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ESTELIONATO
Quadrilha que tinha aposentados como vítimas preferenciais arrecadava R$ 300 mil por mês, segundo delegado
Falsos juízes são presos por enganar idosos
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um procurador do Estado informa, por telefone, que aquele
dinheiro considerado perdido, da
empresa de previdência privada
falida há anos, vai ser reembolsado. Desconfiado, o ex-cliente da
empresa liga para o Fórum e o
mesmo procurador atende. O depósito de R$ 120 mil na conta bancária no dia seguinte desfaz qualquer dúvida.
Eufórico, o engenheiro de 58
anos decide depositar R$ 11 mil na
conta de um oficial de Justiça para
"desbloquear" os R$ 120 mil. Ele
só não foi mais uma vítima de
uma quadrilha especializada nesse tipo de golpe porque a negociação, na última sexta-feira, estava
sendo monitorada pela polícia
por meio de escutas telefônicas.
Policiais da 6ª Delegacia Seccional de Polícia de Santo Amaro
(zona sul) prenderam dez pessoas
-com idades entre 20 e 54
anos- e descobriram um esquema que envolvia central telefônica
clandestina, carros de luxo, cadastros de empresas de previdência
privada já falidas com mais de
5.000 nomes de clientes, várias
contas bancárias e uma equipe de
estelionatários que fingem ser juízes ou procuradores do Estado.
O golpe é antigo, mas a estrutura da quadrilha surpreendeu a polícia. Segundo Alcantara, o grupo
escolhia as vítimas, na maioria
aposentados, em listas de clientes
de empresas de previdência privada que faliram.
O golpe começava quando um
falso juiz ou procurador ligava para a casa do aposentado e informava que ele era beneficiário do
processo de falência da empresa.
O impostor pedia o número da
conta da vítima e o dinheiro aparecia no banco no dia seguinte. Só
que o grupo depositava um cheque roubado, e o valor ficava bloqueado para saque. A vítima ligava então para um telefone fornecido pelo impostor, supostamente do Fórum.
Um suposto procurador informava que o aposentado precisava
depositar as custas do processo
-10% do valor- para "desbloquear" o dinheiro. A vítima depositava o valor na conta de um falso
oficial de Justiça.
Com o golpe, a quadrilha conseguiu arrecadar cerca de R$ 300
mil por mês, segundo o delegado
Fábio do Amaral Alcantara, titular da SIG (Setor de Investigações
Gerais) de Santo Amaro.
A polícia já identificou pelo menos 30 vítimas do grupo, mas o
número é bem maior. Segundo o
delegado, a quadrilha aplicou o
golpe nos últimos dois anos.
A polícia encontrou uma central telefônica em uma sala comercial de Guarulhos (Grande
SP). Também foram apreendidos
um Audi, um Omega, um Santana, um Fiat Tipo e uma moto
Honda de 900 cilindradas.
Quatro dos dez presos disseram
não saber do esquema. Eles alegaram ter recebido uma ligação de
um desconhecido que dizia que,
por engano, um valor havia sido
depositado na conta deles. O desconhecido pedia a devolução em
troca de 10% do valor.
"Os espertalhões estão cada vez
mais bem preparados", afirmou
Benedito Marcílio, presidente do
Conselho Estadual de Aposentados, Pensionistas e Idosos e secretário de seguridade social da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas.
Segundo Manoel Camassa, titular da Delegacia de Estelionato do
Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), esse tipo de golpe se disseminou por todo o país.
Mas, de acordo com Camassa, a
localização das quadrilhas é dificultada pela ausência de contato
pessoal na negociação, o uso de
telefones com documentação falsa e a vergonha das vítimas de
procurar a polícia. "O idoso é uma
presa mais fácil dos estelionatários porque ele acredita nas pessoas", disse.
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