Mãe havia ido buscar outro filho no ponto da perua escolar; temporal matou ao menos 7 pessoas nos Estados de SP e SC

Em Osasco, uma mulher morreu e três pessoas ficaram feridas em deslizamento; previsão é que chuva continue ao menos até amanhã

Almeida Rocha/Folha Imagem

Bombeiros e moradores procuram por crianças soterradas na zona leste de SP

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os irmãos Jean Carlos Ferreira Filho, 3, e Jonas Josué da Silva, 8, morreram ontem quando a casa em que viviam, em uma área invadida em Itaquera (zona leste), foi soterrada pelo deslizamento de uma encosta. Eles estão entre as pelo menos sete mortes registradas nos Estados de São Paulo e Santa Catarina devido ao temporal. Ainda há desaparecidos.
O deslizamento ocorreu por volta das 11h, quando chovia muito no bairro. Com a ajuda de cães farejadores, os bombeiros localizaram o corpo de Jean às 17h40. O outro irmão foi encontrado dez minutos depois.
Os dois garotos estavam sozinhos na hora do acidente. A mãe havia saído para buscar no ponto da perua escolar, a poucos metros da casa, o outro filho que chegava da escola.
Em Osasco (Grande São Paulo), uma mulher morreu e três pessoas ficaram feridas após um deslizamento na encosta do Morro do Socó. Rose dos Santos, 24, morreu soterrada e seus três filhos -um bebê de três meses e duas crianças de três e seis anos- ainda estavam desaparecidos ontem. As buscas serão retomadas hoje.
As outras quatro mortes foram registradas em Santa Catarina, no município de Guaraciaba (oeste do Estado), após os ventos fortes (possivelmente um tornado, acreditam as autoridades) causarem desabamentos. As vítimas são uma criança de nove anos, uma mulher e dois idosos.
Em Misiones, na Argentina, a cerca de 100 km de Guaraciaba, um tornado causou dez mortes.

Transtornos
Os transtornos se espalharam por todos os cantos de São Paulo. Na Vila Leopoldina (zona oeste), bombeiros tiveram de usar um barco inflável para resgatar duas mulheres que ficaram ilhadas por duas horas e meia na rua após o trabalho.
No Sacomã (zona sul), parte do prédio da loja Kalunga desabou. O telhado e uma parede cederam por volta do meio-dia. Não houve vítima.
Choveu tanto e em tantos pontos diferentes que o rio Tietê não conseguiu escoar a água. Essa é a explicação de Ubirajara Tanuri Félix, superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), para o alagamento das marginais.
Félix afirma, no entanto, que não houve transbordamento do rio. "Houve alagamentos em pontos baixos da marginal e o bombeamento não conseguia jogar essa água para dentro do Tietê, que já estava cheio."
A última vez que isso ocorreu foi em dezembro de 2005, quando duas bombas quebraram. Ontem foi um problema semelhante, mas por falta de capacidade do rio de suportar aquela quantidade de água.
O Daee, órgão responsável pela execução do plano de combate às enchentes na região metropolitana, informou que todos os 42 piscinões da Grande São Paulo operaram com sua capacidade total ontem.
O governador José Serra (PSDB) disse que o governo atuou para reduzir os problemas. "Desde as primeiras horas, estamos mobilizando o máximo de nossos esforços em todos os setores ligados aos efeitos do temporal -como Defesa Civil, metrô, CPTM, Daee e Sabesp- para atuarem de forma intensa, rápida e coordenada."
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) foi procurado, por meio de sua assessoria, mas não comentou o caos provocado pela chuva. Em nota, a prefeitura atribuiu o problema ao volume de chuvas nas bacias dos rios Tietê e Pinheiros, que atingiu recorde histórico. A gestão relata as ações de limpeza de bocas-de-lobo, galerias, córregos e piscinões, mas não fala sobre o corte de gastos em varrição de ruas.
A previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) é que continue chovendo ao menos até amanhã. Apesar de a frente fria estar se deslocando para São Paulo, os ventos registrados no Sul do país não chegarão à capital com a mesma força. O volume da chuva também deve cair nos próximos dias.