São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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SAÚDE/DIAGNÓSTICOS

Médicos alertam para uso excessivo de tomografias

Técnica de diagnóstico expõe pacientes à radiação até 250 vezes maior que radiografia

Atendimento rápido e desconfiança dos pacientes favorecem a realização de muitos testes no Brasil, segundo especialistas

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tomografia computadorizada, exame muito aceito por médicos e pacientes e que revolucionou o diagnóstico radiológico com imagens "fatiadas" e em três dimensões, pode representar uma crescente fonte de exposição à radiação para pacientes se feita seguidamente ou sem a real necessidade.
O alerta foi feito por pesquisadores da Universidade de Columbia (EUA) e publicado na revista "New England Journal of Medicine". Analisando dados sobre tomografias naquele país, eles concluíram que um terço não eram necessárias e que poderiam ser substituídas por exames sem radiação, como a ultra-sonografia e a ressonância magnética.
Segundo eles, quando possível, outros métodos devem ser usados pois a tomografia tem uma quantidade de radiação que varia entre 50 e 250 vezes a da radiografia convencional, e a exposição a grandes quantidades de raios-X pode favorecer o aparecimento de câncer.
Com tabelas comparando a radiação recebida por pessoas após ataques com bombas atômicas, já que exames com esse material não são autorizados em humanos, o estudo mostrou que a radiação de uma tomografia de abdômen aos 15 anos de idade, por exemplo, está associada a risco de morte por câncer no sistema digestivo de 0,05%. "O risco é pequeno, mas multiplicado pelo número de exames realizados dá um número substancial de pessoas", diz Ricardo Caponero, da Associação Brasileira de Câncer.
Segundo ele, no Brasil, a tendência de se usar a tomografia sem os critérios necessários também é uma realidade. "Ela deveria ser um complemento do diagnóstico, mas acaba servindo para detectar doenças que poderiam ser descobertas apenas pelo exame do médico."
Ele afirma que contribui o fato de médicos realizarem atendimentos rápidos, principalmente na rede pública, o que faz com que "a tomografia seja um fator de segurança."
Os pacientes também se sentem mais seguros com as imagens, segundo ele, e "tem paciente que acha que o médico não indica por economizar dinheiro do seguro".
A segurança no diagnóstico foi o motivo que trouxe a agricultora Cirene Noronha Dutra, 86, de Londrina (PR) a São Paulo. Ela faz tratamento de um câncer no abdômen no Hospital Sírio Libanês e conta que o geriatra que a tratava no Paraná dizia que ela estava com depressão e não pedia exames.
"Está sendo uma benção este tratamento. Não estou sentindo mais dores e espero logo poder voltar a acompanhar de perto os trabalhos em meu sítio em Maringá", disse ela que faz quimioterapia e já passou por duas tomografias.
Marcos Menezes, coordenador médico do Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Sírio-Libanês, diz que a tomografia é muito positiva quando bem empregada, mas não quando indicada sem orientação. Ele, que é também diretor do Serviço de Radiologia de Emergência do Hospital das Clínicas, diz que nos dois hospitais há um "link" entre o radiologista e o médico, "o que é importante para evitar tomografias sem necessidade."
No HC, são feitas 2.000 tomografias por mês e 900 ultra-sonografias. Já no Sírio, são 3.200 tomografias e 4.000 ultra-sonografias, o que mostra que esta técnica muita usada em grávidas também é bem difundida no Brasil e que há médicos capacitados para fazê-la.
Menezes discorda, contudo, da validade da comparação da radiação recebida em tomografias e após bombas atômicas. "Não dá para comparar porque, no primeiro caso, ela é dividida entre os exames, e, no segundo, recebida de uma só vez.


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