São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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Há 2 dias, ambulante faz romaria à procura de 15 parentes e vizinhos

BRUNA FANTTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Sentado em uma cadeira de plástico na porta do Instituto Médico Legal no Rio, o ambulante Luiz Carlos de Souza Ribeiro, 63, escrevia em um papel os nomes das 15 pessoas que procurava havia dois dias.
Eram vizinhos e sete parentes que foram soterrados em um deslizamento que arrastou um conjunto de casas centenárias no morro dos Prazeres.
"Sei que minha filha, meu genro e os filhos ainda estão no morro porque os bombeiros não conseguiram cavar até a casa onde moravam", disse, passando o dedo com carinho nos nomes de Lucas e Cristiane, de oito e nove anos respectivamente. Eram seus netos.
"Como o prefeito disse para ninguém sair de casa, eles ficaram dormindo. No meio do caminho, desisti de ir trabalhar e voltei. No local da casa em que morei desde meus cinco anos só tinha lama."
Ribeiro ainda conseguiu tirar dos escombros, antes da chegada dos bombeiros, um enteado de 47 anos, um sobrinho de 12 e um irmão de 57. Mas eles morreram a caminho do hospital. "Não liberam os corpos por falta de documentos. Mas se nem minha filha ou meu genro os bombeiros conseguem achar, como é que eu vou achar uma carteira de identidade?"
Na escada, escutando Ribeiro falar da perda da família, estava o estudante Gabriel Bastos de Oliveira, 20. Procurava a noiva, Talita Ribeiro, da mesma idade.
"Já passei em nove hospitais desde ontem, mas ela não está em nenhum. Estou aqui acompanhando a mãe dela, que veio identificar o corpo da irmã da Talita. Mas vou passar em mais hospitais." A busca de Gabriel já durava dois dias e era motivada pelas palavras de um vizinho. "Ele disse que tiraram com vida uma ruiva da lama. Só pode ser a "Tali'", afirmou.
O ajudante de obras Francis dos Santos, 30, reclamava da falta de informação no IML e aguardava a liberação dos corpos de parentes. "Já identifiquei o meu irmão, Telmo, 34, minha cunhada, Juliana, 31, e minha afilhada, Gabriele, de um ano", disse. O diretor do IML, Francis Ferline, disse que o instituto tem capacidade para até 300 corpos e que a demora nas liberações se deve à falta de documentação.


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