São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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SAIA JUSTA
Pai fora de padrão ensina a diferença ANTONINA LEMOS
da Reportagem Local

O pai de Luís, 4, é uma loira de 1,80 m que adora usar minissaia e sapato de salto alto. O pai de Aristides Jr., 23, e Luís Eduardo, 25, conta histórias para seus filhos da época em que usava batina e rezava missas. No caso de Júlia, de um ano e quatro meses, é seu pai quem faz sua comida, troca as fraldas e cuida da casa. Ela é filha do produtor Marcelo Terra, que também exerce as funções de "dono-de-casa".
Apesar de não seguir estereótipos, os pais que fogem dos padrões afirmam que assumem normalmente as funções de pai e ensinam desde cedo seus filhos a não terem preconceitos.
"Sei que vou ter de criar o meu filho já fazendo uma preparação para quando ele crescer e tiver de enfrentar preconceitos", diz a travesti Gabriela Bionda, que nasceu Carlos José de Souza. Ela é pai de Luís, 4. Gabriela acredita que aos poucos seu filho, que mora com sua ex-mulher no interior, vá entender seus motivos para ter feito a opção de ser travesti.
Gabriela se considera um bom pai e pretende ter outro filho, com sua atual mulher, a produtora Lu Moreira. "Ela está fazendo tratamento e deve engravidar em outubro", diz. Apesar de se vestir de mulher, Gabi não sente instinto maternal. "Sempre tive vontade de ser pai, nunca de ser mãe", diz Gabriela.
No caso de Aristides Pimentel, 67, a dificuldade era explicar para seus filhos por que ele havia sido padre. "Teve uma época que eles tinham vergonha de falar para seus amigos de colégio que seu pai tinha sido padre."
Ele não criou seus filhos dentro da religião católica. "Preferi que eles próprios escolhessem, mas sempre conversei muito com eles e tentei passar uma formação moral muito forte." Pimentel diz não saber se a sua experiência como padre fez com que ele tratasse seus filhos de forma diferente. "A única maneira que eu soube criá-los foi desse jeito."
Pimentel deixou de ser padre aos 35 anos por, segundo ele, "uma conjunção de fatores". "Visitei vários padres aposentados e vi que aquele não era o futuro que queria para mim, ao mesmo tempo, me apaixonei", diz. Ser pai não estava nos seus planos. "Foi uma coisa que aconteceu naturalmente."
Os anos 90 abriram espaço também para os pais-mães. É esse o caso do produtor Marcelo Terra, 25. Ele é pai de Júlia, de um ano e nove meses, e se especializou em fazer todas as funções de uma dona-de-casa. Ele é casado com a VJ da MTV Sônia Francine, 30, a Soninha. Por um ano e meio ele se encarregou exclusivamente das funções domésticas.
"A Soninha trabalhava o dia inteiro e eu comecei a organizar a casa. Cuido da minha filha desde que ela nasceu, sempre dei banho, fiz papinha, numa boa." Na lista de obrigações está também lavar louça e roupa e fazer compras no supermercado. Ele não vê dificuldades em fazer as tarefas domésticas.
Muita gente tem preconceito e acha que, por ficar em casa, ele não faz nada", diz Soninha. "É que as pessoas não valorizam o trabalho doméstico", protesta Marcelo. Ele nunca teve problemas em assumir seu lado dona-de-casa.
"Tenho facilidade para cuidar da casa e do neném, isso para mim é uma coisa natural", diz Marcelo, que uma vez foi preencher a ficha de um hotel e não resistiu na hora de dizer qual era a sua profissão. Escreveu: "do lar".



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