São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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COMPORTAMENTO

Para autores, falta de atenção e de imposição de limites aos filhos são alguns dos principais problemas

Livros ajudam pais a educar adolescentes

DA SUCURSAL DO RIO

Três novos livros que estão sendo lançados tentam ajudar os casais na educação dos filhos adolescentes. Um dos livros da nova safra, do jornalista Luiz Lobo, autor de "Escola de Pais", leva o foco dos problemas um pouco mais para os pais e menos para os adolescentes.
Lobo está lançando pela editora Papel Virtual "Onde Foi que Eu Errei", em dois volumes que podem ser comprados pela internet, por meio de download, ou em papel (www.papelvirtual.com.br).
"Essa geração de pais de adolescentes foi criada em uma época em que seus pais tinham autoridade completa e não eram questionados. Não havia dúvidas sobre como educar os filhos. Essas dúvidas começam a surgir quando os novos pais tentam um novo modelo", diz o escritor.
A partir de entrevistas com adultos e adolescentes, o escritor conclui que os pais nem sempre têm consciência de que não podem apenas exigir dos filhos que eles sigam o modelo que lhes é ditado: "Os pais cobram dos filhos amor, respeito e obediência, mas se esquecem de que os filhos também demandam amor, respeito e atenção".
A falta de atenção e de imposição de limites aos filhos ainda quando crianças ou já como adolescentes é um problema citado por outros autores que estão lançando livros sobre o tema, como Içami Tiba ("Quem Ama, Educa") e Valentina Pigozzi ("Celebre a Autonomia do Adolescente").
Tiba, autor do livro "Disciplina, o Limite na Medida Certa", que vendeu 300 mil cópias, está se preparando para lançar mais um livro de orientação aos pais.
De acordo com Tiba, o grande número de livros que tentam ajudar os pais a educar os filhos é, em parte, explicado pelo fato de os pais, no intuito de não repetir o modelo de educação que receberam, terem aberto demais a guarda na hora de impor limites.
"Eles deram diálogo e liberdade, mas não impuseram limites. Os pais estão vendo agora o quanto abriram a guarda. A década de 90 foi de revisão do papel paterno, por isso surgiram tantos livros", diz Tiba.
Como resultado disso, o autor afirma que a geração de jovens cresceu com algumas frustrações: "Os filhos acham que podem fazer qualquer coisa. Os pais confundiram criar filhos felizes com dar alegria. O jovem se acostumou a ganhar, mas não desenvolveu uma propriedade de ser feliz. Ele sofre pelo que não tem e não sabe usufruir do que tem".
A falta de limites e regras estabelecidas pelos pais também é abordada por Valentina Pigozzi. "Uma educação muito permissiva passa a idéia de que não existe um cuidado. Além disso, é da natureza do jovem transgredir. Quando a gente impõe regras dentro de casa, é natural que ele tente transgredi-las. Quando isso acontece, não existem grandes prejuízos quando administramos essa briga dentro de casa", explica Valentina.
Para a autora, o problema acontece quando não existem limites em casa: "Quando não há o limite dentro de casa, o jovem vai procurar transgredir na rua, onde a lei é muito mais perversa e a sociedade é muito menos condescendente com os erros do que nossos parentes".
Além dos problemas com a disciplina, Valentina e Lobo apontam também a necessidade de conversar a respeito da sexualidade e das drogas com os jovens.
"Com a Aids, cresceu a preocupação em cuidar da adolescência. No que diz respeito à sexualidade, a sociedade sempre foi permissiva com essa época de transição", afirma Valentina.
Para Lobo, a desinformação a respeito do sexo é um dos problemas mais comuns nas relações entre pais e filhos. "Isso ajuda a explicar porque aumentou tanto o número de adolescentes grávidas no Brasil", diz.
Os autores tentam fugir do rótulo da auto-ajuda. "Os livros de auto-ajuda tendem a trazer fórmulas para educar os filhos como se os adolescentes fossem iguais. Uma das dificuldades de escrever sobre adolescentes é que o jovem do Rio, por exemplo, é diferente do jovem paulista, do mineiro e de outros", afirma Lobo.


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