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PM apreende agenda com contas do tráfico
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
No sétimo dia de ocupação
policial na Vila Cruzeiro, zona
norte do Rio, mais um homem
foi morto, elevando o número
de vítimas no confronto para
sete. Durante a ocupação, a polícia apreendeu um caderno
com anotações da contabilidade do tráfico de drogas.
Um homem identificado como Jucimar, 37, deu entrada no
hospital Getúlio Vargas às
17h20, já morto. Mais uma mulher foi ferida por bala perdida.
Em uma casa na favela, policiais apreenderam um caderno
de contabilidade do tráfico, em
que estão listados custos de
serviços e pagamentos de
membros da facção criminosa
Comando Vermelho aos traficantes do complexo do Alemão.
Os valores variam de R$ 500
a R$ 13.480 -este último valor
aparece como repasse de um só
ponto de venda de drogas.
A contabilidade lista ainda
conserto de fuzil (R$ 700) e
uma suposta ação com um carro clonado da Polícia Federal
(R$ 4.400). Há ainda pagamentos a pessoas que levam drogas
e celulares para presídios.
Feridos
Das 32 pessoas feridas na favela Vila Cruzeiro (Penha, zona
norte) nos últimos sete dias durante enfrentamentos entre
policiais e criminosos, 18
(56,2%) foram atingidos nos
braços e pernas, revela a estatística do Hospital Estadual
Getúlio Vargas, responsável pelos atendimentos.
Para o comandante-geral da
PM (Polícia Militar), coronel
Ubiratan Ângelo, os traficantes
estão atirando nos moradores,
especialmente nos braços e
pernas, de raspão, com o objetivo de jogar a opinião pública
contra a operação policial.
Dos 18 baleados nos braços e
pernas, 13 foram medicados e
liberados em seguida pelo Getúlio Vargas. Foram vítimas de
balas perdidas disparadas durante trocas de tiros.
Para o presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio, a declaração do comandante da PM
é equivocada.
"Não existe isso. Eles [os policiais] estão procurando uma
justificativa para fazer o que estão fazendo. A polícia está agindo pior do que os meliantes.
Nós estamos preocupados em
restabelecer a ordem. Só isso",
disse ele.
A Folha tentou ouvir ontem
o comandante da PM. O Serviço de Relações Públicas da corporação informou que Ângelo
não comentaria mais o caso.
O diretor do Getúlio Vargas,
Carlos Alberto Chaves, reconheceu que a incidência de tiros nos membros inferiores e
superiores tem sido grande,
mas não crê em disparos propositais. "Um tiro de fuzil em
um braço pode arrancá-lo", observou ele, para quem as vítimas que vêm sendo atendidas
devem ter sido atingidas por
estilhaços de balas que se romperam no choque com obstáculos rígidos, como paredes.
Desde a terça-feira da semana passada o hospital já registrou o ingresso de 38 vítimas,
das quais seis morreram e 14
continuam internadas. Ontem
à tarde, foi hospitalizada Antônia Dalva dos Santos, 32, baleada de raspão no braço direito.
A ocupação da favela por policiais militares ocorreu na noite de terça-feira da semana
passada (1º de maio), horas depois do assassinato dos soldados Marcos André da Silva e
Marco Antônio Ribeiro, da PM,
no subúrbio de Oswaldo Cruz.
De acordo com a Secretaria
de Segurança, os responsáveis
pelo assassinato dos policiais
estão escondidos no morro.
Ontem, moradores realizaram uma manifestação contra
a ocupação policial na favela.
Colaborou SÉRGIO RANGEL, da SUCURSAL DO RIO
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