São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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ESTELIONATO

Quadrilha que tinha aposentados como vítimas preferenciais arrecadava R$ 300 mil por mês, segundo delegado

Falsos juízes são presos por enganar idosos

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um procurador do Estado informa, por telefone, que aquele dinheiro considerado perdido, da empresa de previdência privada falida há anos, vai ser reembolsado. Desconfiado, o ex-cliente da empresa liga para o Fórum e o mesmo procurador atende. O depósito de R$ 120 mil na conta bancária no dia seguinte desfaz qualquer dúvida.
Eufórico, o engenheiro de 58 anos decide depositar R$ 11 mil na conta de um oficial de Justiça para "desbloquear" os R$ 120 mil. Ele só não foi mais uma vítima de uma quadrilha especializada nesse tipo de golpe porque a negociação, na última sexta-feira, estava sendo monitorada pela polícia por meio de escutas telefônicas.
Policiais da 6ª Delegacia Seccional de Polícia de Santo Amaro (zona sul) prenderam dez pessoas -com idades entre 20 e 54 anos- e descobriram um esquema que envolvia central telefônica clandestina, carros de luxo, cadastros de empresas de previdência privada já falidas com mais de 5.000 nomes de clientes, várias contas bancárias e uma equipe de estelionatários que fingem ser juízes ou procuradores do Estado.
O golpe é antigo, mas a estrutura da quadrilha surpreendeu a polícia. Segundo Alcantara, o grupo escolhia as vítimas, na maioria aposentados, em listas de clientes de empresas de previdência privada que faliram.
O golpe começava quando um falso juiz ou procurador ligava para a casa do aposentado e informava que ele era beneficiário do processo de falência da empresa.
O impostor pedia o número da conta da vítima e o dinheiro aparecia no banco no dia seguinte. Só que o grupo depositava um cheque roubado, e o valor ficava bloqueado para saque. A vítima ligava então para um telefone fornecido pelo impostor, supostamente do Fórum.
Um suposto procurador informava que o aposentado precisava depositar as custas do processo -10% do valor- para "desbloquear" o dinheiro. A vítima depositava o valor na conta de um falso oficial de Justiça.
Com o golpe, a quadrilha conseguiu arrecadar cerca de R$ 300 mil por mês, segundo o delegado Fábio do Amaral Alcantara, titular da SIG (Setor de Investigações Gerais) de Santo Amaro.
A polícia já identificou pelo menos 30 vítimas do grupo, mas o número é bem maior. Segundo o delegado, a quadrilha aplicou o golpe nos últimos dois anos.
A polícia encontrou uma central telefônica em uma sala comercial de Guarulhos (Grande SP). Também foram apreendidos um Audi, um Omega, um Santana, um Fiat Tipo e uma moto Honda de 900 cilindradas.
Quatro dos dez presos disseram não saber do esquema. Eles alegaram ter recebido uma ligação de um desconhecido que dizia que, por engano, um valor havia sido depositado na conta deles. O desconhecido pedia a devolução em troca de 10% do valor.
"Os espertalhões estão cada vez mais bem preparados", afirmou Benedito Marcílio, presidente do Conselho Estadual de Aposentados, Pensionistas e Idosos e secretário de seguridade social da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas.
Segundo Manoel Camassa, titular da Delegacia de Estelionato do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), esse tipo de golpe se disseminou por todo o país.
Mas, de acordo com Camassa, a localização das quadrilhas é dificultada pela ausência de contato pessoal na negociação, o uso de telefones com documentação falsa e a vergonha das vítimas de procurar a polícia. "O idoso é uma presa mais fácil dos estelionatários porque ele acredita nas pessoas", disse.


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