São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2005

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RACISMO

Estudante da Federal do Rio Grande do Sul admite ter enviado e-mail de teor anti-semita em eleição ao diretório acadêmico

Faculdade investiga aluno por ofensa a judeu

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A atuação de grupos neonazistas no Rio Grande do Sul, detectada e apurada pela polícia gaúcha há dois anos, é investigada na universidade federal do Estado.
Sindicância aberta pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) investiga o estudante de ciências atuariais Gabriel Marchesi Lopes, 20, pelas acusações de disseminar anti-semitismo e intenção de usar a presidência do diretório acadêmico para ajudar a bancar o clandestino Partido Nacional-Socialista Brasileiro -a agremiação se diz nazista e atua em Porto Alegre (RS).
Lopes era candidato à presidência do diretório.
O estudante renunciou quando seus oponentes apresentaram à direção da UFRGS e-mails assinados por ele e que traziam conteúdo anti-semita.
O aluno negou em entrevista que seja anti-semita ou racista. Ele se definiu como fascista [sistema político antidemocrático e nacionalista]. "Tenho amigos negros, só sou fascista. Nazista [regime que prega a superioridade da raça ariana e foi responsável pelo extermínio de judeus na 2ª Guerra Mundial], eu não sou", disse.
Questionado se propaga idéias apenas contra judeus, ele disse que não conhece nenhum. "Como posso ser contra quem não conheço?"
Apesar disso, ele reconheceu ter enviado a seguinte frase por e-mail: "Peço a ajuda de vocês, pessoas intrinsecamente envolvidas com a causa nacional-socialista no Brasil, para pensarmos, juntos, uma maneira eficaz de deter esses odiosos vermes judeus".
""Foi um exagero da minha parte, um erro", disse ele à Folha.
Quanto ao partido ao qual se refere, ele disse ser apenas um grupo que discute a 2ª Guerra Mundial, analisando mais o papel da Itália do que o da Alemanha e que defende o Estado Novo, de Getúlio Vargas (1937-45).
"Pode pôr aí que sou fã do Estado Novo. Só isso. Essa história toda vai se resolver internamente na UFRGS", disse ele.
O procurador-geral da UFRGS, Armando Pitrez, cogita a possibilidade de, após a sindicância, o aluno ser expulso, além de processado por crime -o caso seria levado ao Ministério Público.
A Folha apurou que há pelo menos quatro grupos de diferentes vertentes fazendo apologia da discriminação étnica, religiosa e racial no Estado. "Eles se movem com eficiência. Vem gente do exterior, grupos musicais que tocam para 20 pessoas. Essa rede vem pregando pela internet", disse Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.


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