São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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SAÚDE / PSIQUIATRIA

Parasita está presente na água e no ar; pelo menos um terço dos casos exige transplante

Descuido faz ameba atacar usuário de lentes de contato

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 20 anos usando lentes de contato, o engenheiro Henrique João Riemer, 55, foi surpreendido por um diagnóstico: estava com acantameba, infecção nos olhos provocada pela ameba Acanthamoeba sp.
O parasita -classificado como oportunista pelos especialistas, por agir quando a higiene é inadequada- ataca a córnea e, aos poucos, provoca úlceras nos olhos. E ainda é muito resistente aos medicamentos.
Muitos casos evoluem para infecção total do tecido, podendo levar o paciente a ter baixa visão e até mesmo cegueira total.
De acordo com o oftalmologista Luiz Antônio Vieira, chefe do Setor de Córneas do Hospital Cema, pelo menos um terço dos pacientes com acantameba precisa passar por um transplante de córnea para melhorar a visão.
Outros 10% precisam do transplante de urgência, cirurgia indicada em casos mais graves, em que o paciente corre o risco de perder completamente a visão. Foi o que aconteceu com Riemer.
"A ameba destruiu completamente a minha visão. Tive três úlceras na córnea e fiz dois transplantes. Mesmo assim, não enxergo como antes, minha visão é limitada. Vejo vultos e imagens embaçadas", contou Riemer.
Segundo o diretor do Banco de Olhos de Campinas, Leôncio Queiroz Neto, na maioria dos casos a acantameba é resultado de uma falha na higienização das lentes. No Brasil, cerca de 1,7 milhão de pessoas usam lentes.
"O parasita está em todos os lugares: no ar, na água, no solo. Mas ele tem uma preferência pela água, e a lente precisa de muita água. Se não houver o cuidado necessário ele gruda na lente, e a pessoa pode demorar semanas para perceber", alerta o médico.
Os primeiros sintomas da doença são olhos vermelhos, doloridos e lacrimejantes. Mas esses sintomas são muito parecidos com a herpes (infecção causada por um vírus), o que geralmente faz com que os diagnósticos sejam tardios.
"A acantameba é uma infecção emergente que atinge os usuários de lentes de contato. Como ainda é uma doença nova, é difícil diagnosticar. O ideal é fazer a raspagem da córnea para uma análise microscópica. Mas esse resultado demora cerca de um mês e meio", afirmou a oftalmologista Denise de Freitas, chefe do Setor de Córneas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Não existe tratamento específico para a acantameba. Hoje, os médicos usam colírios importados ou manipulados, que chegam a custar R$ 90 o frasco. A aplicação é de hora em hora. Em casos mais graves, é necessário fazer o transplante de córnea.


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