São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2006

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Juízas são investigadas por suposta ligação com o PCC

Corregedoria Geral de Justiça apura denúncias contra 2 magistradas de Mauá

Investigação tinha foco em uma rede de lavagem de dinheiro da facção criminosa em 44 postos de gasolina e em revendedoras de carros

Ari Paleta/"Diário do Grande ABC"
Fachada de posto que teria sido usado para lavagem de dinheiro


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo, órgão responsável pela fiscalização das ações dos magistrados do Estado, investiga a ligação de duas juízas de Mauá (ABC), Maria Eugênia Pires e Ida Inês Del Cid, com várias pessoas suspeitas de manter uma rede de lavagem de dinheiro em favor da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
A denúncia de que as magistradas de Mauá têm ligação com os integrantes da facção foi feita pelo empresário Douglas Martins do Prado ao Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Santo André (ABC).
Prado acusou a juíza Maria Eugênia Pires de favorecer Gildásio Siqueira Santos numa ação de reintegração de posse sobre uma casa de R$ 250 mil em Mauá. Santos, segundo a Dise (Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes) de Santo André, é apontado como testa-de-ferro do PCC na região do ABC paulista.
Santos é acusado de ser um dos representantes de Wilson Roberto Cuba, integrante da facção criminosa e que, teoricamente, está isolado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP), mas foi grampeado, com autorização judicial, várias vezes nos últimos meses usando telefone celular dentro do presídio.
Um dos supostos aliados de Santos no esquema para fortalecer o PCC junto ao Poder Judiciário de Mauá também investigado pela polícia é Sidnei Garcia, vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Mauá e dono de duas revendedoras de carros e de quatro postos de gasolina que, segundo a polícia, estão em nomes de laranjas. Garcia também teve algumas ligações grampeadas pela polícia.
Em várias delas, Garcia trata a juíza Ida Inês Del Cid, responsável durante tempos pela Justiça Eleitoral em Mauá, como "My Love" e recebe de volta, sempre em tom de intimidade, um "palhaço". Mesmo com atuação em Mauá, a juíza também concedeu, num plantão e em Santo André, liberdade a um homem preso em flagrante por porte ilegal de arma e que seria segurança de Garcia em uma loja de carros dele. Foi nessa mesma loja, que estaria em nome de "laranjas", que 22 veículos foram apreendidos recentemente.

O "sintonia"
Outra pessoa acusada de representar o PCC no ABC é Felipe Geremais dos Santos, apontado como "sintonia" (espécie de gerente) da facção na região e responsável por ajudar na administração dos 44 postos de gasolina nos quais o dinheiro vindo do crime é lavado. Ao todo, 38 pessoas, 44 contas bancárias (que movimentam cerca de R$ 500 mil por mês, em média) foram investigadas.
"O dinheiro arrecadado em crimes como tráfico, roubo e seqüestro é direcionado para Rabugento [Cuba] que, através de um sintonia [Felipe Alemão], aplica nas diversas modalidades mercantis. Para tanto, este convocou pessoas que administram os estabelecimentos comerciais. Escolheram postos de combustível, pois a movimentação em moeda corrente é alta, além de ser possível aumentar os lucros através da mercancia de substâncias adulteradas", relatou o delegado Marcelo Fortunato ao juiz Celso Maziteli Neto, da 4ª Vara Criminal, que, em novembro, negou a prisão dos suspeitos de ligação com o PCC.
Depois de ter recebido a denúncia do empresário Prado contra as duas juízas, o Gaerco de Santo André a enviou ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, que, por sua vez, repassou tudo à Corregedoria do Tribunal de Justiça.


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