São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Presos fazem "rebelião branca" em SP

Eles recusam alimentos e banho de sol e suspenderam a ida a audiências; governo não confirma se há ligação com o PCC

Secretaria da Administração Penitenciária diz que não foram registrados atos de indisciplina; motivo do protesto é desconhecido


Rogério Cassimiro/Folha Imagem
O preso Marcos Herbas Camacho, o Marcola, que negou à CPI do Tráfico de Armas ser líder do PCC


FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Pouco menos de um mês depois de uma onda de motins atingir 82 unidades prisionais do Estado de São Paulo, os detentos ligados à facção PCC (Primeiro Comando da Capital) voltam a dar uma demonstração de força. Em uma espécie de "rebelião branca", os presos se recusam a sair das unidades para se apresentar em audiências judiciais nos fóruns.
Há informações também de que os detentos suspenderam o trabalho em oficinas e se recusam a tomar banho de sol ou a se alimentar em algumas unidades, além de não querer receber encomendas enviadas por seus familiares pelos Correios.
O protesto começou na manhã de anteontem, véspera da data marcada para o depoimento do líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, aos deputados da CPI do Tráfico de Armas (leia texto nesta página), dentro do Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, a 589 km da capital. A Folha apurou que o "boicote" está ocorrendo em pelo menos 40 presídios do Estado.
A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) confirmou ontem, por meio de uma nota, que "presos se recusaram a sair para apresentações judiciais". De acordo com a secretaria, "os motivos da não-apresentação serão cobrados pelos juízes competentes". A nota do órgão diz ainda que não houve registro de ocorrências de indisciplina dentro das 144 unidades prisionais.
A "rebelião branca" começou nas unidades do Vale do Paraíba, da Baixada Santista, no complexo Campinas-Hortolândia e em Piracicaba.
A nota não informa se os detentos que aderiram ao protesto têm ligação com o PCC.
Um promotor público disse à reportagem, sob a condição de anonimato, que na segunda-feira um julgamento por júri popular foi cancelado em Taubaté (130 km de São Paulo) porque o acusado, que está preso, se recusou a ir ao fórum.
Segundo esse promotor, o detento foi ouvido e contou que recebeu do PCC a ordem para não sair do presídio.
Ainda não se sabe qual é o objetivo da facção com o "protesto pacífico".

Investigação
O Ministério Público de São Paulo iniciou uma investigação que pretende identificar os detentos paulistas que compõem o PCC. O objetivo é levantar provas que comprovem a ligação desses presos com a facção e responsabilizá-los por novas ações e atentados que possam vir a ser praticados.
A decisão foi tomada em uma reunião realizada no último dia 2, em São Paulo, da qual participaram o procurador-geral de Justiça do Estado, Rodrigo Pinho, representantes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado) da capital e dos Gaercos (regionais) do ABC, Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Santos, São José do Rio Preto e Guarulhos.
Procurado para comentar o assunto, Rodrigo Pinho, por meio de sua assessoria, afirmou apenas que "os Gaercos estão agindo de forma integrada" e que "uma das prioridades do Ministério Público é o combate ao PCC". A assessoria disse que ele não daria mais detalhes sobre a investigação.
Sob a condição de anonimato, promotores disseram que o objetivo da investigação é apontar quem são os verdadeiros "cabeças" do PCC. As informações formarão um banco de dados sobre a organização.


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