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SAÚDE/DIAGNÓSTICOS
Médicos alertam para uso excessivo de tomografias
Técnica de diagnóstico expõe pacientes à radiação até 250 vezes maior que radiografia
Atendimento rápido e desconfiança dos pacientes favorecem a realização de muitos testes no Brasil, segundo especialistas
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A tomografia computadorizada, exame muito aceito por
médicos e pacientes e que revolucionou o diagnóstico radiológico com imagens "fatiadas" e
em três dimensões, pode representar uma crescente fonte de
exposição à radiação para pacientes se feita seguidamente
ou sem a real necessidade.
O alerta foi feito por pesquisadores da Universidade de Columbia (EUA) e publicado na
revista "New England Journal
of Medicine". Analisando dados sobre tomografias naquele
país, eles concluíram que um
terço não eram necessárias e
que poderiam ser substituídas
por exames sem radiação, como a ultra-sonografia e a ressonância magnética.
Segundo eles, quando possível, outros métodos devem ser
usados pois a tomografia tem
uma quantidade de radiação
que varia entre 50 e 250 vezes a
da radiografia convencional, e a
exposição a grandes quantidades de raios-X pode favorecer o
aparecimento de câncer.
Com tabelas comparando a
radiação recebida por pessoas
após ataques com bombas atômicas, já que exames com esse
material não são autorizados
em humanos, o estudo mostrou
que a radiação de uma tomografia de abdômen aos 15 anos
de idade, por exemplo, está associada a risco de morte por
câncer no sistema digestivo de
0,05%. "O risco é pequeno, mas
multiplicado pelo número de
exames realizados dá um número substancial de pessoas",
diz Ricardo Caponero, da Associação Brasileira de Câncer.
Segundo ele, no Brasil, a tendência de se usar a tomografia
sem os critérios necessários
também é uma realidade. "Ela
deveria ser um complemento
do diagnóstico, mas acaba servindo para detectar doenças
que poderiam ser descobertas
apenas pelo exame do médico."
Ele afirma que contribui o fato de médicos realizarem atendimentos rápidos, principalmente na rede pública, o que
faz com que "a tomografia seja
um fator de segurança."
Os pacientes também se sentem mais seguros com as imagens, segundo ele, e "tem paciente que acha que o médico
não indica por economizar dinheiro do seguro".
A segurança no diagnóstico
foi o motivo que trouxe a agricultora Cirene Noronha Dutra,
86, de Londrina (PR) a São
Paulo. Ela faz tratamento de
um câncer no abdômen no
Hospital Sírio Libanês e conta
que o geriatra que a tratava no
Paraná dizia que ela estava com
depressão e não pedia exames.
"Está sendo uma benção este
tratamento. Não estou sentindo mais dores e espero logo poder voltar a acompanhar de
perto os trabalhos em meu sítio em Maringá", disse ela que
faz quimioterapia e já passou
por duas tomografias.
Marcos Menezes, coordenador médico do Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Sírio-Libanês, diz que a tomografia é muito positiva
quando bem empregada, mas
não quando indicada sem
orientação. Ele, que é também
diretor do Serviço de Radiologia de Emergência do Hospital
das Clínicas, diz que nos dois
hospitais há um "link" entre o
radiologista e o médico, "o que
é importante para evitar tomografias sem necessidade."
No HC, são feitas 2.000 tomografias por mês e 900 ultra-sonografias. Já no Sírio, são
3.200 tomografias e 4.000 ultra-sonografias, o que mostra
que esta técnica muita usada
em grávidas também é bem difundida no Brasil e que há médicos capacitados para fazê-la.
Menezes discorda, contudo,
da validade da comparação da
radiação recebida em tomografias e após bombas atômicas.
"Não dá para comparar porque,
no primeiro caso, ela é dividida
entre os exames, e, no segundo,
recebida de uma só vez.
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