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SISTEMA PRISIONAL
Detentos saíram por um túnel que, segundo a direção da Casa de Dentenção, foi escavado de fora para dentro
105 escapam na maior fuga do Carandiru
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Casa de Detenção de São Paulo, o presídio mais populoso da
América Latina, teve ontem a
maior fuga de presos de sua história: 105 deles escaparam por meio
de um túnel. Até o fechamento
desta edição, apenas um havia sido recapturado pela polícia.
A hipótese mais provável é que
tenha ocorrido o primeiro ""resgate subterrâneo" da história prisional de São Paulo, porque o buraco
de 13 metros de comprimento teria sido escavado de fora para
dentro das muralhas.
O túnel foi descoberto por volta
das 12h30, mas a fuga pode ter
ocorrido antes disso. Somente à
noite, passadas oito horas, a direção do presídio confirmou o número de fugitivos. É que a contagem nos pavilhões começou depois da visita dos parentes, às 17h,
por causa do risco de rebelião.
Fugiram detentos de quatro dos
seis pavilhões da Casa de Detenção, hoje ocupados por 7.200 presidiários. Os dois únicos onde não
houve fuga reúnem presos do ""seguro", os ameaçados de morte, e
os estrangeiros -todos que não
se misturam com os demais.
A maioria dos foragidos (78)
saiu do pavilhão 8, onde estão os
chamados reincidentes -criminosos que passaram mais de uma
vez pelo complexo do Carandiru.
Assaltantes e homicidas fazem
parte da lista dos foragidos, cujos
nomes seriam entregues de madrugada para a polícia.
Criada em 1956 pelo então governador Jânio Quadros, a Casa
de Detenção tinha como recorde
os 51 presos que escaparam de
uma vez em maio de 96.
Ontem à noite, a Secretaria da
Administração Penitenciária determinou a abertura de sindicância interna para verificar se funcionários colaboraram para fuga.
A polícia também investigará o
caso em inquérito.
""Do jeito como o plano foi feito,
de fora para dentro, não seria preciso ajuda interna", afirmou ontem o diretor da penitenciária 1
(pavilhões 2, 5 e 8) da Casa de Detenção, Jesus Ross Martins.
Engenharia
O buraco por onde os presos
saíram tinha 80 centímetros de
diâmetro, um metro de profundidade e ficava a 12 metros, aproximadamente, do meio da avenida
general Ataliba Leonel, onde passa um córrego subterrâneo.
Da galeria, os foragidos podem
ter caminhado em diversos sentidos -por isso, não teriam sido
notados. Pelo menos dois veículos foram observados pela Polícia
Militar, logo que o buraco foi encontrado, dando cobertura do lado de fora dos muros.
A direção do presídio deduz que
a passagem foi aberta da galeria
para o presídio por causa da localização do buraco: encostado à
muralha e em local aberto -um
campo de futebol. Não daria para
escavar e retirar a terra, diariamente, sem ser notado pelos PMs.
É possível que os presos não tenham saído de uma vez, mas aos
poucos, porque o acesso ao campo estava restrito ontem a apenas
três pavilhões: 2, 5 e 8.
O túnel só foi percebido porque
policiais militares das muralhas
estranharam o número de presos
perto de uma tenda improvisada
com cobertores, à encosta do muro. Um tiro chegou a ser disparado contra o chão, perto do grupo,
para que eles se dispersassem.
""O sentinela viu ainda três presos entrando no buraco", disse o
capitão George Henrique Marques Alves, 36, supervisor da PM
na zona norte da capital.
A polícia cercou o complexo do
Carandiru, vistoriou galerias e
usou até um helicóptero para tentar encontrar os fugitivos.
Nas tubulações da rua, os PMs
encontraram uma calça bege, das
que os presos usam, fio elétrico,
cordas, uma pá e sacolas -que
provavelmente serviram para
transportar roupas limpas e secas.
Houve disparos dentro das tubulações, porque os policiais chegaram a ver vultos dentro delas.
Peças de roupas saíram boiando
das galerias, mas não se sabe se
pertencem a presos ou não.
Pelo menos três tampas de inspeção, daquelas que ficam no
meio das ruas, estavam travadas
por dentro, com cordas e madeira, para dificultar a abertura.
As galerias ao redor da Casa de
Detenção passaram por inspeção
em fevereiro deste ano, após a fuga, em dezembro do ano passado,
de 35 detentos. Essa foi a segunda
maior da história do presídio.
Mistério
Segundo diretores da Casa de
Detenção, a fuga deve ter ocorrido ontem mesmo, porque não foi
notada a falta de presos na contagem feita anteontem à noite.
Eles não conseguiram, contudo,
explicar como presos de diferentes pavilhões conseguiram sair
juntos. Desde março, o presídio
vem sendo dividido em três unidades menores, autônomas e isoladas, criadas para tentar reduzir
o poder das facções, como o PCC
(Primeiro Comando da Capital),
o grupo que organizou a maior
rebelião da história do país, em fevereiro passado.
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