São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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PM apreende agenda com contas do tráfico

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

No sétimo dia de ocupação policial na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio, mais um homem foi morto, elevando o número de vítimas no confronto para sete. Durante a ocupação, a polícia apreendeu um caderno com anotações da contabilidade do tráfico de drogas. Um homem identificado como Jucimar, 37, deu entrada no hospital Getúlio Vargas às 17h20, já morto. Mais uma mulher foi ferida por bala perdida. Em uma casa na favela, policiais apreenderam um caderno de contabilidade do tráfico, em que estão listados custos de serviços e pagamentos de membros da facção criminosa Comando Vermelho aos traficantes do complexo do Alemão. Os valores variam de R$ 500 a R$ 13.480 -este último valor aparece como repasse de um só ponto de venda de drogas. A contabilidade lista ainda conserto de fuzil (R$ 700) e uma suposta ação com um carro clonado da Polícia Federal (R$ 4.400). Há ainda pagamentos a pessoas que levam drogas e celulares para presídios.

Feridos
Das 32 pessoas feridas na favela Vila Cruzeiro (Penha, zona norte) nos últimos sete dias durante enfrentamentos entre policiais e criminosos, 18 (56,2%) foram atingidos nos braços e pernas, revela a estatística do Hospital Estadual Getúlio Vargas, responsável pelos atendimentos. Para o comandante-geral da PM (Polícia Militar), coronel Ubiratan Ângelo, os traficantes estão atirando nos moradores, especialmente nos braços e pernas, de raspão, com o objetivo de jogar a opinião pública contra a operação policial.
Dos 18 baleados nos braços e pernas, 13 foram medicados e liberados em seguida pelo Getúlio Vargas. Foram vítimas de balas perdidas disparadas durante trocas de tiros. Para o presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio, a declaração do comandante da PM é equivocada. "Não existe isso. Eles [os policiais] estão procurando uma justificativa para fazer o que estão fazendo. A polícia está agindo pior do que os meliantes. Nós estamos preocupados em restabelecer a ordem. Só isso", disse ele. A Folha tentou ouvir ontem o comandante da PM. O Serviço de Relações Públicas da corporação informou que Ângelo não comentaria mais o caso.
O diretor do Getúlio Vargas, Carlos Alberto Chaves, reconheceu que a incidência de tiros nos membros inferiores e superiores tem sido grande, mas não crê em disparos propositais. "Um tiro de fuzil em um braço pode arrancá-lo", observou ele, para quem as vítimas que vêm sendo atendidas devem ter sido atingidas por estilhaços de balas que se romperam no choque com obstáculos rígidos, como paredes. Desde a terça-feira da semana passada o hospital já registrou o ingresso de 38 vítimas, das quais seis morreram e 14 continuam internadas. Ontem à tarde, foi hospitalizada Antônia Dalva dos Santos, 32, baleada de raspão no braço direito. A ocupação da favela por policiais militares ocorreu na noite de terça-feira da semana passada (1º de maio), horas depois do assassinato dos soldados Marcos André da Silva e Marco Antônio Ribeiro, da PM, no subúrbio de Oswaldo Cruz.
De acordo com a Secretaria de Segurança, os responsáveis pelo assassinato dos policiais estão escondidos no morro. Ontem, moradores realizaram uma manifestação contra a ocupação policial na favela.


Colaborou SÉRGIO RANGEL, da SUCURSAL DO RIO


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