irmão de 57. Mas eles morreram a caminho do hospital.
"Não liberam os corpos por falta de documentos. Mas se nem
minha filha ou meu genro os
bombeiros conseguem achar,
como é que eu vou achar uma
carteira de identidade?"
Na escada, escutando Ribeiro
falar da perda da família, estava
o estudante Gabriel Bastos de
Oliveira, 20. Procurava a noiva,
Talita Ribeiro, da mesma idade.
"Já passei em nove hospitais
desde ontem, mas ela não está
em nenhum. Estou aqui acompanhando a mãe dela, que veio
identificar o corpo da irmã da
Talita. Mas vou passar em mais
hospitais." A busca de Gabriel
já durava dois dias e era motivada pelas palavras de um vizinho. "Ele disse que tiraram
com vida uma ruiva da lama. Só
pode ser a "Tali'", afirmou.
O ajudante de obras Francis
dos Santos, 30, reclamava da
falta de informação no IML e
aguardava a liberação dos corpos de parentes. "Já identifiquei o meu irmão, Telmo, 34,
minha cunhada, Juliana, 31, e
minha afilhada, Gabriele, de
um ano", disse. O diretor do
IML, Francis Ferline, disse que
o instituto tem capacidade para
até 300 corpos e que a demora
nas liberações se deve à falta de
documentação.
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