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FERTILIZAÇÃO
Conselho de Medicina determina o congelamento e proíbe a destruição mesmo que autorizada pelo casal
Pais deixam embriões órfãos em clínicas
CLÁUDIA COLLUCCI
da Redação
Um dos maiores dilemas hoje na
área da reprodução humana é o
destino dos embriões congelados
deixados nas clínicas após processos de fertilização artificial.
No Brasil, ainda não há lei que regulamente a questão, mas uma resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) proíbe o descarte
dos embriões excedentes e determina que sejam mantidos congelados indefinidamente.
O único destino aceito pelo CFM
é a doação com autorização do casal. Ocorre que muitos casais, por
razões que vão desde a obtenção
da gravidez desejada até um divórcio, abandonam seus embriões nas
clínicas.
Mantidos em tanques de nitrogênio, a temperaturas inferiores a
190C negativos, esses embriões
"órfãos" têm destino incerto, que
esbarra em questões legais, éticas e
religiosas.
Segundo levantamento feito pela
Folha nas dez maiores clínicas de
reprodução humana do país, há
cerca 4.000 embriões congelados.
Desses, pelo menos 1.000 foram
"abandonados" pelos pais.
Segundo Antônio Henrique Pedrosa, 49, secretário-geral do
CFM, a destruição dos embriões é
proibida até mesmo quando há
autorização dos pais para isso (leia
texto abaixo).
Não é o que acontece em muitas
clínicas espalhadas pelo país. A
Folha apurou que, mediante autorização dos pais, esses embriões
são destruídos. Algumas chegam a
implantar os embriões em um período improvável de a mulher engravidar, como durante a menstruação, para que haja um descarte
"natural".
Com relação aos embriões órfãos, muitos médicos defendem
que eles possam ser doados a outros casais, ou simplesmente descartados.
A Igreja Católica condena todas
essas práticas. Em documento intitulado "Instrução Sobre o Direito
à Vida Humana Nascente e a Dignidade da Procriação", de 1987, a
igreja considera os embriões seres
humanos, e não apenas "um aglomerado de células".
Segundo o padre Léo Pessini, 43,
especialista em bioética, a igreja
prega que os embriões devam ser
tratados como pessoa.
Ele diz que entre os religiosos liberais e ortodoxos existe uma unanimidade: embrião não é coisa.
"Ele já participa da mesma dignidade da pessoa humana e deve ter
seus direitos preservados." O descarte de embriões seria, para a
igreja, o mesmo que um aborto.
Para o andrologista Roger Abdelmassih, de São Paulo, a vida começa no momento em que o embrião gruda no útero. "Não fico tão
desesperado com essa polêmica
porque tenho convicção que embrião não é vida", afirma. Segundo
ele, a clínica tem, no máximo, 60
embriões congelados.
Ele afirma que, desde o início do
processo de congelamento, os casais assinam um termo se comprometendo a implantar, doar ou autorizar o descarte dos embriões excedentes congelados em um prazo
máximo de três anos. Ele diz que
não tem nenhum caso de "embrião órfão".
"Se os embriões não são gente,
têm um grande potencial para
ser", diz o médico José Gonçalves
Franco Júnior, diretor brasileiro
da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida. Ele afirma que
mais de 60 crianças já nasceram no
seu centro, em Ribeirão Preto, por
meio da técnica de congelamento
de embriões.
Franco Júnior tem 2.313 embriões congelados em sua clínica.
Ele afirma que o índice de abandono varia de 20% a 25%. "Muitos
dos clientes são de outros Estados
e fica difícil para eles vir até aqui."
Segundo o médico Edson Borges
Júnior, 38, diretor da Fertility, uma
equipe está procurando os 94 casais que mantêm embriões congelados para saber que destino dar
ao material.
Eles têm as opções de mantê-lo
congelado, doar ou autorizar o
descarte. Para deixar os embriões
congelados, a clínica cobra uma
taxa de R$ 480 por semestre.
O médico diz que a clínica perdeu contato com pelo menos 20
pais que "abandonaram" seus embriões. Muitos mudaram de endereço e não informaram a clínica.
Outros se separaram e não querem
mais saber dos embriões.
Borges Júnior afirma que vai pedir autorização ao Conselho Federal de Medicina para descartar os
embriões "abandonados".
Segundo Maria do Carmo Borges de Souza, 46, responsável pela
Clínica GO Barra, no Rio de Janeiro, a maior preocupação das clínicas é com o prazo indefinido para
o congelamento dos embriões.
"Não nos interessa essa tutela por
um prazo indeterminado." A clínica tem 40 embriões congelados.
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