São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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CRIME NO BROOKLIN

Polícia afirma que Suzane von Richthofen, seu namorado e o irmão deste mataram diretor da Dersa e a mulher

Filha confessa participação na morte de pais

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Suzane von Richthofen oculta o rosto ao ser mostrada pela polícia


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O grito do aposentado Astrogildo Cravinhos de Paula e Silva encerrou, às 6h30, o mistério sobre o assassinato do casal Richthofen, ocorrido nove dias atrás. A reação aconteceu depois que ele ouviu, após muitas negativas, seus dois filhos admitirem, na polícia, participação no crime que chocou São Paulo. Ao lado deles, Suzane Louise von Richthofen, 19, filha do casal, que também confessou envolvimento no caso.
Suzane, o namorado e o irmão dele tiveram prisão temporária decretada por dez dias. Manfred e Marísia von Richthofen tiveram afundamento de crânio ao serem atacados na cama, enquanto dormiam. A filha disse, segundo a polícia, que agiu "por amor".
Os pais não queriam o namoro de Suzane com Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 21, e exigiam a separação. Pai e filha discutiam. Manfred von Richthofen, 49, não aceitava o o relacionamento da filha com alguém que não estudava nem trabalhava.
Desde o assassinato, ocorrido por volta da meia-noite do dia 30 de outubro, Suzane e Daniel negaram envolvimento, deram versões contraditórias, levantaram suspeitas sobre uma ex-empregada da família e tentaram convencer os policiais de que houve latrocínio (matar para roubar).
Logo após as mortes, Suzane afirmou que R$ 8.000 e US$ 5.000 tinham sido levados da casa da família, no Brooklin, na zona sul de São Paulo.
Os namorados eram os principais suspeitos, mas não havia provas. Até anteontem.
Cristian Cravinhos de Paula e Silva, 26, irmão de Daniel, deu a pista que faltava. Dez horas depois do crime, ele usou US$ 3.600 para comprar uma moto Suzuki 1.100. Só não conseguiu explicar à polícia como, apesar de estar desempregado e morando com a avó, conseguiu a quantia -cerca de R$ 12.700.
Depois de prender Cristian, a polícia encontrou mais dinheiro em sua casa. Ele, Daniel e Suzane foram levados para acareação no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde, segundo depoimento, confessaram. Astrogildo, pai dos dois jovens, acompanhou a confissão. Até ali, ele defendia os filhos. Não falou depois. A confissão também foi testemunhada pelos promotores Marcelo Milani e Virgílio Ferraz do Amaral.
Segundo o DHPP, Daniel e Suzane planejaram o crime e convidaram Cristian. Na noite do dia 30, Suzane e Daniel arrumaram um meio de tirar de casa Andreas, 15, irmão dela. Como ele não tinha autorização para sair, deixou dois travesseiros sob o lençol para simular que estava dormindo. Foi deixado em um cibercafé.
Os namorados teriam então retornado à casa dos pais de Suzane, acompanhados de Cristian, para executar o plano. Segundo a polícia, ela afirmou, em depoimento, que abriu as portas, certificou-se de que os pais estavam dormindo e ligou a luz de um corredor para que os dois jovens chegassem ao quarto.
De acordo com os depoimentos, eles portavam barras de ferro, usavam luvas cirúrgicas para não deixar digitais e meia-calça para evitar que pêlos caíssem no local.
Cristian, o primeiro a confessar o crime, segundo a polícia, disse ter dado cinco golpes na cabeça da psiquiatra Marísia von Richthofen, 50. Depois, pôs uma toalha em sua boca e a sufocou. Daniel teria dado golpes na cabeça e no corpo de Manfred.
Suzane disse ter permanecido na sala da casa. A polícia não sabe se ela entrou no quarto depois das mortes. Mas os policiais afirmam que ela e os dois jovens foram depois para a biblioteca, onde havia dinheiro guardado. Livros foram revirados e jogados no chão.
Com o dinheiro, ela e os irmãos saíram dali. Roupas sujas, luvas e as barras de ferro foram abandonadas em um saco na avenida Ibirapuera (zona sul). Cristian foi deixado perto de casa. O saco não tinha sido encontrado até ontem.
Depois, os namorados foram ao Motel Colonial, onde ficaram por uma hora e 20 minutos. Este seria o álibi deles. Saíram de lá para pegar Andreas no cibercafé.
Daniel foi deixado no caminho. Suzane e o irmão chegaram em casa por volta das 4h. Viram os corpos e ligaram para a polícia.
Os namorados choraram no enterro dos Richthofen. Começava ali uma sequência de depoimentos, grampos telefônicos e versões desencontradas.
Primeiro, interceptações telefônicas mostraram o casal combinando que não deveriam falar do assunto pelo telefone, mas pessoalmente. Depois, o IML (Instituto Médico Legal) constatou que o provável horário da morte teria acontecido antes da entrada dos dois no motel.
No acordo do homicídio, segundo a polícia, Cristian receberia parte do dinheiro encontrado na casa e mais alguma vantagem financeira quando Suzane recebesse a herança do pai.
Richthofen, diretor da Dersa (estatal que administra estradas em São Paulo), tinha um patrimônio de cerca de R$ 1 milhão.
Os três devem ser denunciados pela Promotoria por duplo homicídio qualificado (por não terem dado chance de defesa às vítimas, pelo motivo torpe e pela premeditação). Se condenados, podem pegar de 28 a 70 anos de prisão. Ontem, na delegacia, Cristian conversou com o irmão Marco, o mais velho. "Foi um momento de loucura", disse a ele.


Colaboraram ALESSANDRO SILVA e DAGUITO RODRIGUES, da Reportagem Local, e LUIZ CARLOS MURAUSKAS, repórter-fotográfico

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