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Aos 60 anos, Maria tira seu primeiro documento
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA
Depois de cerca de 60 anos, Maria Mendes Alves começou a existir oficialmente: tirou documentos pela primeira vez na vida para
poder ser incluída no programa
Fome Zero.
Moradora de Guaribas, uma das
duas cidades do semi-árido do
Piauí em que o programa começou, ela diz que nunca tirou documentos porque não tinha dinheiro e porque ninguém incentivou.
"Tinha medo de pegar um carro.
Agora estou feliz porque vou poder me aposentar", disse.
Alves mora com o marido Isaías
e dois de seus três filhos em uma
pequena casa de barro, de apenas
um cômodo.
A filha mais velha foi morar em
uma cidade vizinha depois do casamento -é a única da família
que já tinha algum documento.
Agora Isaías e os meninos, que
têm 12 e 16 anos, também estão tirando os papéis -que ainda não
chegaram.
Como a mulher, Isaías diz ter
cerca de 60 anos -eles não sabem exatamente o dia em que
nasceram e não comemoram o
aniversário.
Feijão e milho
Eles têm uma pequena horta de
feijão e milho e também trabalham por dia em roças de outras
pessoas. Antes do Fome Zero, não
estavam inscritos em nenhum
programa social.
Com os R$ 50 mensais que recebem por meio do cartão-alimentação, Maria Alves compra arroz,
óleo, leite, massa de milho e um
pouco de carne.
Alves tem problemas auditivos
e dificuldade de entendimento.
Ela falou à Agência Folha por telefone, com a ajuda do vizinho Aílton Correia da Silva, 40.
"Todos na família são um pouco avoados, mas não são deficientes mentais. Só ela não escuta direito", disse o vizinho.
Alves conta que começou a perder a audição quando tinha aproximadamente 12 anos.
O sonho dela é ter uma casa melhor. "Eu quero casa, quero as coisas, quero tudo. Para eu mesma
poder limpar", disse.
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