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Americano defende liberação de drogas
Diretor-executivo da Aliança de Políticas para as Drogas diz que Brasil pode liderar uma mudança para legalização do consumo
Segundo Ethan Nadelmann, nunca existirá sociedade livre das drogas, com exceção dos esquimós, porque nada podem cultivar
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DO RIO
Ao estrear um ciclo de palestras no Brasil, o especialista
norte-americano Ethan Nadelmann, diretor-executivo da organização Aliança de Políticas
para as Drogas, disse no Rio de
Janeiro que o Brasil tem as melhores credenciais, entre os
países da América Latina, para
liderar uma mudança cultural
que levará à legalização do consumo de drogas.
"Nunca existirá uma sociedade livre das drogas, com exceção dos esquimós, porque nada
podem cultivar. Portanto, essa
é uma discussão que tem que
ser feita", disse Nadelmann, na
sede do movimento Viva Rio.
Nadelmann acha que o Brasil
está bem situado em relação à
maioria dos países no cenário
internacional no tema em discussão. Mas já esteve "mais otimista em relação ao governo
Lula". Por quê? Viu como sinal
negativo a nomeação, para a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), de um militar (general
Paulo Roberto Uchôa). "Poderia ter sido, por exemplo, alguém da área de saúde pública", afirmou.
A leitura sobre ter um militar
em tal posto é que o país está
mais alinhado com uma estratégia de "guerra" contra as drogas, uma linha hoje muito criticada e em revisão em todo o
mundo, no âmbito da ONU e
também nos Estados Unidos.
Em um retrospecto histórico, Nadelmann lembrou que o
fundamental, neste debate, não
é sobre se as drogas fazem mal.
"O que importa é quem consome." Traduzindo a visão norte-americana, resumiu: se pretos,
pobres e imigrantes consumiam, era ilegal.
"Se o Viagra não tivesse sido
feito pelo indústria farmacêutica e não fosse consumido pelos
homens brancos poderosos,
mas fosse feito por químicos
ilegais e consumido por jovens
negros, seria ilegal".
Nadelmann encerrou na semana passada uma palestra no
Rio com a apresentação de uma
pesquisa, encomendada pelo
Ministério da Justiça, em que
as pesquisadoras Ela Wiecko
(UnB) e Luciana Boiteux
(UFRJ) apresentaram a análise
de 730 sentenças condenatórias em crimes de tráfico de
drogas entre os anos de 2006 e
2008.
Conforme a Folha revelou, a
principal conclusão é que a
maioria dos réus é primário, foi
preso sozinho e não pertencia
ao comando das organizações
do tráfico. Resumo: prende-se
o varejo, mas o atacado continua no crime.
Experiente interlocutor do
governo norte-americano, país
no qual 15 dos 50 Estados aceitam o uso terapêutico da maconha, Nadelmann também
abordou a importância de estratégias de marketing para
tratar do assunto.
Algumas das estratégias
apresentadas por ele foram:
1) Falar com os pais dos adolescentes, que querem a todo
custo proteger seus filhos.
2) Não usar a palavra legalizar, pois, em tese, transmite a
ideia de descontrole.
3) Sinalizar que a melhor forma de combater o tráfico é
competir com ele, de maneira
legal, mantendo sob o acompanhamento de regras o comércio das drogas, da mesma forma que acontece com o álcool e
com o tabaco -mas sem os
apelos da propaganda.
"Nossos países foram os últimos a abolir a escravidão, vamos trabalhar para que sejam
os primeiros acabar com a
proibição", com a ressalva, no
entanto, de que essa deverá se
necessariamente uma decisão
mundial.
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