São Paulo, quarta, 9 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parentes das vítimas foram avisados por sobreviventes

enviado especial a Anápolis (GO)

A notícia da morte dos fiéis de Nossa Senhora Aparecida chegou a Anápolis por volta das 4h30 de ontem. Em alguns casos, os próprios sobreviventes comunicaram a tragédia aos familiares.
Esse foi o caso de Osvando Albino de Moura, 50. Ele ligou para a sobrinha, Marília, em Anápolis, para comunicar a morte da mãe dela, Milva, 51, da sogra, Orlanda, 57, e da tia, Olinda, 52. Isso depois de ele ter retirado a mulher Ângela e os três filhos das chamas em que se envolveram os ônibus.
"Ele não falava nada direito, estava nervoso. Só dizia que tinha muita gente morta e que os filhos e a mulher estavam machucados, mas que tinham sobrevivido porque ele tinha ajudado a socorrer", disse Maria Aparecida Moura, prima de Marília.
Anualmente, em feriados prolongados, fiéis das igrejas de Nossa Senhora Aparecida e de São Pedro e São Paulo se reúnem para ir, em romaria, até Aparecida do Norte. Este ano, cada um deles pagou R$ 140 por viagem, hospedagem e alimentação durante quatro dias.
Na sexta-feira pela manhã, 102 romeiros saíram de Anápolis, com retorno previsto para hoje à tarde. No grupo havia três religiosas da Congregação das Irmãs de Belém Äorganizadoras da romariaÄ, sendo que duas delas, as irmãs Dominique e Terezinha (nomes religiosos), morreram.

Incertezas
A notícia da morte dos romeiros comoveu principalmente dois bairros de classe média baixa de Anápolis: Jardim Alexandrina e Maracanã. É neles que se localizam as igrejas que os fiéis frequentavam.
A falta da lista oficial de mortos fez aumentar ainda mais a dor dos familiares. Na porta da igreja de Nossa Senhora Aparecida havia apenas a lista com o nome de alguns sobreviventes.
"Não sei onde está a minha mãe. Queria ir para São Paulo para ajudar a identificar o corpo dela", disse, em lágrimas, o frentista Hélio do Carmo, que procurava informações sobre a mãe, Altiva, 70.
Numa rua, a Petrolina, dez pessoas eram dadas como mortas. Numa única casa, a situada no lote 46 da quadra 4, uma família inteira morreu: o pai, a mãe, três filhos adolescentes e a avó. O grupo sempre viajava junto em excursões semelhantes.
Ademar Santillo, prefeito de Anápolis, viajou cedo para o local do acidente, junto com o pároco das igrejas, Renato Lima Lopes. Foi decretado luto oficial na cidade, que tem 350 mil habitantes e se situa a 54 km de Goiânia.
Até ontem à noite, permanecia suspensa a idéia de fazer o velório no Ginásio Internacional, pois não se sabia quando os corpos das vítimas chegariam à cidade.
De qualquer forma, o prefeito mandou abrir sepulturas no Cemitério Parque. Até ontem à tarde, 28 haviam sido abertas na área mais simples do cemitério, em um local onde outros corpos foram enterrados há mais de cinco anos (prazo legal para a remoção das ossadas).



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.