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CIDADANIA
Campanha nacional, que terá como símbolo uma camélia branca, quer incentivar ações afirmativas no país
Empresa que facilitar acesso a negro terá selo
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Organizações do movimento
negro brasileiro lançam em novembro uma campanha nacional
para facilitar o acesso de negros à
escola, ao trabalho e à cultura.
Intitulada "Ação Afirmativa,
Atitude Positiva", a campanha
tem como símbolo a camélia, flor
usada pelos abolicionistas brasileiros durante a campanha pelo
fim da escravatura (1888).
Ações afirmativas podem ser
definidas como políticas públicas
e privadas criadas para combater
a discriminação -seja racial, de
gênero ou de origem- ou para
corrigir efeitos de uma discriminação ocorrida no passado.
Surgiram nos Estados Unidos,
mas são hoje aplicadas em vários
países do mundo, inclusive no
Brasil. A reserva de vagas de candidatos para mulheres é um
exemplo de ação afirmativa.
A campanha da camélia vai instituir um selo de qualidade
-com o desenho da flor- para
ser oferecido a empresas, pessoas
e escolas que praticarem a ação
afirmativa. Será lançada uma linha de produtos com o símbolo.
Em paralelo, um balcão de empregos encaminhará profissionais
negros ao mercado. A campanha
quer ampliar a participação de
negros em novelas e comerciais,
organizando uma marcha a Brasília em defesa de ações afirmativas.
A camélia branca, oferecida por
uma mão negra no cartaz da campanha, é uma forma de tentar
vencer a imagem de intransigência associada a projetos do tipo
-como a cota, com reserva de
vagas para negros em universidades públicas.
Numa inversão da tática de
2001, quando o movimento negro
apontou num shopping center do
Rio lojas que não contratavam negros, o objetivo é destacar positivamente pessoas e empresas que
fizerem ação afirmativa.
"Ninguém assume que discrimina. Todo mundo apóia a ação
afirmativa, mas não pratica. Se
ninguém é contra, então vamos
praticar", diz Ivanir dos Santos,
do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, um dos
coordenadores da campanha.
Financiado pela Fundação
Ford, o projeto tem a participação
de outras entidades, como a Educafro (que realiza cursinhos pré-vestibulares para negros), o IPDH
(Instituto Palmares de Direitos
Humanos) e o Olodum.
A idéia de usar a flor surgiu a
partir do livro "As Camélias do
Leblon e a Abolição da Escravatura", do historiador Eduardo Silva,
pesquisador da Fundação Casa de
Rui Barbosa e doutor pela Universidade de Londres.
No livro, editado pela Companhia das Letras, Silva relata como
camélias produzidas num quilombo do Leblon (zona sul do
Rio) se transformaram em símbolo dos abolicionistas radicais,
que defendiam a libertação incondicional dos escravos.
"Quando eles perguntaram se
podiam usar a camélia como símbolo, eu disse que ela não pertence a mim, mas à história do Brasil", afirmou Silva.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
a taxa de analfabetismo dos identificados como pretos era 18,7%
em 2001, enquanto a dos brancos
era 7,7%. O rendimento médio
dos brancos era o dobro do de
pretos e pardos. Em 2001, pretos e
pardos eram 46% da população.
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