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AMBIENTE
Os principais responsáveis são pizzarias, serrarias, olarias e padarias que não repõem a madeira que consomem
Área reflorestada tem queda de 5% em SP
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos dez anos, o consumo anual de madeira no Estado
de São Paulo cresceu 35%, enquanto a área de reflorestamento
para fins comerciais (silvicultura)
diminuiu 5%. O resultado da
equação é uma dupla ameaça: de
um lado, o mercado de produtos
florestais teme ter o seu crescimento prejudicado pela eventual
necessidade de comprar madeira
fora; de outro, a carência de matéria-prima aumenta a pressão sobre as matas nativas paulistas,
que, reduzidas a cerca 3,1 milhões
de hectares em 91, passaram a
ocupar, no início deste século,
uma área também 5% menor.
Além da queda no plantio de pinus (com o fim do subsídio governamental que vigorou entre os
anos 60 e 80), os principais responsáveis pelo déficit florestal são
os "pequenos consumidores":
pizzarias, serrarias, olarias e padarias, que, na verdade, representam 40% dos que utilizam madeira no Estado e não costumam fazer o reflorestamento obrigatório
instituído pelo Código Florestal e
pela lei estadual 10.780, de 2001.
Fiscalização
As dificuldades na fiscalização
-a cargo do DEPRN (Departamento Estadual de Proteção dos
Recursos Naturais), da Secretaria
de Estado do Meio Ambiente- e
a falta de informação concorrem
para que só metade desses consumidores cumpram a lei que os
obriga a plantar pelo menos o
equivalente ao seu consumo de
árvores ou a pagar uma taxa para
que isso seja feito por pequenos e
médios produtores rurais.
Para modificar a matemática da
destruição ambiental, e, de quebra, evitar problemas num ramo
que gera, US$ 14,7 bilhões (R$
46,3 bilhões) anuais e emprega
cerca de meio milhão de pessoas
só nas plantações em todo o país,
a solução é óbvia: plantar mais árvores. Mas não é tão simples.
Só no Estado de São Paulo, seria
preciso fazer, em 25 anos, o plantio anual de 160 mil hectares
-área pouco maior que a da capital-, para atingir o percentual
internacionalmente aceito de
30% do território coberto por matas. Hoje são plantados, no máximo, 100 mil hectares por ano, e as
florestas são 15% dos 248,8 mil
kmē da superfície paulista.
"É uma meta ambiciosa", reconhece Eduardo Pires Castanho Filho, pesquisador da Secretaria de
Estado da Agricultura e Abastecimento e diretor da ONG Fundo
Florestar. Ele foi um dos autores
do "Plano de Desenvolvimento
Florestal Sustentável", lançado
em 93 pelo governo e que já previa
a situação atual. Desde então, entretanto, pouco foi feito.
"O quadro atual é explosivo, está sendo consumida a capacidade
futura", diz Castanho Filho. "A
diminuição da mata nativa pode
não ter sido tão expressiva quanto
nas décadas de 70 e 80 porque não
há muito mais para retirar. Mas o
ideal é que [a cobertura] estivesse
crescendo porque já estamos
abaixo do limite. Metade do reflorestamento a ser feito deve ser
com mata nativa", completa .
Em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) estima
que, por ano, cerca de 10 milhões
de metros cúbicos de madeira (ou
50 milhões de árvores) podem estar vindo das florestas primitivas.
"Muitos dos pequenos consumidores que não fazem reflorestamento devem desaparecer por
falta de matéria-prima, uma vez
que as reservas plantadas vão acabar um dia. Mas uma parte deles,
antes disso, vai sacar o que puder
da natureza", sustenta Nelson
Barboza Leite, presidente da SBS.
Incentivo e recursos
O maior dos desafios para aumentar a área de silvicultura em
São Paulo -e no país- é encontrar mecanismos para incentivar
a iniciativa privada a fazer o reflorestamento, já que a fiscalização
ambiental, sozinha, não tem apresentado os resultados esperados.
"É preciso ter estímulo econômico [para os consumidores reflorestarem]. A certificação ambiental é uma alternativa, embora
ainda incipiente", defende Castanho Filho. "Um campanha intensa de divulgação da obrigação do
reflorestamento seria importante
inclusive para que os clientes das
pizzarias, serrarias e olarias passem a escolher as que cumprem a
lei", sustenta José Francisco Trevisan, responsável pelo controle
de reposição florestal no DEPRN.
O plantio das árvores pode ser
feito com recursos próprios (terra, sementes etc.) dos estabelecimentos consumidores de madeira ou por meio do recolhimento
de uma taxa a uma das 13 associações de reposição florestal credenciadas no Estado, que usam a
verba para produzir mudas que
são doadas a agricultores interessados em cultivar árvores e depois
vendê-las de volta ao mercado,
tornando-o auto-sustentável.
O lucro demora (sete anos no
caso do eucalipto e até 12 anos para o pinus), mas compensa, diz
Castanho Filho.
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