São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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ANÁLISE

Idade escolar deveria ser alvo

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Apesar do preço relativamente salgado da dose, que deve ficar entre R$ 60 e R$ 90, a imunização de crianças em idade escolar com a vacina trivalente -que chega agora às clínicas particulares e oferece proteção tanto contra a gripe sazonal como contra a pandêmica- pode ser uma boa ideia.
Se cabe uma crítica ao bom plano de vacinação do Ministério da Saúde -no qual a imunização é gratuita-, é que ele optou por deixar de lado a população em idade escolar.
Trata-se de decisão justificável, dados os critérios escolhidos para definir quais seriam os grupos prioritários. O principal deles foi a gravidade com que cada estrato demográfico se viu atingido na primeira passagem do vírus pandêmico.
Como crianças e jovens entre 2 e 19 anos não foram particularmente afetados, acabaram ficando de fora. Só que teria sido interessante vacinar a população em idade escolar porque ela representa um elo importante na cadeia de transmissão do vírus. Crianças, afinal, tendem a contrair o vírus mais facilmente e o transmitem por mais tempo, além de conviverem de maneira próxima com colegas, pais e avós.
Esse, aliás, foi um dos argumentos utilizados por algumas secretarias estaduais da Saúde para defender sua decisão de adiar o reinício das aulas no meio do ano passado.
Há farta literatura mostrando que crianças desempenham o papel principal nas contaminações de gripe sazonal que ocorrem dentro de casa. Outros estudos sugerem que é possível reduzir a morbimortalidade da influenza na população geral vacinando apenas crianças.
Num já clássico trabalho publicado pelo "New England Journal of Medicine" em 2001, Thomas Reichert e outros mostraram que, no Japão, onde até 1994 a vacinação de estudantes contra a gripe era obrigatória por lei, a imunização juvenil protegia também a população mais velha, para a qual a cobertura vacinal era irrisória. Quando a lei foi revertida e os índices de imunização de jovens caíram acentuadamente, a mortalidade dos idosos subiu. Pelos cálculos dos pesquisadores, cada 420 crianças vacinadas resultam em uma morte evitada.
É o que a epidemiologia chama de imunidade de rebanho.


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