São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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INTERIOR DE SP

No cemitério, família descobriu que criança respirava; estado é grave

Bebê escapa de ser enterrado vivo

ADRIANA MATIUZO
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Uma menina recém-nascida quase foi enterrada viva ontem em Patrocínio Paulista (413 km de São Paulo). Ela havia sido dada como morta dez horas antes pela Santa Casa de Franca.
O erro só foi descoberto no cemitério, no momento em que o caixão foi aberto para a última homenagem. Ontem, no começo da tarde, o estado da criança era considerado grave.
Renata e seu irmão gêmeo, Renato Teixeira Moreira, nasceram prematuramente com 400 gramas, na tarde de anteontem. A mãe deles, a dona-de-casa Lourdes da Silva Teixeira Moreira, estava no sexto mês de gravidez.
A menina foi dada como morta às 2h e o menino, às 5h20, segundo os atestados de óbito emitidos pelo hospital, aos quais a Folha teve acesso ontem à tarde. Eles teriam morrido por insuficiência respiratória e prematuridade extrema. A mãe ficou internada. O pai, o administrador de fazenda Antonio Joaquim Moreira, contratou uma funerária.
O bebê morto e sua irmã viva foram colocados em caixões fechados e levados para o Cemitério Municipal de Patrocínio Paulista.
Somente por volta das 12h, quando iam ser enterrados, as tampas dos caixões foram abertas e uma tia da menina percebeu que ela estava respirando.
A menina foi encaminhada com urgência para a Santa Casa de Franca, onde voltou a ser internada. O menino foi enterrado.
Manir Martos Salomão, 37, delegado de Patrocínio Paulista, disse que tudo indica que a responsabilidade teria sido do médico que assinou o atestado de óbito, cujo nome não foi divulgado.
"Se essa criança morrer, o médico poderá responder por homicídio culposo e, se ela sobreviver, vai se tratar de lesão corporal culposa", disse o delegado.
O pai das crianças disse que sua mulher fez tratamento para engravidar. Ela havia sofrido um aborto espontâneo, há cerca de um ano.
Segundo o delegado do CRM (Conselho Regional de Medicina) de Franca, Ulisses Menicucci, será instaurada uma sindicância. De acordo com ele, a catalepsia -doença que faz com que pessoas vivas pareçam temporariamente mortas- não poderia ter ocorrido porque é um problema que atinge somente adultos.

Outro lado
A direção da Santa Casa de Franca informou ontem que só irá se pronunciar sobre o caso após a apuração do fato. O médico que atendeu a criança foi procurado no hospital, mas não foi localizado.
O secretário de Saúde de Franca, Marco Aurélio Piacesi, defendeu os médicos da Santa Casa, definidos por ele como "credenciados e altamente especializados". "Não se está lidando com serviço displicente. Aconteceu alguma coisa que ninguém consegue entender", afirmou Piacesi.


Colaborou RICARDO GALLO, free-lance para a Folha Ribeirão


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