São Paulo, quarta, 9 de setembro de 1998

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TRAGÉDIA EM OSASCO
Continuam internados 46 feridos no desabamento da igreja, sendo dois em estado grave na UTI
Porta do templo estava fechada, diz perícia

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Policiais civis e peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo informaram ontem à Folha que encontraram indícios de arrombamento na maioria das portas do templo da igreja Universal em Osasco, na Grande São Paulo.
Isso comprova, segundo a polícia, que as portas da igreja estavam fechadas no momento do acidente.
Em uma dessas portas, os peritos encontraram marcas de solado de tênis. O delegado Wesley Costa Veloso, titular da seccional de Osasco, afirmou ontem que um local como o que abrigava o templo obrigatoriamente tem de ter acessos livres em número suficiente para dar vazão às pessoas.
"Se as portas estavam realmente fechadas, alguém da igreja terá de ser responsabilizado", afirmou o delegado.
Ex-locatário de uma loja na galeria Glamour e fiel da igreja Universal em Osasco, o jornalista Christian Morais, 23, diz que, quando há vigílias, como a que ocorria quando parte do telhado caiu, todas as portas da igreja são trancadas, até as saídas de emergência, para evitar que algum ladrão entre no local. "Isso é uma falha da igreja. Aliás, da maioria das igrejas, não só as da Universal."
Morais, que teve uma copiadora na galeria há cerca de um ano e meio, fez críticas também ao estado de conservação do prédio e à igreja. Segundo ele, o prédio tem problemas de infiltração há muito tempo.
"Perdi duas máquinas por causa de um curto-circuito provocado pela infiltração e pela inadequação dos cabos elétricos", afirmou o jornalista.
"Saí de lá porque me alertaram que o prédio estava condenado. Fiz denúncia na prefeitura, várias pessoas fizeram, mas nada aconteceu. Tenho um amigo que tinha uma empresa de editoração lá. Em março do ano passado, ele perdeu tudo o que tinha porque alagou tudo depois de uma chuva. Nunca fizeram qualquer tipo de vistoria", disse.
O jornalista descreve também o chamado bate-pé. "Em determinado momento das vigílias, os fiéis começam a bater os pés no chão e a orar em voz alta. Nessa hora, as paredes e o chão começam a tremer. Imagine 1.500 pessoas batendo os pés e orando. Treme tudo. Foi nessa hora que começou a cair tudo."
Em depoimento no sábado à polícia, o bispo Reinaldo Santos Suísso, responsável pela regional da Universal em Osasco, afirmou que nunca notou nada de anormal na estrutura do prédio. Apesar disso, ele revelou que há cerca de três meses foi necessário fazer uma reforma geral no telhado e no forro porque algumas placas de fibra de vidro se desprenderam.

Depoimentos
Estão programados para hoje à tarde os primeiros depoimentos dos sobreviventes do acidente. Segundo o delegado Flávio Augusto de Souza Nogueira, a previsão mais otimista é que os inquérito seja concluído em 90 dias.
Sobre o fato de dez minutos antes do acidente uma placa de fibra de vidro ter caído, o delegado afirmou: "Hipoteticamente, é um indicativo de negligência".
Até as 18h de ontem, 46 vítimas do desabamento no templo na madrugada de sábado permaneciam internados, segundo a Secretaria da Saúde de Osasco. Três pessoas receberam alta ontem.
Os feridos se encontravam nos hospitais Regional (11), Antonio Giglio (7) e Montreal (5) - todos em Osasco. Em São Paulo, os feridos continuavam nos hospitais Bandeirantes (9), Santa Casa (2) e das Clínicas (12). Apenas dois feridos permaneciam em estado grave, internados em UTI.



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