UOL


São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMPORTAMENTO

Em crise, setor derruba os preços nos finais de semana para tentar levantar a baixa taxa de ocupação

Flats viram "motel" de jovens paulistanos

DA REPORTAGEM LOCAL

A queda nos preços das diárias dos flats em São Paulo provocou um efeito inesperado: os jovens paulistanos agora têm usado esses apartamentos como alternativa aos motéis. Com o Dia dos Namorados nesta quinta-feira, a dúvida entre um e outro pode até surgir.
Nos finais de semana, promoções para tentar levantar a ocupação derrubam os preços para menos de R$ 100, valor parecido ou até mais baixo que o de motéis.
A diferença é simples: nos flats não há espelhos no teto nem hidromassagem (o que pode ser positivo ou negativo, a depender do gosto de cada um...), e a diária só acaba no dia seguinte, com café da manhã. Nos motéis, o que conta é a privacidade e a mudança de visual, sem cara de rotina.
A estudante Priscyla Barbosa, 20, namora há quatro e conta que o ideal é alternar. "Em flat, vou por causa do horário, para poder dormir. Não é vai, faz, tá bom, vamos embora. Mas tem que ter espelho no teto de vez em quando, senão vira rotina. É legal cama redonda, que não tem em casa."
Como namora desde a adolescência, ela conta que nunca saiu com alguém "novo" de algum lugar à noite e fez sexo. Mas avalia: "Quando a menina está na balada, é mais legal motel. Para quem namora, é mais legal flat".
Essa relação -só sexo-motel, relacionamento-flat- é o que pensa a maioria dos ouvidos pela Folha. O perfil é mais ou menos o mesmo. Moram com os pais, mas já trabalham e ganham, e gastam, o seu próprio dinheiro.
Para os homens, o período mais curto do motel ajuda a "escapar" do encontro quando não existe intimidade. No flat, é meio "obrigatório" dormir junto depois.
O estudante Denis Melo, 23, explica. "Motel é quando é para ser uma coisa mais rápida. Flat é quando é mais programado. Tem muito flat que você chega de madrugada e está lotado."
Na rede Parthenon -em que a diária cai a R$ 65 nas sextas e nos sábados quando se apresenta um ingresso de teatro, cinema ou museu-, Denis já conseguiu quarto com a promessa de levar o tíquete só no dia seguinte. Deu certo, mas da última vez que tentou, não.
Nos flats da rede Transamérica nos Jardins e no Itaim Bibi, o preço médio fica em R$ 90. No Blue Tree Towers Vila Olímpia, a tarifa nos finais de semana é de R$ 97.
Nas regiões mais próximas às discotecas e bares desse público, os casais -ou os otimistas- fazem reservas com antecedência.
Outro estudante Flávio Freire, 21, também tem sua tese: "Acho que motel é mais para uma noite de sexo. No flat dá para deixar jantar marcado, é para uma pessoa que você já tem afinidade".
Essa percepção encontra apoio feminino. Paula Marques, 20, afirma que nunca foi a flats à noite, mas acha que "os dois são legais". "O legal de motel é que tem suítes temáticas, essas coisas. Flat é mais de romantismo, quando o cara quer impressionar a menina."
Para o advogado Gustavo Besada, 23, com um convite para ir a um flat a mulher fica mais à vontade. "Normalmente você nem fala de ir a motel. Você anda e pára na frente. Flat dá para falar, vamos para um flat e tal...". Ele namora há dois anos e, nesse tempo, tem ido a flats só com ela -que aliás, prefere motéis.
A estudante Paula explica a mesma idéia de outra maneira: "Em flat é diferente, não tem tanto aquela obrigação. Você sabe que tem uma televisão que não vai passar filme pornô. Você não precisa ir lá para dormir com o cara". Apesar do apoio, Priscyla faz uma ressalva: "Tem um lado bom, mas de vez em quando parece que você está no seu apartamento".
A jornalista Fernanda Ângelo, 24, usava o flat com o ex-namorado para o que os dois chamavam de "viagem virtual" -diziam em casa que iam viajar, mas ficavam na cidade. "A gente ia para lá [no final da tarde], ficava um pouco, saía para a balada e depois voltava para lá", conta.
Um dos problemas é que essa aparente popularização começa a produzir cenas inusitadas. "Uma das coisas que eu não gosto em flat é elevador", diz Priscyla. Uma vez seu namorado encontrou um amigo enquanto subiam e os dois ficaram conversando. "Você não tem tanta privacidade."



Texto Anterior: Data de comemoração foi inspirada em protesto
Próximo Texto: "Não saímos de moda", diz presidente de associação
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.