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COMPORTAMENTO
Em crise, setor derruba os preços nos finais de semana para tentar levantar a baixa taxa de ocupação
Flats viram "motel" de jovens paulistanos
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda nos preços das diárias
dos flats em São Paulo provocou
um efeito inesperado: os jovens
paulistanos agora têm usado esses
apartamentos como alternativa
aos motéis. Com o Dia dos Namorados nesta quinta-feira, a dúvida
entre um e outro pode até surgir.
Nos finais de semana, promoções para tentar levantar a ocupação derrubam os preços para menos de R$ 100, valor parecido ou
até mais baixo que o de motéis.
A diferença é simples: nos flats
não há espelhos no teto nem hidromassagem (o que pode ser positivo ou negativo, a depender do
gosto de cada um...), e a diária só
acaba no dia seguinte, com café da
manhã. Nos motéis, o que conta é
a privacidade e a mudança de visual, sem cara de rotina.
A estudante Priscyla Barbosa,
20, namora há quatro e conta que
o ideal é alternar. "Em flat, vou
por causa do horário, para poder
dormir. Não é vai, faz, tá bom, vamos embora. Mas tem que ter espelho no teto de vez em quando,
senão vira rotina. É legal cama redonda, que não tem em casa."
Como namora desde a adolescência, ela conta que nunca saiu
com alguém "novo" de algum lugar à noite e fez sexo. Mas avalia:
"Quando a menina está na balada, é mais legal motel. Para quem
namora, é mais legal flat".
Essa relação -só sexo-motel,
relacionamento-flat- é o que
pensa a maioria dos ouvidos pela
Folha. O perfil é mais ou menos o
mesmo. Moram com os pais, mas
já trabalham e ganham, e gastam,
o seu próprio dinheiro.
Para os homens, o período mais
curto do motel ajuda a "escapar"
do encontro quando não existe
intimidade. No flat, é meio "obrigatório" dormir junto depois.
O estudante Denis Melo, 23, explica. "Motel é quando é para ser
uma coisa mais rápida. Flat é
quando é mais programado. Tem
muito flat que você chega de madrugada e está lotado."
Na rede Parthenon -em que a
diária cai a R$ 65 nas sextas e nos
sábados quando se apresenta um
ingresso de teatro, cinema ou museu-, Denis já conseguiu quarto
com a promessa de levar o tíquete
só no dia seguinte. Deu certo, mas
da última vez que tentou, não.
Nos flats da rede Transamérica
nos Jardins e no Itaim Bibi, o preço médio fica em R$ 90. No Blue
Tree Towers Vila Olímpia, a tarifa
nos finais de semana é de R$ 97.
Nas regiões mais próximas às
discotecas e bares desse público,
os casais -ou os otimistas- fazem reservas com antecedência.
Outro estudante Flávio Freire,
21, também tem sua tese: "Acho
que motel é mais para uma noite
de sexo. No flat dá para deixar
jantar marcado, é para uma pessoa que você já tem afinidade".
Essa percepção encontra apoio
feminino. Paula Marques, 20, afirma que nunca foi a flats à noite,
mas acha que "os dois são legais".
"O legal de motel é que tem suítes
temáticas, essas coisas. Flat é mais
de romantismo, quando o cara
quer impressionar a menina."
Para o advogado Gustavo Besada, 23, com um convite para ir a
um flat a mulher fica mais à vontade. "Normalmente você nem fala de ir a motel. Você anda e pára
na frente. Flat dá para falar, vamos para um flat e tal...". Ele namora há dois anos e, nesse tempo,
tem ido a flats só com ela -que
aliás, prefere motéis.
A estudante Paula explica a
mesma idéia de outra maneira:
"Em flat é diferente, não tem tanto aquela obrigação. Você sabe
que tem uma televisão que não vai
passar filme pornô. Você não precisa ir lá para dormir com o cara".
Apesar do apoio, Priscyla faz uma
ressalva: "Tem um lado bom, mas
de vez em quando parece que você está no seu apartamento".
A jornalista Fernanda Ângelo,
24, usava o flat com o ex-namorado para o que os dois chamavam
de "viagem virtual" -diziam em
casa que iam viajar, mas ficavam
na cidade. "A gente ia para lá [no
final da tarde], ficava um pouco,
saía para a balada e depois voltava
para lá", conta.
Um dos problemas é que essa
aparente popularização começa a
produzir cenas inusitadas. "Uma
das coisas que eu não gosto em
flat é elevador", diz Priscyla. Uma
vez seu namorado encontrou um
amigo enquanto subiam e os dois
ficaram conversando. "Você não
tem tanta privacidade."
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