São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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Do you speak english?

Autodidata, Bob Chiclete, vendedor de balas em uma esquina de Higienópolis, busca interagir só em inglês com clientes

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

"Hey, man!", gritam duas crianças, enquanto atravessam a rua Sergipe, em frente à Consolação, fazendo joia com as mãos. Em um período de dez minutos, outras sete pessoas, em carros, motos e até num veículo da Receita Federal, passam soltando cumprimentos em inglês.
Elas se dirigem ao vendedor de balas que trabalha naquele ponto há 21 anos.
Não é um vendedor qualquer. É "Joseph Robert" da Silva, 46, "nickname" Bob Chiclete, que só vende suas balas de eucalipto e hortelã falando "in English".
E onde aprendeu a falar?, vem a pergunta inevitável.
"It's easy. Here, at the corner", responde prolixamente, dizendo que é fácil, aprendeu nas esquinas.
Mais tarde, explica: "Um dia, perguntei a um estudante como se dizia "bom dia" em inglês. Depois, soube o que era "my friend". E assim fui engrenando e melhorando a abordagem".
Segundo ele, até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, morador da região, já lhe deu algumas dicas sobre falsos cognatos e formas "polite" de se conversar.
Outros lhe presentearam com livros didáticos, que ele estuda com afinco durante a tarde, ao chegar em casa, em Embu, depois de vender balas entre 9h e 14h. "I study a lot", afiança.
E dessa forma autodidata foi que aprendeu ainda o português, já que cursou apenas no ano retrasado até a quarta série do ensino fundamental. E frases de alemão, grego, japonês, italiano, francês e árabe -o que a repórter não pôde comprovar.
Além de livros, ele também ganha roupas de presente dos clientes, que, em sua maioria, viraram amigos do popular vendedor.
Na quinta-feira passada, vestia um sapato de couro preto com bico fino, calça de linho verde-musgo, camisa mostarda, gravata e blazer grafite. Mesmo tão bem-vestido, diz que já sofreu preconceito de quem acha "absurdo" ele saber inglês.
Ele brinca que só faz negócio com quem corresponde. E por que tudo isso, afinal? "É meu marketing." Vende mais? "Of course!" -diz, dando certeza. "I hope", relativiza em seguida, com seu "espero que sim".
Mas parece verdade. Na mesma hora uma moça buzina para ele se aproximar e leva dois pacotes de balas, R$ 1 cada um. É a bancária Bruna Luca, 21, que "sempre compra" de Bob Chiclete, ela própria falando inglês com ele. No fim do dia, Bob costuma ter vendido tudo, R$ 54.
Quem não entende a língua se cativa com a simpatia: "Ele está sempre aqui, bonitão assim, é um barato", diz o fotógrafo Waldir Guerra, 53, em outro carro. "Não sei inglês, mas me divirto."


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