São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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GRAVAÇÕES 2
Vereador cogita trocar benefícios pessoais por voto para presidência da Câmara e para projeto sobre lotações
Enéas sugere que venderia voto por R$ 50 mil

da Reportagem Local

Em duas das conversas gravadas às quais a Folha teve acesso, o vereador Osvaldo Enéas (Prona) sugere ser capaz de mudar seu voto se receber em troca vantagens políticas e financeiras.
Ambos os diálogos foram gravados em outubro de 97 por Sidney L'Abatti, que na ocasião já havia saído do gabinete do vereador e estava trabalhando em seu escritório político na Vila Formosa (zona sudeste de São Paulo).
No primeiro deles, o parlamentar sugere que votaria no candidato à presidência da Câmara que lhe oferecesse o maior montante em dinheiro, indicando que a negociação seria possível também com outros vereadores (veja abaixo).
"Você já pensou se ele chegar assim para um cara que tá capengando, assim igual eu, com 50 paus?", disse Enéas a L'Abatti.
Ele cogitava a possibilidade de o então vereador Hanna Garib (suspenso do PPB, hoje deputado estadual) vencer o candidato à reeleição Nelo Rodolfo (PPB, hoje deputado federal) se oferecesse dinheiro para os colegas de plenário.
Garib acabou não se candidatando e Rodolfo, candidato único, foi eleito com 44 votos -um deles de Enéas. A definição em torno do nome de Rodolfo foi obtida depois de o então secretário de Governo, Edevaldo Alves da Silva, ter ameaçado de retaliação os vereadores governistas da "ala rebelde".
As negociações para a composição da mesa diretora da Câmara também tiveram a participação direta de Edevaldo, que acompanhou por telefone todo o desenrolar da votação.

Perueiros
O segundo diálogo gravado por L'Abatti ocorreu uma semana antes de a Câmara Municipal tentar colocar em pauta pela primeira vez um projeto de lei que limitava a 2.700 o número de lotações legalizadas na cidade de São Paulo.
A tentativa estava prevista para a terça-feira dia 21 de outubro, mas os governistas deixaram o plenário após nove horas de sessão e o projeto de autoria de Nelo Rodolfo só foi votado e aprovado dia 23.
"Eu pensei assim: "Vou segunda, porque se ele não der, voto a favor dos perueiros na terça'", disse Enéas a L'Abatti. Ele se referia a uma conversa que, um dia antes da data prevista para a votação do projeto dos perueiros, tentaria marcar com o então secretário de Governo, Edevaldo Alves da Silva, para negociar o módulo 5 do PAS.
Enéas ameaçava votar contra a orientação do governo -que queria ver limitado o número de lotações- caso Edevaldo não confirmasse que o controle do módulo seria entregue ao Prona.
Poucos sabem o que conversaram Enéas e Edevaldo, mas o fato é que o vereador continuou votando com o governo e ameaçando se rebelar. Ganhou o módulo 5 do PAS no final de 97 e, em abril do ano passado, pôde indicar o novo interventor de Itaquera.
(SÍLVIA CORRÊA)




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