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SAÚDE / PSIQUIATRIA
Parasita está presente na água e no ar; pelo menos um terço dos casos exige transplante
Descuido faz ameba atacar usuário de lentes de contato
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de 20 anos usando lentes
de contato, o engenheiro Henrique João Riemer, 55, foi surpreendido por um diagnóstico: estava
com acantameba, infecção nos
olhos provocada pela ameba
Acanthamoeba sp.
O parasita -classificado como
oportunista pelos especialistas,
por agir quando a higiene é inadequada- ataca a córnea e, aos
poucos, provoca úlceras nos
olhos. E ainda é muito resistente
aos medicamentos.
Muitos casos evoluem para infecção total do tecido, podendo
levar o paciente a ter baixa visão e
até mesmo cegueira total.
De acordo com o oftalmologista
Luiz Antônio Vieira, chefe do Setor de Córneas do Hospital Cema,
pelo menos um terço dos pacientes com acantameba precisa passar por um transplante de córnea
para melhorar a visão.
Outros 10% precisam do transplante de urgência, cirurgia indicada em casos mais graves, em
que o paciente corre o risco de
perder completamente a visão.
Foi o que aconteceu com Riemer.
"A ameba destruiu completamente a minha visão. Tive três úlceras na córnea e fiz dois transplantes. Mesmo assim, não enxergo como antes, minha visão é limitada. Vejo vultos e imagens
embaçadas", contou Riemer.
Segundo o diretor do Banco de
Olhos de Campinas, Leôncio
Queiroz Neto, na maioria dos casos a acantameba é resultado de
uma falha na higienização das
lentes. No Brasil, cerca de 1,7 milhão de pessoas usam lentes.
"O parasita está em todos os lugares: no ar, na água, no solo. Mas
ele tem uma preferência pela
água, e a lente precisa de muita
água. Se não houver o cuidado necessário ele gruda na lente, e a
pessoa pode demorar semanas
para perceber", alerta o médico.
Os primeiros sintomas da doença são olhos vermelhos, doloridos
e lacrimejantes. Mas esses sintomas são muito parecidos com a
herpes (infecção causada por um
vírus), o que geralmente faz com
que os diagnósticos sejam tardios.
"A acantameba é uma infecção
emergente que atinge os usuários
de lentes de contato. Como ainda
é uma doença nova, é difícil diagnosticar. O ideal é fazer a raspagem da córnea para uma análise
microscópica. Mas esse resultado
demora cerca de um mês e meio",
afirmou a oftalmologista Denise
de Freitas, chefe do Setor de Córneas da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
Não existe tratamento específico para a acantameba. Hoje, os
médicos usam colírios importados ou manipulados, que chegam
a custar R$ 90 o frasco. A aplicação é de hora em hora. Em casos
mais graves, é necessário fazer o
transplante de córnea.
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